quinta-feira, 30 de abril de 2020

Viajando pelos Grandes Prémios de Marcha: Urgeiriça

Registos promocionais dos eventos em 1980 e 1985 na Urgeiriça.
Imagens: arquivo «O Marchador»
O Grande Prémio de Marcha Atlética da Urgeiriça disputou-se durante 16 anos e foi uma competição que, além de ter sido pioneira enquanto certame exclusivo da especialidade, constituiu um sinal de estímulo para o aparecimento de organizações semelhantes em diferentes regiões de Portugal.

A Urgeiriça é uma localidade da freguesia de Canas de Senhorim, concelho de Nelas, distrito de Viseu, conhecida pelas minas de urânio, que estiveram em funcionamento desde 1913 até 2011. E foi pela Casa do Pessoal da Empresa Nacional de Urânio (Minas da Urgeiriça) que a iniciativa foi posta em prática.

Carlos Albano Eduardo era funcionário administrativo da empresa. Ele e outros colegas tomaram conhecimento da realização do Grande Prémio de Marcha Atlética do distrito de Viseu, por iniciativa do desportista visiense José Alves Madeira. A prova foi inserida nas comemorações do Primeiro de Dezembro de 1974 e juntou centenas de atletas, divididos pelos vários escalões etários. Considerada a primeira prova da especialidade realizada em Portugal, a prova foi vencida por Carlos Albano. Com João Marques ficou a ideia de a implementarem na Urgeiriça. Sempre com grande sucesso.

A prova nasceu em 1976, nos dois primeiros anos realizada na distância de 10 km, com a vitória de Carlos Albano, considerado o melhor marchador português de então, e de 1978 a 1991, último ano de realização, integrou no programa a distância olímpica dos 20 km, já com a participação de atletas do sexo feminino, se bem que em distâncias mais reduzidas. Também neste período temporal o evento foi aberto a atletas de outros escalões etários.

O primeiro recorde nacional dos 20 km marcha masculinos foi estabelecido na Urgeiriça por Luís Dias, em 1978, batido pelo mesmo atleta, e por margem substancial, na edição de 1979. Em 1980, Paulo Alves destaca-se de entre todos os marchadores portugueses batendo por duas vezes o recorde nacional na distância, em março, no Restelo, e em abril, na Urgeiriça. José Pinto, a partir de 1982, sucedeu-os no reinado da disciplina com a queda de uma série de recordes nacionais, o quarto dos dez obtidos na vila da Urgeiriça, em 1983. Os outros recordistas nacionais foram: José Urbano (quatro vezes), Sérgio Vieira (uma vez) e João Vieira (três vezes), o atual detentor do recorde de Portugal, fixado em 2006.

No plano feminino, Evelina Fernando, que foi a marchadora mais destacada nos primeiros anos de implementação da marcha atlética em Portugal - seguir-se-ia um período de domínio de Paula Gracioso -, venceu o emblemático evento da Beira Alta por três vezes, de forma consecutiva.

Para a história do Grande Prémio da Urgeiriça fica o registo dos nomes dos vencedores absolutos nas principais provas:

1976: Carlos Albano (CP Minas Urgeiriça);
1977: Carlos Albano (CP Minas Urgeiriça);
1978: Luís Dias (SL Benfica) e Evelina Fernando (CF Santa Iria);
1979: Luís Dias (SL Benfica) e Evelina Fernando (CF Santa Iria);
1980: Paulo Alves (CF Santa Iria) e Evelina Fernando (CF Santa Iria);
1981: José Pinto (CF Belenenses) e Paula Gracioso (CCD Olivais Sul);
1982: Francisco Reis (CF Santa Iria) e Idalina Reis (CCD Olivais Sul);
1983: José Pinto (CF Belenenses) e Paula Gracioso (CCD Olivais Sul);
1984: José Pinto (CF Belenenses) e Fátima Batuca (AD Oeiras);
1985: José Pinto (CF Belenenses) e Paula Gracioso (C Oriental Lisboa);
1986: José Pinto (CF Belenenses) e Filomena Silva (CCD Olivais Sul);
1987: José Urbano (CCD Olivais Sul) e Paula Gracioso (C Oriental Lisboa);
1988: José Urbano (SL Benfica) e Ana Bela Aires (SL Benfica);
1989: José Urbano (SL Benfica) e Ana Bela Aires (SL Benfica);
1990: José Pinto (CF Belenenses) e Filomena Silva (CF Belenenses);
1991: José Pinto (CF Belenenses) e Laurinda Ferreira (CP Mangualde).

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Ana Cabecinha faz hoje 36 anos

Ana Cabecinha. Foto: Global Imagens/Sul Informação
Montagem: O Marchador
Ana Cabecinha cumpre hoje 36 primaveras, motivo pelo qual a equipa de “O Marchador” assinalando a data neste espaço, envia-lhe os PARABÉNS!

Recordista nacional dos 20 km marcha com a marca de 1:27:46, tempo estabelecido nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 21 de agosto de 2008, a atleta do Clube Oriental de Pechão, que é orientada tecnicamente por Paulo Murta desde a ocasião em que ingressou no Clube Oriental de Pechão, aos 11 anos de idade, possui ainda mais 19 marcas abaixo da casa da um hora e trinta minutos.

Muito consistente ao mais alto nível internacional - nos últimos 10 anos e na grande maioria dos eventos internacionais em que participou, classificou-se numa das oito primeiras posições - o seu registo classificativo é, no entanto, muito elucidativo se se tiver em conta o que foi a sua participação nos Jogos Olímpicos a que acudiu: Pequim 2008: 8.º lugar; Londres 2012: 7.º lugar; Rio de Janeiro 2016: 6.º lugar.

À beira de um lugar no pódio dos Campeonatos Mundiais de Atletismo de Pequim, em 2015 (4.ª classificada a apenas 16 segundos da terceira), a atleta algarvia, se considerarmos as outras edições dos mundiais em que participou, também se revelou em excelente plano: foi 5.ª em 2011, 7.ª em 2013 e 6.ª em 2017. Conquistou medalhas individuais nos Europeus de Sub-20, em 2003 (bronze), nos Ibero-americanos de 2004 (prata), de 2006 e 2010 (ambas de ouro) e na Taça da Europa de Marcha de 2017 (bronze).

terça-feira, 28 de abril de 2020

5.000 m Marcha masculinos em pista coberta (2020)

João Vieira competindo em recinto coberto.
Foto: António Sousa Photography
João Vieira, do Sporting Clube de Portugal, com 19.38,98 nos 5.000 metros marcha, marca obtida em Pombal (29/2) poucos dias depois de completar 44 anos de idade e de, uma vez mais, se sagrar campeão de Portugal, é o líder bem destacado da encerrada temporada de pista coberta em 2020.

Se bem que aquém do seu recorde pessoal de 2007, então na pista de Espinho, com 19.04,74, a marca de 2020 é a única abaixo dos 20 minutos e supera a obtida pelo próprio no ano anterior (19.47,38).

Nas segunda e terceira posições do corrente ano posicionam-se Rui Coelho, do Centro de Atletismo de Seia, com um recorde pessoal 20.54,00 conseguido na fase de apuramento de clubes (2/2) em Pombal (foi vice-campeão de Portugal com 20.55,10), e Miguel Rodrigues, do Sport Lisboa e Benfica, com 21.01,80 na Final da I divisão (2.º clas.) em Braga (22/2).

A média de marcas dos 3 primeiros foi de 20.31,59, não superando a média de 2019, de 20:06.55. O mesmo acontece com a média dos 10 primeiros atletas, sendo três deles da categoria sub-18, com 21.30,70, pior que em 2019 (21.17,74).

48 atletas tiveram oportunidade de competir na referida distância em recinto coberto, com o escalão de veteranos a ter o maior número, com 14. O menor número de atletas aconteceu no escalão sub-20, com apenas 4.

10 melhores portugueses em 2020
1.º, João Vieira, 44 anos (Sporting CP), 19:38.98 - Pombal, 29/2
2.º, Rui Coelho, 25 anos (CA Seia), 20:54.00 - Pombal, 2/2
3.º, Miguel Rodrigues, 23 anos (SL Benfica), 21:01.80 - Braga, 22/2
4.º, Paulo Martins, 21 anos (Sporting CP), 21:02.78 - Pombal, 1/2
5.º, Pedro Isidro, 34 anos (SL Benfica), 21:38.94 - Pombal, 1/2
6.º, Pedro Dias, 16 anos (CO Pechão), 21:41.35 - Pombal, 15/2
7.º, Filipe Loureiro, 16 anos (CF Oliveira Douro), 21:43.91 - Braga, 19/1
8.º, Tiago Ramos, 16 anos (CA Tunes), 22:27.68 - Pombal, 1/2
9.º, Cristiano António, 31 anos (CA Seia), 22:28.16 - Pombal, 29/2
10.º, Rúben Santos, 19 anos (Sporting CP), 22:29.36 - Braga, 7/3
(...)

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Evocando Evelina Fernando, marchadora pioneira

Evelina Fernando, a competir em 1981 e na atualidade.
Fotos: arquivo «O Marchador» e facebook da própria
Foi uma das atletas pioneiras da marcha atlética em Portugal, ressurgida em 1974/1975, e a que manteve maior regularidade competitiva que se prolongou até aos anos 80 do século passado, participando em provas de pista e estrada que então, sob o impulso de Aires Denis, tinham lugar em Santa Iria de Azóia, Póvoa de Santa Iria, Alhandra, Vialonga e Vila Franca de Xira.

Maria Evelina Caeiro Fernando, assim é o seu nome completo, começou, ainda no escalão de iniciados, por participar nas iniciativas levadas a efeito pela Comissão Dinamizadora de Marcha Atlética de Santa Iria de Azóia e, depois, integrada na equipa de atletismo do Clube Futebol Santa Iria, onde o senhor Sardinha, um dos apaixonados pela marcha no clube, orientava os muitos jovens que lhe apareciam com vontade de praticar a disciplina.

Evelina tinha por companheira de equipa a Isaura Tavares, que a acompanhava a várias provas. Irmã do José Tavares, este era outro dos bons especialistas que a modalidade formou, igualmente representando o clube e que participou, entre outras provas, nos primeiros campeonatos nacionais de 50 km marcha, em 1985. Naqueles tempos, o CF Santa Iria possuía uma numerosa e excelente equipa de marchadores com alguns deles a conquistarem o direito de representar a seleção nacional (certo que poucas eram as oportunidades) em importantes eventos internacionais, casos de Paulo Alves e Francisco Reis.

Em 1977 a atleta de Santa Iria haveria de bater recordes nacionais em distâncias que passaram a ser realizadas com regularidade: a 2 de abril daquele ano o dos 5.000 metros marcha, disputados no Jamor, Estádio Nacional, que era pertença de Isabel Fernandes (SL Benfica), desde 30-10-1976, e a 15 de junho de 1980, o dos 3.000 metros marcha, que Paula Machado (AD Oeiras), havia estabelecido em 01-04-1979, um e outro agora na posse de Susana Feitor.

A propósito do primeiro evento de marcha atlética, realizado em pista ao ar livre - a maioria tinha lugar no Estádio Nacional mas alguns outros disputaram-se na extinta pista de tartan do campo secundário do Benfica ou na pista de cinza do Estádio do Restelo, transcrevemos um excerto das palavras do saudoso jornalista Sequeira Andrade:

“… Mas vale a pena evocar, através de nomes e resultados, o que foi a primeira prova de marcha em pista. Aconteceu a 25 de julho de 1976, no Estádio Nacional. Os 5000 metros foram ganhos pelo super entusiasta beirão Carlos Albano (Minas da Urgeiriça) em 26.21,4 e atrás dele os juniores Luís Dias (26.21,6) e José Pinto (26.31,8). Na sexta posição o iniciado santa-iriense Paulo Alves, que viria a notabilizar-se também. E ao mesmo clube de Santa Iria pertenceram as duas concorrentes que alinharam para a distância de 1200 metros, Maria Evelina (7.17,2) e Isaura Tavares (7.38,4).”

domingo, 26 de abril de 2020

Matej Tóth e estes tempos de confinamento...

Matej Tóth em imagem de vídeo da Federação de Atletismo
da Eslováquia  e em ilustração de Viliam Slaminka no projeto
Svetlo pod Perinou. Montagem: O Marchador
Num recente trabalho produzido no site da World Athletics, o atleta eslovaco Matej Tóth, campeão olímpico dos 50 km marcha nos Jogos do Rio de Janeiro 2016, aborda a sua situação no que se refere à planificação do treino e às suas perspetivas com vista à defesa do título nos próximos Jogos Olímpicos, entretanto adiados por um ano devido à pandemia da covid-19.

Para Tóth, agora com 37 anos de idade, os seus planos, tais como os de muitos outros atletas, tiveram de ser revistos pois preparara-se afincadamente, com a realização de dois estágios, um em Dullstroom, na África do Sul (em altitude), e outro em Tenerife, Espanha, para um dos objetivos imediatos - competir no seu país natal nos famosos 50 km de Dudince, que iriam ter lugar em março deste ano e que, entretanto, foi suspenso, de resto tal como muitos outros por esse mundo fora, o que o deixou muito desapontado pois sentia-se num ótimo apuro de forma.

Com os Jogos marcados para 2021, o atleta eslovaco coloca algumas dúvidas se conseguirá suportar mais uma adequada preparação de inverno, ele que atravessou um período conturbado devido a arreliadoras lesões que fizeram com que não pudesse concluir uma prova há 18 meses, mas entende que a saúde está em primeiro lugar.

A viver em Banská Bystrica, o simpático Tóth, que é o atleta mais medalhado pelo seu país nos maiores eventos internacionais e o mais prestigiado desportista eslovaco da atualidade, passa agora o seu tempo gerindo o confinamento imposto pelas autoridades sanitárias do seu país, umas vezes treinando-se em casa com recurso aos equipamentos que possui, outras na zona florestal próxima de si, numa marcha sempre solitária e sem a ajuda do fisioterapeuta ou do seu treinador, que reside longe dele. Com o fecho das instalações desportivas o panorama, obviamente, não é o mais animador.

Tentando manter-se o mais possível positivo, Tóth vai apoiando as suas duas filhas, Nina, de 10 anos, e Emma, de 12, nas matérias de estudo pois as escolas encontram-se encerradas, tal como no nosso país. Interrompidos os longos períodos que passava fora de casa, sente-se feliz por poder partilhar bons momentos com a família. Em casa, com a sua esposa, Lenka, partilha com ela os seus dotes culinários, realizando ainda trabalhos domésticas e de jardinagem.

sábado, 25 de abril de 2020

Apoteose mexicana na Taça do Mundo de Marcha em Monterrey 1993

Em Monterrey, México, Carlos Mercenario, prestes a triunfar
nos 50 km, e o início dos 20 km, com Daniel García (dorsal 98),
o vencedor. Fotos: arquivo «O Marchador»
27 anos depois, recordamos a Taça do Mundo de Marcha em Monterrey, no Estado de Nuevo León, disputada no fim de semana 24/25 de abril de 1993, evento que glorificou a seleção masculina do México, com vitórias individuais e por equipas nos 20 km e 50 km, e no global destas duas provas designado como «Lugano Trophy».

Foram mais de 300 atletas de 36 países que tomaram parte neste importante evento mundial, com as marcas alcançadas a ficarem condicionadas pela elevada temperatura, que chegou aos 30 graus Celsius, uma humidade entre os 60 e 70%, numa cidade com cerca de 600 metros de altitude.

A prova de 10 km senhoras, pelas 15.30 horas de sábado (24) foi a primeira do programa, com 98 participantes, e levada de vencida pela chinesa Wang Yan, com 45.10, seguida da finlandesa Sari Essayah, com 45.18, e da russa Yelena Nikolayeva, com 45.22. Susana Feitor, com 18 anos de idade, seria oitava classificada. Coletivamente, o triunfo da «Eschborn Cup» pertenceu à Itália (Ileana Salvador, Annarita Sidoti, Elisabeta Perrone, Cristina Pellino e Erika Alfridi), com 196 pontos, seguida da China, com 193 pontos, e da Rússia, com 193 pontos. O México foi 7.º classificado e Portugal estreou-se no evento com o 11.º lugar entre 24 equipas (ver peça própria, aqui).

O ambiente estava agora ao rubro para os 20 km homens, com 107 atletas a alinharem na partida e a culminar com a vitória do mexicano Daniel García, com 1.24.26. O espanhol Valentin Massana concluiria na segunda posição com 1.24.32, e cinco segundos depois entrava na terceira posição outro mexicano, Alberto Cruz, com 1.24.37. Coletivamente, o México venceu com 265 pontos (D.Garcia, A. Cruz, Ignacio Zamudio, Jose Sanchez e Ruben Aricado), a Itália foi segunda, com 244 pontos, e a Espanha terceira. Com 240 pontos.

Chegados ao domingo (25/4), logo pelas 7 horas da manhã, era dada a partida dos 50 km masculinos, com 100 participantes. Numa prova muito emotiva e com diferentes líderes, aos 45 km o mexicano Carlos Mercenario já marchava destacado para a vitória, terminando em apoteose, com, 5.50.28, e uma vantagem de 2 minutos e 16 segundos. No segundo lugar entra o espanhol Jesus Angel García, com 3.52.44, e no terceiro, em dificuldade, o mexicano German Sanchez, com 3.54.15, vendo o seu compatriota Miguel Rodríguez terminar apenas 7 segundos depois (3.54.22). Coletivamente, vitória natural do México, com 275 pontos (C. Mercenario, G. Sanchez, M. Rodríguez, Martín Bermude e Miguel Solis). Espanha e França preenchem o pódio coletivo, com 251 e 245 pontos, respetivamente.

O Troféu Lugano (20km + 50 km masculinos) seria erguido em ambiente triunfal pela seleção do México, somando 540 pontos. Nas segunda e terceira posições do pódio subiram a Espanha (491 pontos) e a Itália (487 pontos). Foram 30 os países participantes no setor masculino. Portugal ficou de fora pela polémica e questionável decisão da Federação Portuguesa de Atletismo em não se fazer representar.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Em 1982 José Pinto abria novos caminhos para a marcha em Portugal

José Pinto no Grande Prémio de Beja e ainda, numa homenagem
do CPMA, Hélder Madeira, Carlos Albano, Hélder Oliveira e
Joaquim Casaca, o organizador do evento.
Fotos: arquivo «O Marchador»
A 24 de Abril de 1982, um acontecimento desportivo marcaria uma trajetória ímpar para a marcha atlética em Portugal, protagonizada por um marchador. Competindo em Beja, durante o II Grande Prémio Planície Dourada, organizado pelo Pax Julia, José Pinto venceu a prova de 20 km marcha com 1.28.50 h, marca que não apenas constituía novo recorde nacional mas também conferia mínimos para os Campeonatos Europeus de Atletismo, a realizar nesse Verão em Atenas.

Num circuito que, de todo, não era fácil, o atleta do Belenenses assinaria um feito histórico da marcha em Portugal tornando-se o primeiro português a conseguir mínimos para uma grande competição internacional, onde seria 14.º, numa prova que teve outro grande protagonista, o algarvio Hélder Oliveira, a representar o Sporting Clube Olhanense, que o acompanhou durante toda a prova e ficou a escassíssimos dois segundos (a duas passadas) dos mínimos (1:29:00) exigidos pela Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) para participar nos Europeus.

Foi com muita insistência que a FPA anuiu à proposta da Comissão Nacional de Marcha a que se estabelecessem uns mínimos que servissem de referência e estímulo para os marchadores portugueses mas bater a marca então fixada era considerada tarefa quase impossível. O recorde nacional, antes de 1982, estava na posse de Paulo Alves com o tempo de 1:34:05, estabelecido na Urgeiriça, em 1980.

Mas José Pinto, naquele ano de 1982, reafirma as pretensões de alcançar o estatuto de atleta internacional. Bate sucessivos recordes das diferentes distâncias em que compete, com especial relevância para os 20 km: em Alenquer, a 21 de fevereiro, vence com 1:30:40 e, no Estádio do Restelo, a 28 de março, ganha com 1.30:17.

A propósito, relembramos um trecho da entrevista concedida por José Pinto ao boletim “O Marchador”, em 1997, em que nos recordou esse fantástico feito no decisivo momento da prova:

“ Nessa altura havia cá em Portugal um grande prémio internacional, o único, que era o Planície Dourada, organizado pelo Pax-Julia, um clube de Beja. Vieram cá atletas com boas marcas… Esteve o Hélder Oliveira, que também fez uma grande marca. Reuniu-se um conjunto de bons atletas e com a moldura humana que envolveu a prova estavam criadas as condições para se realizarem as marcas que se conseguiram realizar nessa altura. Fiz 1.28.50 h.

À entrada para a última volta, eu e o Hélder estávamos atrasados em relação aos mínimos. Tínhamos de fazer quatro minutos e pouco no último quilómetro, o que na altura era andar muito. Eu disse então ao Hélder que não valia a pena esforçarmo-nos porque era impossível fazer o último quilómetro tão rápido. E ele disse (lembro-me perfeitamente): «Não, senhor, vamos fazer os mínimos!» E tomou a iniciativa, acelerou muito mais o ritmo, eu persegui-o. A cerca de 300 metros da meta, disseram-nos que estávamos muito perto de conseguir os mínimos, reuni as últimas forças e dei mais um esticão. Distanciei-me um pouco do Hélder, que acabou por ficar a dois segundos dos mínimos “

O Grande Prémio Planície Dourada foi uma muito arrojada iniciativa das gentes de Beja e, aqui, aproveitamos o ensejo para homenagear igualmente o obreiro da iniciativa, Joaquim Casaca, que foi presidente da Associação de Atletismo de Beja. O evento nasceu em 1981, com vitória de José Pinto num emotivo despique com o espanhol Luis Bueno, o primeiro atleta estrangeiro a participar em provas em solo português, e terminou com a edição de 1983, aqui já com sérias dificuldades, principalmente de natureza económica.

A marca de José Pinto, como a de Hélder Oliveira, foi para a época considerada nos meios atléticos como sensacional, tendo a foto do atleta do Belenenses feito a capa da edição de Junho de 1982 da revista «Atletismo Português», publicada pela FPA, cujo diretor era o presidente de então, Eng. Correia da Cunha, e o Chefe de Redação da revista era Luís Lopes e que, a dado passo, escreveu: “Ele é fruto de um trabalho individual e de uma dedicação coletiva do grupo da marcha, que, no nosso país, tem mostrado uma unidade que calharia bem aos outros setores do nosso atletismo”.

José Pinto viria a ser, em 1983, o primeiro marchador português a participar nuns Mundiais de Atletismo, em Helsínquia, e em 1984, em Los Angeles, o primeiro português na especialidade a tomar parte nuns Jogos Olímpicos, classificando-se em oitavo lugar na prova dos 50 km marcha, sendo motivo de grande destaque na imprensa escrita e falada da época.

Como curiosidade, num grande prémio participado por 96 atletas de 17 clubes, os primeiros 10 da classificação dos 20 km masculinos foi a seguinte:

1.º, José Pinto (CF Belenenses), 1.28.50
2.º, Hélder Oliveira (SC Olhanense), 1.29.02
3.º, Josep Vinuesa (Espanha), 1.31.50
4.º, Eduardo Amorós (Espanha), 1.34.10
5.º, Martín Barrera (Espanha), 1.36.51
6.º, Carlos Albano (CPM Urgeiriça), 1.37.15
7.º, Paulo Alves (CF Santa Iria), 1.37.45
8.º, Manuel Piteira (CF Belenenses), 1.39.30
9.º, Paulo Vieira (CF Belenenses), 1.42.26
10.º, José Tavares (CF Santa Iria), 1.46.57
(...)
Participaram 29 atletas

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Faleceu Hartwig Gauder

Hartwig Gauder. Fotos: Sven Simon/MDR e Jacob Schröter/Bild
O campeão olímpico Hartwig Gauder, nascido em Vaihingen an der Enz, Baden-Württemberg, perto de Estugarda, na Alemanha, faleceu no dia de ontem, aos 65 anos de idade, vítima de ataque cardíaco.

Foi um atleta de excecional craveira técnica. Conquistou o título olímpico nos 50 km marcha dos Jogos de Moscovo, em 1980. Oitos anos depois, nos Jogos de Seúl, ganha a medalha de bronze, ainda na mesma distância e com um recorde pessoal de 3:39:45. Com uma brilhante carreira que cedo se começou a evidenciar com a medalha de ouro nos Europeus de Juniores, em 1973, Gauder conquistaria outros títulos, nomeadamente, nos Europeus de Estugarda, em 1986, e nos Mundiais de Roma, em 1987.

Em 30 de janeiro de 1997, após uma infeção bacteriana, teve necessidade de se submeter a uma operação onde recebeu a doação de um coração. Usando a sua popularidade, juntou-se a várias campanhas na consciencialização para a prática do desporto como meio saudável, nomeadamente, as caminhadas. Foi autor de vários livros e recebeu várias homenagens, entre as quais vendo o seu nome inscrito no “Hall of Fame”, a par de outros desportistas de eleição, tais como o tenista Boris Beckler ou Michael Schumacher, piloto de Fórmula 1.

Nos últimos meses os seus rins falharam e passava várias horas por semana em sessões de diálise estando à espera da possibilidade de ser transplantado.

A 29 de setembro de 2012, neste blogue, homenageámos Hartwig Gauder, cuja peça pode ser consultada aqui.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

AAL faz desaparecer dos resultados a campeã de 5 km sub-18 (estrada)

Catarina Torres no pódio dos Campeonatos de Lisboa de 5 km
sub-18 (Lisboa, 4/01/2020). Foto: facebook da própria
Montagem: O Marchador
Como se comprova pela imagem do pódio (ao lado), a sportinguista Catarina Torres sagrou-se campeã de Lisboa de 5 km marcha em estrada, na categoria de sub-18, quando do Campeonato Regional conjunto de Lisboa e Setúbal de Marcha Atlética em Estrada «Troféu Aires Denis» disputado no Estádio Universitário de Lisboa (4 de Janeiro de 2020), tendo sido ainda a primeira atleta absoluta a cortar a meta na referida distância, também destinada a veteranos.

Decorridos mais de três meses da realização dos campeonatos, e apesar de alertas vários junto da Associação de Atletismo de Lisboa (AAL), esta teima em não produzir a devida correção nos resultados, conforme se pode verificar na consulta do «site» efetuada hoje. Para quando a reposição da verdade desportiva?

É caso para dizer que o «slogan» da AAL «A criar campeões» não se aplica neste caso e por culpa própria.

Com a omissão existente, verifica-se ainda estarem erradas 22 das 23 marcas atribuídas nos resultados a atletas de Lisboa e de Setúbal nas provas de 5 km (sub-18 e veteranos, masculinos e femininos).

terça-feira, 21 de abril de 2020

O que calçam os marchadores?

Montagem: O Marchador
Longe vão os tempos em que as grandes marcas de calçado desportivo criavam modelos específicos para os praticantes de marcha atlética. Na década de 80 do século passado, a Tiger (Asics) e a Adidas produziram sapatos que tiveram grande sucesso entre os marchadores, sendo usados por grande parte dos melhores especialistas mundiais da modalidade.

Foi com uns Tiger TTW302 (na imagem, em baixo à esquerda) que o italiano Maurizio Damilano se sagrou campeão do mundo dos 20 km em Roma-1987, título que repetiria quatro anos depois, em Tóquio, mas com sapatos diferentes. Tratava-se de um modelo que tinha vindo substituir uns primeiros Tiger de marcha caracterizados por terem uma espécie de salto.

Três anos antes, em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, os mexicanos Ernesto Canto e Raúl González venceram respectivamente os 20 km e os 50 km marcha calçando uns Adidas Race Walk na versão azul-escura (na imagem, em baixo à direita, em versão azul-clara). Aliás, na prova dos 20 km, todos os três medalhados calçavam esse modelo de sapatos: Canto, González e Damilano.

Tanto a Tiger / Asics como a Adidas criaram depois outras versões desses modelos iniciais, mas pouco tempo durou a «teimosia» da criação de sapatos específicos de marcha atlética. Em Espanha e em Itália, a Joma e a Diadora tentaram seguir o exemplo daquelas duas marcas pioneiras no calçado dos marchadores, mas pelos vistos o mercado não deu retorno às empresas produtoras e a dinâmica parece ter-se perdido.

Nos anos mais recentes, os praticantes de marcha atlética têm-se servido de sapatos de corrida para a prática da sua especialidade, normalmente optando por modelos leves e baixos.

Quando em Sydney-2000 o polaco Robert Korzeniowski se sagrou pela segunda de três vezes campeão olímpico dos 50 km, calçava uns Reebok que constituíam um desenvolvimento do modelo usado quatro anos antes, em Atlanta, pela russa Elena Nikolaeva ao vencer os 10 km femininos dos Jogos da XXVI Olimpíada. O par de sapatos de Korzeniowski, devidamente autografado, faz hoje parte da colecção do Museu Olímpico de Lausana, que o mostra na exposição de longa duração. A Reebok foi uma marca que pouco tempo depois veio a entrar em dificuldades financeiras, acabando comprada pela Adidas, actual proprietária da marca, à qual atribuiu novo logótipo.

Entre as marcas e modelos mais populares nos tempos actuais e que têm sido opções de muitos marchadores um pouco por todo o mundo, podem considerar-se as doze que se indica de seguida (mostradas por ordem na imagem, da esquerda para a direita e de cima para baixo): Adidas Adizero Adios, Asics Gel-DS Racer, Brooks Hyperion, Diadora Mythos Racer Evo, Joma Marathon, Mizuno Wave Ekiden, New Balance Fresh Foam, Newfeel RW 900 Race (caso raro de marca que produz sapatos específicos para marcha atlética), Nike Zoom Speed Racer, Puma Speed, Saucony Type A9 e Skechers GOmeb Speed 3.

Se existir alguma característica comum a estes modelos será o facto de serem em cada marca os modelos menos aparatosos, isto é, são sapatos mais baixos (pelo menos na maior parte dos casos).

No entanto, há quem prefira outros modelos destas e de outras marcas, por vezes escolhendo sapatos mais robustos, com apoio mais espesso e calcanheira reforçada. Altra, Li-Ning e Pearl Izumi são outras marcas em que recentemente também têm vindo a apostar alguns atletas.

Os dados mencionados neste texto são meramente informativos, não tendo qualquer objectivo comercial ou promocional.

Actualizado em 22/4/2020, às 17h20, com nota sobre a produção de sapatos de marcha pela Newfeel.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Evocando Peter Marlow no dia do seu aniversário

O aniversariante Peter Marlow, a integrar a equipa de juízes de
marcha nos mundiais de Paris-2013. Fotos: BuryFreePress
e arquivo «O Marchador»
Peter Marlow celebra hoje 79 anos de vida, motivo pelo qual a equipa de “O Marchador” endereça-lhe os PARABÉNS, desejando-lhe muita saúde.

Quase toda a sua vida desportiva tem sido pautada pela dedicação à marcha atlética, tendo desempenhado as mais diversas funções em organismos internacionais. Enquanto atleta competiu na prova dos 20 km marcha dos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, sagrando-se, em 1974, campeão britânico nos 10 e 20 km marcha.

Além de relevantes funções desempenhadas em órgãos desportivos britânicos, Peter Marlow foi membro da Comissão de Marcha da Associação Europeia de Atletismo (EA) tendo em 1996 assumido a presidência deste organismo, cargo que exerceu durante vários anos. Foi ainda membro do Comité de Competições da EA.

Em 1976 integrou pela primeira vez o Comité de Marcha da hoje designada World Athletics (ex-IAAF), cargo que viria a desempenhar durante mais de 40 anos. Em 2015 a Associação Europeia de Atletismo distinguiu-o com a PLACA DE MÉRITO, reconhecendo o seu valioso trabalho prestado no dirigismo internacional e especialmente no âmbito da marcha atlética.

Peter Marlow esteve envolvido na formação e certificação de juízes internacionais de marcha, quer no âmbito europeu, nas ações promovidas pela Associação Europeia de Atletismo, quer no âmbito da World Athletics em que integrou a equipa de formadores e examinadores, a última realizada em Londres, em novembro de 2018, e que determinou a constituição do atual painel de especialistas. Foi autor do Manual do Ajuizamento, lançado em 1977 com a denominação de “IAAF Race Walking Judging Handbook”.

Enquanto juiz internacional de marcha o currículo é notável. Foi Juiz-chefe nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992 e Atenas 2004, nos Mundiais de Atletismo de 1991, 1993, 2001 e 2003, nos Europeus de Atletismo de 1994, 1998 e 2002 e nos Jogos da Commonwealth de 1986, 1994 e 1998. Na qualidade de Juiz de Marcha, Juiz-chefe de Marcha ou Delegado Técnico o número de atuações em eventos internacionais chega às quase duas centenas.

domingo, 19 de abril de 2020

Recordando a Taça do Mundo de Marcha de Podebrady, em 1997

Memórias fotográficas de Podebrady 1997.
Fotos: arquivo «O Marchador»
19 de abril de 1997. A primeira das duas jornadas da décima oitava edição da Taça do Mundo de Marcha. Em Podebrady, na República Checa, cidade com uma larguíssima tradição na marcha atlética. Ainda no século XIX, no ano de 1894, dois anos antes da realização dos primeiros Jogos Olímpicos, a cidade acolheu a chegada dos participantes da prova dos 50 km marcha que tivera Praga como ponto de partida.

No dia de hoje, data em que passam 23 anos sobre a realização daquela exemplar edição da Taça do Mundo de Marcha, que assinalava também o 100.º aniversário da fundação da Federação de Atletismo do país, recordamos, em jeito de homenagem, algumas passagens fotográficas do evento.

Nos 20 km marcha masculinos, o equatoriano Jefferson Pérez, considerado um dos melhores marchadores mundiais de todos os tempos (na foto, no lugar mais alto do pódio) ganhara com um excecional tempo de 1:18:24 – um ano antes sagrou-se campeão olímpico - numa prova onde os seis primeiros realizaram marcas abaixo da uma hora e vinte minutos. Daniel García (México) foi segundo e Ilya Markov, terceiro, e o melhor português, Sérgio Vieira, estabelecia um novo recorde nacional com 1:20:58.

Nos 50 km marcha masculinos, o espanhol Jesús Ángel García vencera com o magnífico tempo de 3:39:54, o melhor registo pessoal. Na foto, o momento que antecedeu a partida dos 50 km e onde se veem os portugueses Luís Ribeiro, na segunda das três edições da Taça do Mundo em que tomou parte, José Pinto (meio encoberto), que assinalaria em Podebrady a sua derradeira prova em representação da seleção nacional, numa carreira internacional que se iniciara em 1982, nos Europeus de Atenas, José Magalhães, na sua quarta participação em seis Taças do Mundo, e Virgílio Soares, na sua segunda presença (de três) no evento.

Na outra foto veem-se José Dias (à esquerda), dirigente que chefiou a delegação portuguesa, e Luís Dias (à direita), então o treinador nacional de marcha, ladeando quatro dos juízes internacionais de marcha que tomaram parte no evento: Yaping Zhao (China), Doo An Chun (Coreia do Sul), Khoo Chong Beng (Malásia) e Joseph Ochieng (Quénia).

Concluímos com o registo fotográfico de duas das grandes figuras do atletismo mundial, convidados de honra do evento, no momento dos cumprimentos que antecederam a receção oficial que tivera lugar no sumptuoso salão nobre da Câmara Municipal de Podebrady:

Emil Zátopek, conhecido como a “locomotiva humana”, sagrou-se em 1952, nos Jogos de Helsínquia, campeão olímpico nos 5.000m, 10.000m e na maratona. Nascido na então Checoslováquia, hoje no território que daria lugar à República Checa, já havia conquistado, quatro anos antes, nos Jogos de Londres, a medalha de ouro nos 10.000m. Na sua brilhante carreira desportiva alcançou 15 recordes mundiais.

Primo Nebiolo, nascido em Turim (Itália), foi o dirigente que marcou o atletismo mundial dos tempos modernos, revolucionando por completo a modalidade. Em 1961 foi eleito presidente da Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU). Em 1969 tornou-se presidente da Federação Italiana de Atletismo (FIDAL), cargo que exerceu até 1989. Em 1972 integrou o Conselho Executivo da IAAF e em 1981 foi eleito presidente deste organismo, sucedendo ao holandês Adrian Paulen, cargo que exerceria até à sua morte, ocorrida em 7 de novembro de 1999.

Sobre a participação portuguesa no evento recordamos aqui.

sábado, 18 de abril de 2020

Colorir Jefferson Pérez no Athletics@Home - Kids

Imagem: World Athletics. Montagem: O Marchador
Neste difícil período de confinamento em casa, a World Athletics (WA) lançou no seu «site» um projeto de atividades várias [aqui] entre as quais um destinado a crianças e que visa colorir estrelas do Atletismo.

A página da marcha atlética para colorir [aqui] contempla a figura do equatoriano Jefferson Pérez, detentor da marca de 1:17:21 nos 20 km, ele que foi campeão olímpico em 1996 (Atlanta) e campeão mundial em 2003 (Paris), 2005 (Helsínquia) e 2007 (Osaka).

Outros atletas já lançados em desenho para colorir são a belga Nafi Thiam (heptatlo), a norte-americana Allyson Felix (200 m e 400 m), o queniano Eliud Kipchoge (maratona), o chinês Liu Xiang (110 m barreiras) e a australiana Cathy Freeman (400 m).

As ilustrações deste interessante e didático projeto da WA são da autoria de Christel Saneh.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Jovens portugueses no Grande Prémio de Hospitalet - 1983

Jovens portugueses e espanhóis: Raúl Francisco (401), Paulo Revêz
(407), Jose Serna (429), Jorge Esteves, Daniel Plaza, e Santiago
Serna  (430). Em cima, a frente da prova vencida por Ricardo Pueyo,
identificando-se ainda Olegario Regidor (dorsal 438).
Fotomontagem: O Marchador
A 17 de abril de 1983 tinha lugar em L’Hospitalet, na Província de Barcelona, Espanha, a 15.ª edição do Grande Prémio Internacional de Marcha, evento que durou três décadas, desfrutando de grande prestígio internacional e excelentemente organizado pela Câmara Municipal de L’Hospitalet de Llobregat.

Hoje, recordamos, especialmente, a participação dos jovens marchadores portugueses no setor masculino, facto que marcaria a estreia no escalão de juvenis (sub-18) em eventos fora do território nacional desde que a disciplina fora integrada no panorama do atletismo nacional, na época de 1974/75.

Jorge Esteves, do Clube de Futebol “Os Belenenses”, Raúl Francisco, do Centro de Cultura e Desporto de Olivais Sul, e Paulo Revês, do Desportivo da Juventude Aljustrelense, eram na época dos mais destacados jovens na disciplina. O atleta do clube do Restelo ganhou ainda maior notoriedade com os títulos nacionais obtidos nos campeonatos Sub-18 e Sub-20 de 1981, 1982 e 1983.

Eles participaram em Hospitalet na prova de 5 quilómetros, destinada ao escalão de juvenis, todos superando as expetativas nesse marcante evento. Jorge Esteves viria mesmo a obter um dos melhores resultados (5.º lugar) de entre os atletas portugueses, a maioria da região de Lisboa, que se deslocaram numa carrinha cedida pela Associação de Atletismo de Lisboa (na ocasião a FPA não se mostrou disponível no apoio), num longo trajeto (ida e volta) de dois mil e quatrocentos quilómetros, conduzida por Ferreira Gonçalves, membro da Direção. A AAL apoiava, de facto, marcha atlética e albergava no seio seio um departamento da disciplina.

Ainda sobre a prova que aqueles jovens da época tomaram parte, há a referir a vitória de Ricardo Pueyo, que viria a ser medalha de bronze nos mundiais de sub-20 em Atenas 1986, o segundo lugar de Olegario Regidor e a completar o pódio o catalão Daniel Plaza, que em 1990 conquistaria a medalha de prata nos 20 km marcha dos Campeonatos Europeus de Split, em 1992 a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona, e em 1993 a medalha de ouro nos Mundiais de Estugarda.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Na primeira participação de sportinguistas em Campeonatos de Clubes

Foto: arquivo «O Marchador»
Hoje aqui recordamos um momento da prova de 5.000 metros marcha masculinos, incluída no programa dos Campeonatos Nacionais de Clubes de Atletismo da I Divisão de 1986, disputados na pista do Estádio Nacional, no Jamor, concelho de Oeiras. O Sporting Clube de Portugal, apesar de possuir uma excelente equipa de meio-fundo, composta por Fernando Mamede, Ezequiel Canário, Carlos Capítulo e os gémeos Castro, não possuía verdadeiros especialistas na marcha, tendo tido necessidade de recorrer aos seus dedicados veteranos: Armando Aldegalega e Vítor Barata.

Armando Aldegalega, hoje com 82 anos de idade, foi um corredor de créditos firmados, especializando-se em provas da maratona onde ganhou vários títulos nacionais. Representou Portugal em inúmeras competições, destacando-se a presença nos Jogos Olímpicos de 1964 (Tóquio) e 1972 (Munique) sendo, nesta edição, o porta-estandarte da bandeira portuguesa. Ganhou muitas medalhas em eventos internacionais de veteranos e foi galardoado pelo Governo com a Medalha de Mérito Desportivo.

Vítor Barata, hoje com 81 anos, era um assíduo participante em provas de marcha atlética. Uma das suas filhas – Carla Silva, destacou-se nos escalões mais jovens. Funcionário da Direção-Geral de Desportos, generosamente voluntariava-se para transportar os atletas de diversos clubes da região de Lisboa no autocarro que era cedido gratuitamente pela DGD às competições disputadas fora da capital, entre as quais o Grande Prémio da Urgeiriça, no distrito de Viseu, uma das mais emblemáticas nos anos 80.

Naqueles campeonatos da I Divisão, com dois atletas por equipa, tiveram assento o Sport Lisboa e Benfica (José Urbano e Paulo Pires), o Sporting Clube de Portugal (Armando Aldegalega e Vítor Barata), o Clube de Futebol “Os Belenenses” (Jorge Esteves e João Rodrigues) e o Boavista Futebol Clube (Branco Lima).

Em 1985, por proposta do Setor de Marcha da Federação Portuguesa de Atletismo, era aprovada a introdução da disciplina da marcha no programa dos Campeonatos Nacionais de Clubes em pista ao ar livre, seis anos depois de se começarem a dar os primeiros passos para a sua inclusão nos diversos Campeonatos de Portugal de Pista, nos vários escalões etários.

A FPA reconhecia, assim, aos marchadores portugueses condições de igualdade de oportunidades em relação aos especialistas das restantes disciplinas atléticas. Era uma via de contributo para o desenvolvimento do atletismo em Portugal e que também pelo desenvolvimento da marcha passava o progresso da modalidade no seu todo.

Inúmeros exemplos poderiam ser dados de casos em que os nacionais de clubes permitiram o aparecimento de novos valores e o apoio e consolidação de anteriores revelações. José Pinto, com o 8.º lugar nos 50 km marcha dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, deu um claro sinal aos dirigentes da marcha atlética de então que mereceria a pena apostar no planeamento de um caminho que levasse a especialidade a outros patamares de desenvolvimento. Com perseverança. A marcha no Campeonato de Clubes foi um deles.

Depois é o que se sabe. Seguiram-se as medalhas ganhas na marcha para o atletismo português em grandes eventos internacionais. Num ciclo que abriu com a medalha de ouro de Susana Feitor no Campeonato do Mundo de Juniores, em Plovid 1990, e que fechou, por agora, com a medalha de prata alcançada por João Vieira no Campeonato do Mundo de Pista, em Doha 2019.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Evocando Ryta Turava, ainda recordista dos 20 km marcha da Bielorrússia

Ryta Turava, nos Campeonatos da Europa em Gotemburgo 2016
e na atualidade. Fotos: fb Ryta Turava e Jeff Haynes/Getty Images
Montagem: O Marchador
No dia 15 de abril de 2006, decorridos que estão 14 anos, a marchadora bielorrussa Ryta Turava estabelecia na cidade de Nesvizh, na região de Minsk, um novo recorde do seu país nos 20 km marcha, que ainda vigora, com a marca de 1:26:11, na ocasião, e ainda hoje, um dos melhores registos mundiais de sempre.

Turava nasceu a 28 de dezembro de 1980 em Dubrovno, no distrito de Vitebsk, e cedo mostrou na escola aptidões em vários desportos tendo, mais tarde, optado pela prática do atletismo, na vertente da corrida juntamente com a sua irmã, Alesya, um ano mais velha.

Influenciada para experimentar a marcha atlética por uma colega de treino e mais tarde inspirada pelo feito conseguido pela russa Irina Stankina ao sagrar-se campeã do mundo absoluta em Gotemburgo 1995 com apenas 18 anos de idade, passou a treinar com os rapazes, vindo a integrar a Escola de Reserva Olímpica de Minsk, com significativa melhoria nos resultados obtidos.

Em 1998, no seu primeiro ano de sub-20 (júnior), foi sexta classificada no mundial da categoria em Annecy (5.000 m, 22:06.06), atingindo o pódio (bronze) no europeu de Riga 1999 (5.000 m, 21:48.11). Em 2001, registou 20:37.73 nos 5.000 metros na pista coberta de Minsk, e em julho desse ano conquistou a medalha de prata no europeu da categoria sub-23 em Amesterdão, com 1:30:15 nos 20 km, evento em que a sua irmã se sagrou campeã europeia nos 1.500 metros.

O que parecia ser uma carreira em ascensão de uma jovem atleta viria a sofrer um revés com a decisão da atleta em regressar à corrida, referindo mesmo que não mais voltaria à marcha atlética. Confessava que gostava era da corrida, que estava cansada pela rotina dos treinos e também que a marcha era uma disciplina injusta pois dependia da opinião de juízes, testemunhando situações em que atletas marchavam em flexão e outros correndo onde não eram observados! Ela que sempre foi uma marchadora tecnicamente exemplar.

Nesse interregno, os resultados na corrida não foram os esperados e por insistência da sua irmã, e do marchador Ivan Trotskiy, Ryta anuiu a regressar à marcha atlética.

Em boa hora o fez, obtendo em 2004 o quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas (20 km, 1.29.39), seguindo-se excelentes desempenhos nos anos imediatos.

Em 2005 foi vice-campeã mundial em Helsínquia, com um recorde nacional de 1.27.05, atrás da russa Olimpiada Ivanova e à frente da portuguesa Susana Feitor, e nesse mesmo ano venceu o Challenge da IAAF.

Em 2006, no mês de agosto, sagrou-se campeã da Europa em Gotemburgo, com 1.27.08, abrindo 1 minuto e 27 segundos de diferença para a segunda classificada, a russa Olga Kaniskina. Em maio desse ano, e um mês depois do recorde nacional atrás referido (1:26:11 em Nesvizh) venceu a edição da Corunha da Taça do Mundo de Marcha, com 1:26:27, superando em 59 segundos a russa Ivanova.

Em 2007 venceu a Taça da Europa de Marcha em Leamington e apesar de não ter participado nos mundiais de Osaka acumulou pontos suficientes para voltar a ser primeira no Challenge da então IAAF. Uma dessas provas foi em Portugal, Rio Maior, onde venceu, o que já tinha acontecido em 2005, então com 1.27.19, marca que ainda constitui o recorde do evento.

Chegados ao ano olímpico de 2008, Turava restringiu o número de participações em provas internacionais, apontando especialmente para a Taça do Mundo de Cheboksary, onde viria a desistir depois dos 10 km, e aos Jogos de Pequim, onde esperava alcançar o pódio.

Como forma de se redimir do sucedido em Cheboksary e garantir a participação olímpica, tomou parte na etapa do Challenge da IAAF em Cracóvia, vencendo categoricamente com 1.28.33. Susana Feitor seria a segunda classificada (1:30:36) e Vera Santos a quinta (1:32:53).

Nos Jogos de Pequim, numa prova de 20 km dominada do início ao fim pela russa Kaniskina, Turava colocou-se no grupo perseguidor e assumiu a segunda posição isolada aos 16 km quando problemas estomacais levaram-na a paragens que resultaram num «apenas» décimo primeiro lugar final. Mais tarde seria posicionada no décimo lugar por desclassificação por dopagem da grega Athanasia Tsoumeleka, então nona classificada.

Os meses que se seguiram foram muito difíceis na recuperação de uma prolongada lesão, situação que a desmotivou levando-a a colocar um ponto final na carreira.

Ryta Turava, atualmente com 39 anos de idade, é Oficial do Exército na reserva, dedicando-se profissionalmente à sua paixão de sempre, a criação e treino de cães da raça Pastor-alemão, ocupação que lhe tem proporcionado a conquista de vários títulos em eventos internacionais dessa especialidade.

Quando se disputar o Campeonato do Mundo de Seleções de Marcha previsto este ano para Minsk, evento entretanto adiado, Ryta Turava será uma das convidadas de honra da Federação de Atletismo da Bielorrússia, ela que é uma importante figura mundial da marcha atlética.

Uma curiosidade: se transposta a sua carreira para os dias de hoje, Turava estaria na disposição de competir em 50 km? Nunca ... nada a faria motivar para isso!

O blogue «O Marchador» agradece a Ryta Turava a simpatia e disponibilidade no contato hoje estabelecido e que ajudou à composição da presente peça, endereçando votos de felicidades.

Colaboração: Kristina Saltanovic

Fonte: Mikhail Dubitski/IAAF ‘Focus on Athletes’