Rachel Seaman. Fotos: Canadian Olympic Committee e R. Seaman Montagem: O Marchador |
É uma das grandes figuras do atletismo do Canadá e a mais extraordinária marchadora feminina do grande país da América do Norte. Rachel Seaman já se considera uma ex-marchadora, depois de ter posto ponto final numa longa carreira desportiva com duas décadas de extensão.
Ao divulgar nas redes sociais, esta quarta-feira, a decisão de abandonar a prática da marcha atlética, Rachel Seaman afirmou ter precisado de nove meses para assumi-la plenamente. «Poderão perguntar por que razão não aguento mais uns meses para ir aos Jogos Olímpicos, mas, sinceramente, já não me apetecia treinar nem mais um dia. Já lá vão quase dois meses desde que marchei pela última vez e sinto-me bem com essa decisão. Não sinto falta do treino diário (por enquanto) mas tenho saudades de quando adorava treinar», esclareceu.
O «The Peterborough Examiner» adianta na edição de 28 de abril que a decisão de deixar a prática da marcha foi comunicada pela atleta à federação de atletismo do Canadá no dia 22 de abril. Entrevistada por este jornal de Peterborough, a sua cidade natal, Rachel Seaman garante não ter sido fácil afastar-se de uma actividade a que se dedicou a vida inteira.
O jornal acrescenta que, com as roturas sofridas nos isquiotibiais das duas pernas, que inviabilizaram a presença nos Jogos do Rio de 2016, nunca mais conseguiu retomar o nível de forma anterior. Afastou-se durante dois anos para recuperar física e psicologicamente e também para ter a segunda filha, mas o regresso em 2019 não deixou a canadiana motivada.
«Parecia que estava a recomeçar do zero», afirmou. «Foi difícil, já não tinha o mesmo entusiasmo. Nos últimos três anos não senti o mesmo gosto de antigamente», explicou, acrescentando que, «ao mesmo tempo, queria voltar a ser seleccionada para os Jogos Olímpicos. Após o que aconteceu em 2016, foi isso que me motivou para continuar».
Só que, depois, surgiu nova contrariedade, com o adiamento dos Jogos de Tóquio por causa da pandemia de covid-19. Nova paragem no processo de treino e, de novo, a desmotivação. Ao longo do ano anterior ao adiamento dos Jogos, cada treino já constituía uma batalha interior entre o desejo de continuar e a vontade de desistir.
De início até achou que a passagem dos Jogos para 2021 trazia algum alívio, por lhe dar mais tempo para retomar a forma de 2016. Mas depois pensou: «Caramba, mais um ano? Se eu já estava desesperada para que passassem aqueles poucos meses, como poderia suportar mais um ano inteiro?»
É no regresso à nota publicada nas redes sociais que pode encontrar-se a resposta a estas perguntas. «Comecei a ser dominada pela ideia de fazer outras coisas na vida. A competição já não me motivava como antes.» O desejo de ter uma vida familiar normal, ajudando o marido, Tim, na gestão de uma empresa de construção e criando as filhas Isabella, de oito anos, e Blaise, de três, estava a empurrar Rachel para longe das pistas quando retomou os treinos, em dezembro passado. Mas... já não dava para muito mais.
Rachel Seaman abandona a vida competitiva com 11 recordes nacionais do Canadá, nove vitórias em campeonatos nacionais e a presença em duas edições dos Jogos Olímpicos (Pequim-2008 e Londres-2012), que teriam sido três se não fossem as lesões graves que sofreu em 2016.
«Competi em 30 países e foi nessas viagens que conheci o meu marido. Vivo agora em San Diego. A marcha mudou a minha vida por completo.»
Resta agora saber quando é que as saudades vão começar a bater à porta.