O brasileiro Caio Bonfim. Foto: IAAF-Getty Images |
Caio Bonfim obteve este domingo na prova dos 20 km
marcha dos campeonatos mundiais de atletismo, que decorrem na capital chinesa,
o melhor resultado de um atleta brasileiro na especialidade ao terminar a prova
na sexta posição, a apenas 2 segundos do chinês Zelin Cai, realizando o tempo
de 1.20.44, melhor marca do ano para o atleta de Brasília, e igualando a
classificação do seu compatriota Sérgio Galdino (1.23.31), em Estugarda, há 22
anos.
João Sena, pai e treinador de Caio Bonfim, e a sua
mãe, Gianetti Bonfim, antiga recordista e campeã (sete vezes) brasileira, que
consolidam a estrutura de apoio ao atleta nos treinos e competições, estão
orgulhosos e confiantes em prestações futuras do seu filho, lembrando que a aposta
maior visa a participação nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, não escondendo a
meta desejada, o pódio olímpico.
A propósito, e com a devida vénia, transcrevemos uma
peça publicada sobre Caio Bonfim no espaço informativo brasileiro “Entrevista
Atletismo”.
Pernas tortas, preconceito e dor: Caio sobrevive
para brilhar na marcha
Brasileiro supera problemas de saúde na infância,
discriminação no colégio e evolui fisicamente para conquistar resultado
histórico da prova de 20km em Pequim.
Talvez nenhum médico imaginasse que aquele menino de pernas
tortas pudesse se tornar um atleta. Provavelmente poucos entre os
preconceituosos que o ofendem diariamente durante os treinos nas ruas de
Sobradinho tenham alguma noção de seu potencial. ...E ainda mais raros eram os
cientes de que, neste domingo, o jovem atleta brasileiro poderia escrever um
capítulo histórico para a marcha atlética do país. As previsões e os
obstáculos, porém, não importam muito para Caio Bonfim. Ele é um sobrevivente e
está acostumado a superá-los. Desde a infância com saúde frágil à discriminação
que sofre pelas características do esporte que ama, o brasiliense encarou as
dificuldades como combustível para ir adiante. Superou bem mais que 20km no
calor de Pequim para chegar em sexto lugar no Mundial. Superou um mundo que
agora se abre para ele com perspectivas bastante animadoras para as Olimpíadas
de 2016.
Caio teve meningite com apenas sete meses de idade.
Teve duas graves pneumonias. Com intolerância à lactose, não ingeriu derivados
de leite em sua primeira infância. Sem receber uma suplementação adequada de
cálcio, os ossos de suas pernas não resistiram ao peso quando ele começou a
andar. Ficou com as perninhas arqueadas, tortas, até operá-las aos três anos. A
mãe, Gianetti Sena, jura que ele não chorou durante a recuperação. Até gemia
pelo incômodo, mas chorar, jamais.
- O Caio já nasceu predestinado. As crianças
normalmente nascem com o olhinho fechado, mas ele nasceu com o olhão aberto
para o mundo, falei “Eita, garoto, você vai render”. Quando as pernas
entortaram, ele ficou como um deficiente. Eu achava a coisa mais linda, mas
pensava “e se ele quiser ser atleta?”, porque a família inteira era envolvida
com esporte. Ele não chorou nenhum dia na recuperação. Foi forjado, preparado
desde muito novo para sofrer. O sofrimento para ele, resistência à dor... Faz
parte. Quando é desqualificado ele não se abate. É um guerreiro, nasceu para
isso.