Fotos: arquivo O Marchador. |
A delegação portuguesa tem gratas recordações da sua estada na cidade californiana de San Jose, nos EUA, não apenas sob o ponto de vista competitivo, pelo menos para alguns dos atletas, mas, essencialmente, pela fantástica receção dos emigrantes à sua chegada, proporcionando momentos muito agradáveis nos dias em que por lá esteve.
Foram 345 os atletas participantes na 15.ª edição da Taça do Mundo de Marcha, em representação de 33 países. Venceram, nos 20 km, o russo Mikhail Shchennikov (o seu filho é hoje jogador de futebol no Spartak de Moscovo), nos 50 km, o mexicano Carlos Mercenário, hoje exercendo funções na federação mexicana de atletismo, e nos 10 km femininos, a russa Irina Strakhova. Coletivamente, a Itália triunfou no setor masculino e a Rússia no setor feminino.
A prova de 50 km foi marcada por um inusitado episódio. A uma volta do fim, um reduzido número de atletas comandava a competição, com Andrey Perlov (Rússia) à cabeça. O juiz-chefe, o americano Gary Westerfield, exibe-lhe a raqueta vermelha, sinal de que fora desclassificado (três faltas). Mas Perlov não se retira do percurso e prossegue para a derradeira volta, obrigando a que, desta vez, Westerfield corra literalmente atrás do russo e lhe mostre, de novo, e agora energicamente, a raqueta vermelha, obrigando-o a retirar-se da prova praticamente à chegada.
Para os marchadores portugueses, o facto mais notório foi a magnífica prestação de José Urbano que, com o tempo obtido nos 20 km (1.22.04), melhorou o seu próprio recorde nacional e se posicionou num excelente 13.º lugar. Urbano atravessava, então, um dos seus melhores momentos na sua carreira desportiva.
Antecipando a ida à Taça do Mundo, a seleção nacional estagiou em Grândola sob a orientação técnica de Luís Dias, treinador nacional de marcha, que acompanhou a equipa. A vila alentejana que serviu de mote ao tema cantado por José Afonso nas primeiras horas da revolução dos cravos, a 25 de Abril de 1974 “Grândola vila morena...” seria, durante largos anos, uma das referências competitivas mais importantes para os atletas portugueses com a realização anual de um prestigiado grande prémio, infelizmente terminado.
A representação lusa a San Jose, chefiada pelo dirigente federativo Fernando Boquinhas, integrando-a, igualmente, o fisioterapeuta Abzar Nazarali, foi constituída por José Urbano (13.º), Hélder Oliveira (48.º), Augusto Cardoso (49.º), e Mário Contreiras (65.º), nos 20 km, e José Magalhães (47.º), Carlos Graça (67.º), e José Pinto (desc.), nos 50 km.
Portugal teve um desempenho positivo conseguindo a melhor classificação de sempre, o 13.º lugar no conjunto das duas provas (11.º nos 20 km e 20.º nos 50 km), á frente de países como a China, os EUA e o Japão.
Hélder Oliveira, que hoje exerce funções desportivas na Câmara Municipal de Olhão, e desenvolve atividades dominicais no âmbito do programa do IDP “Marchas Algarve”, recorda-nos a sua experiência:
“Estava eu há quase dois anos parado quando me pediram que realizasse um estágio em Grândola. Fiz um ótimo teste de Grândola a Melides (15 km) que superou as minhas melhores expetativas. Ganhei um lugar na equipa. Chegados aos EUA fomos recebidos, com muito carinho, por um grupo de emigrantes, adeptos do Benfica. Foram inexcedíveis.
Lembro-me, especialmente, do almoço, oferecido por um diretor da Casa do Benfica em San Jose, num restaurante com vista para a ilha de Alcatraz, no meio da baía de São Francisco. Bem...até conduzi um jipe à americana, daqueles com super-rodas!
Desportivamente correu-me bem. Tendo em conta o número de treinos realizados, ser o segundo elemento da equipa foi ótimo. Apesar de ter abandonado a atividade mais cedo do que previa – o Sporting ficou a dever-me quase um ano de subsídios, guardo muitas e boas recordações dos tempos então vividos. Sempre que posso é um prazer rever os amigos!”