Foto: arquivo O Marchador. |
Foi entusiasmante a participação portuguesa na 18.ª edição da Taça do Mundo de Marcha que teve lugar em Podebrady, na República Checa, a cerca de 50 km de Praga. Desde logo, pelos fantásticos tempos produzidos nos 20 km marcha pelos gémeos João Vieira (1.20.58, 26.º) e Sérgio Vieira (1.20.59, 28.º) e ainda pela, não menos agradável, marca de José Urbano (1.22.40, 45.º), que catapultaram Portugal para a melhor classificação coletiva portuguesa de sempre, um excelente 7.º lugar.
Além dos já referidos atletas, completaram a equipa portuguesa nos 20 km, Augusto Cardoso (74.º) e Pedro Martins (84.º). Nos 50 km participaram José Magalhães, 30.º, Virgílio Soares, 60.º, José Pinto, 83.º, e Luís Ribeiro (desistiu). Nos 10 km femininos marcaram presença as habituais Sofia Avoila (52.ª), Isilda Gonçalves, 62.ª, e Lígia Gonçalves (86.ª), e Susana Feitor (desistiu).
Voltando, ainda, aos 20 km masculinos, refira-se que a prova teve tão elevado nível qualitativo que a Federação Internacional de Atletismo, num artigo recentemente divulgado por Paul Warburton, colocou a competição em 1.º lugar num conjunto selecionado de dez das de maior nível em 51 anos de Taças do Mundo. Recorde-se que Jefferson Pérez (Equador) venceu a prova, ele que um ano antes fora campeão olímpico. Atente-se também no “eterno” Jesús Ángel Garcia, que triunfou nos 50 km, em mais uma das suas habituais e espetaculares provas onde começa cautelosamente e pouco a pouco vai-se aproximando até alcançar a primeira posição. Na prova feminina de 10 km a russa Irina Stankina, da escola de Saransk, foi a primeira a cortar a meta.
A competição realizada num local de grandes tradições na marcha atlética, e que este ano volta a organizar mais uma edição, a 80.ª, do grande prémio local, atualmente integrada no circuito da Associação Europeia de Atletismo, ficou também marcada por um número recorde de países presentes, 47, num total de 355 atletas.
A seleção nacional foi então enquadrada tecnicamente por Luís Dias, técnico nacional de marcha, e ainda por Jorge Miguel. No apoio à condição física dos atletas seguiu com a comitiva o massagista António Martinho.
Para chefiar a delegação portuguesa foi indicado Sequeira Andrade, membro da Direção da FPA, dedicado estatístico e excelente jornalista especializado na área do atletismo. Entretanto, motivos de saúde impediram-no de acompanhar a comitiva, tendo sido substituído por José Dias. A propósito, na edição especial e impressa de “O Marchador”, de abril desse ano, Sequeira Andrade redigiu um precioso artigo sobre a evolução histórica da marcha atlética no nosso país e o momento então presente, do qual extraímos o seguinte excerto:
“Em minha opinião, a solidez da marcha atlética e a sua plena aceitação pela Federação Portuguesa de Atletismo devem-se, muito particularmente, ao labor incansável, ordenado e correctíssimo dos irmãos José e Luís Dias, que, por sua vez, congregaram à volta do interesse pela modalidade uma plêiade de voluntários entusiastas e conscientes, que vão de José Henriques (Centro de Atletismo das Galinheiras) a Jorge Miguel (Clube de Natação de Rio Maior), salteando uma série de nomes e personalidades bem certas entre esses dois ‘extremos’, cuja omissão não significa exclusão.”
Ficam na memória os bons momentos vividos em Podebrady ... assistimos a um cenário pouco habitual no nosso país com a queda de neve durante a competição ... o espírito fraternal entre os membros da comitiva ... a recepção aos oficiais e chefes de delegação no sumptuoso salão nobre da Câmara Municipal de Podebrady ... o momento solene em que Primo Nebiolo, presidente da federação internacional, entra na sala e logo cumprimenta, afetuosamente, Luís Dias ... a presença do lendário Emil Zátopek, então com 74 anos, triplo medalhado de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952 ...