quarta-feira, 15 de abril de 2020

Evocando Ryta Turava, ainda recordista dos 20 km marcha da Bielorrússia

Ryta Turava, nos Campeonatos da Europa em Gotemburgo 2016
e na atualidade. Fotos: fb Ryta Turava e Jeff Haynes/Getty Images
Montagem: O Marchador
No dia 15 de abril de 2006, decorridos que estão 14 anos, a marchadora bielorrussa Ryta Turava estabelecia na cidade de Nesvizh, na região de Minsk, um novo recorde do seu país nos 20 km marcha, que ainda vigora, com a marca de 1:26:11, na ocasião, e ainda hoje, um dos melhores registos mundiais de sempre.

Turava nasceu a 28 de dezembro de 1980 em Dubrovno, no distrito de Vitebsk, e cedo mostrou na escola aptidões em vários desportos tendo, mais tarde, optado pela prática do atletismo, na vertente da corrida juntamente com a sua irmã, Alesya, um ano mais velha.

Influenciada para experimentar a marcha atlética por uma colega de treino e mais tarde inspirada pelo feito conseguido pela russa Irina Stankina ao sagrar-se campeã do mundo absoluta em Gotemburgo 1995 com apenas 18 anos de idade, passou a treinar com os rapazes, vindo a integrar a Escola de Reserva Olímpica de Minsk, com significativa melhoria nos resultados obtidos.

Em 1998, no seu primeiro ano de sub-20 (júnior), foi sexta classificada no mundial da categoria em Annecy (5.000 m, 22:06.06), atingindo o pódio (bronze) no europeu de Riga 1999 (5.000 m, 21:48.11). Em 2001, registou 20:37.73 nos 5.000 metros na pista coberta de Minsk, e em julho desse ano conquistou a medalha de prata no europeu da categoria sub-23 em Amesterdão, com 1:30:15 nos 20 km, evento em que a sua irmã se sagrou campeã europeia nos 1.500 metros.

O que parecia ser uma carreira em ascensão de uma jovem atleta viria a sofrer um revés com a decisão da atleta em regressar à corrida, referindo mesmo que não mais voltaria à marcha atlética. Confessava que gostava era da corrida, que estava cansada pela rotina dos treinos e também que a marcha era uma disciplina injusta pois dependia da opinião de juízes, testemunhando situações em que atletas marchavam em flexão e outros correndo onde não eram observados! Ela que sempre foi uma marchadora tecnicamente exemplar.

Nesse interregno, os resultados na corrida não foram os esperados e por insistência da sua irmã, e do marchador Ivan Trotskiy, Ryta anuiu a regressar à marcha atlética.

Em boa hora o fez, obtendo em 2004 o quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas (20 km, 1.29.39), seguindo-se excelentes desempenhos nos anos imediatos.

Em 2005 foi vice-campeã mundial em Helsínquia, com um recorde nacional de 1.27.05, atrás da russa Olimpiada Ivanova e à frente da portuguesa Susana Feitor, e nesse mesmo ano venceu o Challenge da IAAF.

Em 2006, no mês de agosto, sagrou-se campeã da Europa em Gotemburgo, com 1.27.08, abrindo 1 minuto e 27 segundos de diferença para a segunda classificada, a russa Olga Kaniskina. Em maio desse ano, e um mês depois do recorde nacional atrás referido (1:26:11 em Nesvizh) venceu a edição da Corunha da Taça do Mundo de Marcha, com 1:26:27, superando em 59 segundos a russa Ivanova.

Em 2007 venceu a Taça da Europa de Marcha em Leamington e apesar de não ter participado nos mundiais de Osaka acumulou pontos suficientes para voltar a ser primeira no Challenge da então IAAF. Uma dessas provas foi em Portugal, Rio Maior, onde venceu, o que já tinha acontecido em 2005, então com 1.27.19, marca que ainda constitui o recorde do evento.

Chegados ao ano olímpico de 2008, Turava restringiu o número de participações em provas internacionais, apontando especialmente para a Taça do Mundo de Cheboksary, onde viria a desistir depois dos 10 km, e aos Jogos de Pequim, onde esperava alcançar o pódio.

Como forma de se redimir do sucedido em Cheboksary e garantir a participação olímpica, tomou parte na etapa do Challenge da IAAF em Cracóvia, vencendo categoricamente com 1.28.33. Susana Feitor seria a segunda classificada (1:30:36) e Vera Santos a quinta (1:32:53).

Nos Jogos de Pequim, numa prova de 20 km dominada do início ao fim pela russa Kaniskina, Turava colocou-se no grupo perseguidor e assumiu a segunda posição isolada aos 16 km quando problemas estomacais levaram-na a paragens que resultaram num «apenas» décimo primeiro lugar final. Mais tarde seria posicionada no décimo lugar por desclassificação por dopagem da grega Athanasia Tsoumeleka, então nona classificada.

Os meses que se seguiram foram muito difíceis na recuperação de uma prolongada lesão, situação que a desmotivou levando-a a colocar um ponto final na carreira.

Ryta Turava, atualmente com 39 anos de idade, é Oficial do Exército na reserva, dedicando-se profissionalmente à sua paixão de sempre, a criação e treino de cães da raça Pastor-alemão, ocupação que lhe tem proporcionado a conquista de vários títulos em eventos internacionais dessa especialidade.

Quando se disputar o Campeonato do Mundo de Seleções de Marcha previsto este ano para Minsk, evento entretanto adiado, Ryta Turava será uma das convidadas de honra da Federação de Atletismo da Bielorrússia, ela que é uma importante figura mundial da marcha atlética.

Uma curiosidade: se transposta a sua carreira para os dias de hoje, Turava estaria na disposição de competir em 50 km? Nunca ... nada a faria motivar para isso!

O blogue «O Marchador» agradece a Ryta Turava a simpatia e disponibilidade no contato hoje estabelecido e que ajudou à composição da presente peça, endereçando votos de felicidades.

Colaboração: Kristina Saltanovic

Fonte: Mikhail Dubitski/IAAF ‘Focus on Athletes’