Foto: arquivo «O Marchador» |
Hoje aqui recordamos um momento da prova de 5.000 metros marcha masculinos, incluída no programa dos Campeonatos Nacionais de Clubes de Atletismo da I Divisão de 1986, disputados na pista do Estádio Nacional, no Jamor, concelho de Oeiras. O Sporting Clube de Portugal, apesar de possuir uma excelente equipa de meio-fundo, composta por Fernando Mamede, Ezequiel Canário, Carlos Capítulo e os gémeos Castro, não possuía verdadeiros especialistas na marcha, tendo tido necessidade de recorrer aos seus dedicados veteranos: Armando Aldegalega e Vítor Barata.
Armando Aldegalega, hoje com 82 anos de idade, foi um corredor de créditos firmados, especializando-se em provas da maratona onde ganhou vários títulos nacionais. Representou Portugal em inúmeras competições, destacando-se a presença nos Jogos Olímpicos de 1964 (Tóquio) e 1972 (Munique) sendo, nesta edição, o porta-estandarte da bandeira portuguesa. Ganhou muitas medalhas em eventos internacionais de veteranos e foi galardoado pelo Governo com a Medalha de Mérito Desportivo.
Vítor Barata, hoje com 81 anos, era um assíduo participante em provas de marcha atlética. Uma das suas filhas – Carla Silva, destacou-se nos escalões mais jovens. Funcionário da Direção-Geral de Desportos, generosamente voluntariava-se para transportar os atletas de diversos clubes da região de Lisboa no autocarro que era cedido gratuitamente pela DGD às competições disputadas fora da capital, entre as quais o Grande Prémio da Urgeiriça, no distrito de Viseu, uma das mais emblemáticas nos anos 80.
Naqueles campeonatos da I Divisão, com dois atletas por equipa, tiveram assento o Sport Lisboa e Benfica (José Urbano e Paulo Pires), o Sporting Clube de Portugal (Armando Aldegalega e Vítor Barata), o Clube de Futebol “Os Belenenses” (Jorge Esteves e João Rodrigues) e o Boavista Futebol Clube (Branco Lima).
Em 1985, por proposta do Setor de Marcha da Federação Portuguesa de Atletismo, era aprovada a introdução da disciplina da marcha no programa dos Campeonatos Nacionais de Clubes em pista ao ar livre, seis anos depois de se começarem a dar os primeiros passos para a sua inclusão nos diversos Campeonatos de Portugal de Pista, nos vários escalões etários.
A FPA reconhecia, assim, aos marchadores portugueses condições de igualdade de oportunidades em relação aos especialistas das restantes disciplinas atléticas. Era uma via de contributo para o desenvolvimento do atletismo em Portugal e que também pelo desenvolvimento da marcha passava o progresso da modalidade no seu todo.
Inúmeros exemplos poderiam ser dados de casos em que os nacionais de clubes permitiram o aparecimento de novos valores e o apoio e consolidação de anteriores revelações. José Pinto, com o 8.º lugar nos 50 km marcha dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, deu um claro sinal aos dirigentes da marcha atlética de então que mereceria a pena apostar no planeamento de um caminho que levasse a especialidade a outros patamares de desenvolvimento. Com perseverança. A marcha no Campeonato de Clubes foi um deles.
Depois é o que se sabe. Seguiram-se as medalhas ganhas na marcha para o atletismo português em grandes eventos internacionais. Num ciclo que abriu com a medalha de ouro de Susana Feitor no Campeonato do Mundo de Juniores, em Plovid 1990, e que fechou, por agora, com a medalha de prata alcançada por João Vieira no Campeonato do Mundo de Pista, em Doha 2019.