Foto: Carlos Miranda. Montagem: O Marchador |
Monterrey, capital do estado de Nuevo León, no México, marcou a estreia da seleção feminina nas Taças do Mundo de Marcha e, por outro lado, a interrupção, infelizmente, da participação masculina, que se iniciara em 1987, em Nova Iorque.
O México recebia, pela primeira vez, a competição, numa justa homenagem aos seus heróis Daniel Bautista, Raúl González, este mesmo originário de Nuevo León, Carlos Mercenario, entre outros. O arquiteto, durante décadas, dos tremendos êxitos da marcha mexicana no mundo foi o polaco, mais tarde naturalizado mexicano, Jerzy Hausleber.
Portugal apresentou-se na prova de 10 km marcha com uma equipa completa, onde se destacou a grande “coqueluche” de então, Susana Feitor, que com apenas 18 anos (1.º ano de júnior), obteve um meritório 8.º lugar, As experientes gémeas do Montijo, Isilda (47.º) e Lígia Gonçalves (79.º), Sofia Avoila (75.º), outra atleta montijense, ainda juvenil, e a nortenha Lídia Santos (68.º), foram as restantes componentes da seleção, que se classificou no 11.º lugar entre 24 países. Foi um resultado francamente positivo, sem dúvida.
A delegação lusa, chefiada pelo dirigente federativo Carlos Miranda, foi enquadrada tecnicamente por Luís Dias, treinador nacional de marcha. O fisioterapeuta Abzar Nazarali prestou o apoio à equipa, tendo ainda acompanhado a delegação, a título particular, Paulo Alves e Jorge Miguel, bem como o jornalista João Paulo Diniz.
Os atletas mexicanos tiveram um papel de grande destaque, especialmente nas provas masculinas, com as vitórias de Daniel García, nos 20 km, de Carlos Mercenário, nos 50 km, tendo alcançado os títulos coletivos em ambas as competições. Na prova feminina, a vitória coube à chinesa Wang Yan, tendo a Itália conquistado o título coletivo. Note-se que a temperatura era muito elevada, chegando a rondar os 40 graus centígrados.
“A viagem foi longa e muito cansativa. Deslocámo-nos uma semana antes a fim de nos ambientarmos ao clima e ao fuso horário”, conta-nos Susana Feitor. “Lembro-me do ar quente e abafado à chegada a Monterrey, contrastando com a Primavera, em Lisboa. Recordo-me das ruas e casas dos arredores da cidade, muito pobres, a fazer-nos lembrar os bairros de lata mas em betão, em contraponto com a zona, muito bonita (a da prova), onde nos instalámos”.
“Todas as noites via e ouvia os Mariachis, da janela do meu quarto, que tocavam na rua ao lado do hotel, onde também havia uma feira de artesanato, na qual “perdia” horas a admirar os artefactos coloridos, feitos à mão pelos nativos. Fantástico!”
Mal soou o tiro de partida, Susana saiu disparada e comandou a prova, isolada, até quase aos 5 km, fruto da sua inexperiência, reconhece, para mais com um clima quente e húmido, acabando por ser alcançada pelos seus ídolos de juventude (Sari Essayah, Nikolaeva, entre outras...). Foi, no entanto, uma ótima competição, “ouvi muita gente a puxar por mim ‘vamos muchacha, vamos!’. Depois de cerrar os dentes... tenho na memória a sensação de me deliciar com o refrescamento cada vez que por lá passava... acabei num fantástico-sofredor 8.º lugar. E recordo-me o quão refrescante e delicioso foi ter bebido, depois de cortar a meta, coca-cola fresca, entregue pelas mãos de um atencioso voluntário”.
Susana refere-nos, ainda, o quão interessante foi a presença, na comitiva, do jornalista da rádio de Rio Maior João Paulo Dinis, hoje em funções na RTP Memória. “Via telefone portátil, pois, nessa altura, ainda não eram conhecidos os telemóveis, ele fazia reportagens diárias para Portugal e relatava, em direto, todas as provas com maior incidência na minha, já que as expetativas eram sempre grandes quando eu participava numa competição. Nunca se sabia bem que surpresa poderia acontecer depois da minha ‘saída’ no Mundial de 1990, como campeã mundial. Também por isso, a Câmara Municipal de Rio Maior e a rádio local patrocinaram a ida do meu treinador, Jorge Miguel.“