Nizhegorodov após terminar a prova de 50 km marcha dos Jogos Olímpicos de Atenas de 2004. Foto: AP |
O atleta russo Denis Nizhegorodov
está na iminência de perder a medalha de bronze que recebeu na sequência do
terceiro lugar nos 50 km marcha dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. O nome
de Nizhegorodov surge numa lista de pelo menos 14 casos russos de reanálise
positiva das amostras colhidas durante os Jogos de 2008 e que agora foram
sujeitas a nova prova com métodos e tecnologia mais desenvolvidos do que os
existentes há oito anos. A comunicação dos resultados positivos foi feita pelo
Comité Olímpico Internacional ao Comité Olímpico da Rússia.
Denis Nizhegorodov registou em
Pequim 3.40.14 h, classificando-se atrás do italiano Alex Schwazer (3.37.09) e
do australiano Jared Tallent (3.39.27), que o acompanharam no pódio olímpico,
ocupando os lugares mais altos. A confirmar-se, a reanálise agora realizada
deverá determinar a desclassificação do russo, passando o terceiro lugar da
prova para o espanhol Jesús García, que na capital chinesa terminara a prova na
quarta posição, com 3.44.08 h. Por sua vez, o português António Pereira, então
11.º classificado com 3.48.12 h, subirá ao décimo posto.
O resultado positivo de Denis
Nizhegorodov é um dos 14 casos russos e 31 no global que advêm da reanálise de
454 amostras colhidas nos Jogos de Pequim de 2008 e que foram conservadas para
posterior reanálise. O presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas
Bach, já anunciou que oportunamente serão objecto do mesmo procedimento 250
amostras colhidas nos Jogos de Londres de 2012.
Atleta orientado por Viktor Chyogin no
Centro Olímpico de Treino de Saransk, Denis Nizhegorodov era um dos poucos
marchadores russos com classificações de topo mundial no presente século que
ainda não tinham registado casos positivos de dopagem.
A estreia olímpica de Nizhegorodov
tinha acontecido nos 50 km marcha dos Jogos de Atenas de 2004, onde o mundo
assistiu quase horrorizado ao terrível final do russo: incapaz de acompanhar o
polaco Robert Korzeniowski na fase final, Nizhegorodov cumpriu o último
quilómetro e meio como uma espécie de zômbi, cambaleando, parecendo ir tombar a
qualquer momento. Acabaria por cair logo após cortar a meta no segundo lugar,
pálido, de olhos esbugalhados e sem força sequer para cumprimentar o
compatriota Aleksey Voyevodin, que cortaria a meta segundos depois, na terceira
posição.
Mais tarde, numa entrevista,
recordaria o episódio nos seguintes termos: «Não lembro nada desse último
quilómetro e meio. Absolutamente nada. Estava a marchar como se fosse uma
máquina. Não sentia dor nenhuma, não tinha qualquer sofrimento. Era como se
tivesse sido desligado.»
Quatro anos depois seria terceiro em
Pequim na mesma distância, classificação que agora se apresta a ser anulada.
Entretanto, no final da semana
passada, a Federação Russa de Atletismo anunciou ter alterado os critérios de
selecção para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, aprovando uma cláusula que
impede os atletas suspensos por dopagem nos últimos anos de integrar a missão
olímpica de 2016.