Erin Taylor-Talcott. Foto: Ken Stone, Times of San Diego |
Este domingo, em Roma, a prova dos
50 km marcha, competição integrada no Campeonato Mundial de Nações, constituirá
um marco histórico para o atletismo mundial porque, pela primeira vez, verá
igualado o conjunto de disciplinas entre homens e mulheres – 24 provas, numa
decisão da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
Em 2014, o escritório de advocacia
Winston Strawn, que representa a marchadora norte-americana Erin
Taylor-Talcott, em petição dirigida à USATF (Federação de Atletismo dos EUA),
solicitou a participação da atleta nos campeonatos norte-americanos de 50 km
marcha, antes exclusivamente abertos ao setor masculino, obtendo a anuência
daquele organismo. Também foi acordado junto da USATF a igualização dos prémios
monetários e a intervenção junto da IAAF, fazendo «lobby» pela participação das
mulheres em eventos internacionais da distância.
Em maio deste ano, Taylor-Talcott (e
mais outras quatro atletas), participou nos campeonatos norte-americanos e
obteve a marca mínima exigida para participar nos mundiais de marcha, com o
tempo de 4:44:26. Em 2011, nos «Trials» americanos para os Jogos Olímpicos de
Londres, tornou-se na primeira mulher a conseguir a marca exigida pela IAAF
para o efeito, com 4:33:23, o seu recorde pessoal, mas foi-lhe negada a participação
na prova tendo, no entanto, sido convidada a assistir à competição.
Com a decisão da IAAF em considerar
elegíveis os recordes mundiais femininos dos 50 km marcha, a partir de 1 de
novembro de 2015, a atleta norte-americana foi a primeira a inscrever o seu
nome na listagem, com a marca de 5:03:34, obtida em 22 de novembro de 2015, em
San Diego.
Em abril deste ano, fruto dos
esforços norte-americanos, o Conselho Executivo da IAAF autorizou a
participação de Taylor-Talcott nos mundiais de Roma, integrando a prova
masculina dos 50 km. Certamente que em futuros eventos internacionais,
nomeadamente nos próximos campeonatos mundiais de atletismo, em 2017, em
Londres, haverá a prova feminina, disputada separadamente.
Sebastian Coe, presidente da IAAF, foi um dos grandes defensores da ideia, congratulando-se com a mudança, que a vê como um dos últimos passos para a correção dos desequilíbrios passados, assegurando-se a igualdade de oportunidades competitivas entre homens e mulheres.
Sebastian Coe, presidente da IAAF, foi um dos grandes defensores da ideia, congratulando-se com a mudança, que a vê como um dos últimos passos para a correção dos desequilíbrios passados, assegurando-se a igualdade de oportunidades competitivas entre homens e mulheres.
Erin Taylor-Talcott, professora
universitária, nasceu a 21 de maio de 1978, em Portland, Oregon, residindo em
Nova Iorque. Depois de ter sido treinada durante 7 anos pelo australiano Jim Leppik, desde março do ano passado que se responsabiliza pelo seu próprio treino. É casada com Dave Talcott,
ex-marchador internacional.
Foi com grande satisfação que a
atleta acolheu a decisão de integrar a equipa norte-americana dos 50 km marcha.
Referiu-se ao facto como sendo um dos momentos mais marcantes da sua vida, algo
de absolutamente incrível, para o qual trabalhou e sonhou, persistindo contra
muitos dos que lhe diziam que tal nunca iria acontecer.
E porque é que a medida não foi
tomada mais cedo? À questão colocada por um jornalista do «Sunday Times»
respondeu que talvez tenha havido a crença de que as mulheres não estariam
aptas a fazer provas de resistência, mas, com a inclusão da maratona, da corrida
de obstáculos, entre outras provas, no programa feminino, ficou claro que a
inclusão da prova dos 50 km marcha seria apenas uma questão de tempo. Na
opinião de Taylor-Talcott, não existem problemas físicos que impeçam as
mulheres de competir na referida prova, acrescentando que estas tendem a ser
mais fortes em provas de resistência.
Sobre a prova de domingo, a única
mulher a participar nos 50 km afirmou que vai competir para, essencialmente,
desfrutar do momento, com muita emoção, e ao lado dos melhores do mundo. É algo
que, segundo Taylor, outras mulheres poderão fazer no futuro, tendo sido,
segundo ela, um enorme passo dado em defesa dos direitos das marchadoras de
todo o mundo.
Entre nós, não tardará o dia em que
marchadoras portuguesas competirão nos 50 km, também com objetivos de
participarem nos grandes eventos internacionais. E uma das que, neste contexto,
se poderá apresentar na linha de partida é Inês Henriques, atleta do Clube de
Natação de Rio Maior que, recentemente, manifestou publicamente a sua simpatia
face a tal possibilidade.