Imagens: FPA e iStock. Montagem: O Marchador |
A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) divulgou em meados de Abril, na página oficial da instituição na Internet, uma notícia afirmando no título que a marcha passaria a estar incluída no circuito nacional de meetings de atletismo («Marcha incluída no Circuito de Meetings»). Se fosse verdade, teria interesse. No entanto, o título induz em erro e o próprio texto explica porquê.
Segundo aquela nota informativa refere logo na abertura, «para dar oportunidade aos atletas de marcha atlética, que não têm provas na grelha já divulgada no Circuito de Meetings, a Federação Portuguesa de Atletismo resolveu contar as prestações dos atletas em provas específicas do setor do calendário de 2023». Portanto, logo o primeiro parágrafo do texto desmente o título, ao reconhecer que os atletas da marcha «não têm provas na grelha já divulgada no Circuito de Meetings». E poderia até ter dito de forma clara que não têm nem vão passar a ter, ao contrário do que parece sugerir o referido título. O mesmo é dizer que ainda não é desta que os meetings de atletismo organizados em Portugal vão voltar a ter a marcha atlética nos respetivos programas, ao contrário do que sucedeu no passado, mesmo que numa quantidade de casos que nunca chegou a ser muito grande.
O que a FPA afinal afirma pretender em relação à marcha no circuito de meetings é que os atletas da disciplina possam ser pontuados no âmbito do referido circuito – não através de provas de marcha dos meetings (que, como se viu, não existem nem vão passar a existir) mas pelas provas dos campeonatos nacionais, Campeonatos de Portugal, Taça de Portugal e Grande Prémio Internacional de Rio Maior. Portanto, será nas provas de marcha já existentes no calendário oficial da FPA que os atletas marchadores poderão pontuar para o circuito de meetings (e não nos torneios específicos deste circuito).
Na verdade, reconheça-se, esta solução tem um mérito: vai permitir aos marchadores terem benefícios (sobretudo económicos) em linha com os atletas das restantes disciplinas. Estes tinham (e continuam a ter) a oportunidade de obter prémios monetários em consequência das participações bem-sucedidas em meetings de atletismo – e os marchadores voltam a dispor também dessa oportunidade, recuperando uma condição perdida há cerca de vinte anos e vendo respeitada uma perspectiva de igualdade em relação aos especialistas das restantes disciplinas (pelo menos no que se refere à oportunidade de ganhar prémios). Mas acabam aí os benefícios, que, de resto, vão abranger uma quantidade escassa de atletas.
O problema é que não há efectiva integração da marcha no circuito de meetings: não passa a haver provas de marcha no programa de qualquer desses torneios; os marchadores não vão ter oportunidades para participar nesses torneios de atletismo; não vai passar a haver visibilidade da marcha atlética nessas ocasiões, sendo esta disciplina mantida pela FPA na penumbra do correspondente circuito (apesar do já referido título da notícia no «site» da federação). Se os homens e as mulheres da marcha atlética em Portugal quiserem dar a conhecer a sua disciplina olímpica através da expressão pública das competições, terão de continuar a contar unicamente com as provas do seu próprio calendário (já de si muito reduzido, quando comparado com a expressão que teve em anos passados).
Alargando a reflexão sobre este assunto, poderá dizer-se que, por esta via, qualquer dia a FPA passa a fazer os campeonatos de marcha todos no mesmo dia, já não sendo preciso incluir as provas nos campeonatos de atletismo de sub-18, sub-20, sub-23, absolutos, pista ao ar livre, pista coberta, etc... «Despachar» pode ser a palavra que resume a perspetiva da FPA em relação à marcha atlética.
A título de curiosidade e para eventuais interessados, aqui fica a lista das competições de marcha que a FPA elegeu para o lote das provas em que os marchadores poderão pontuar para o Circuito de Meetings:
Campeonatos Nacionais de Marcha (35 km e 20 km);
Campeonatos de Portugal de Pista Coberta (5000 m masc. e 3000 m fem.);
Taça de Portugal de Marcha (10 km absolutos);
Grande Prémio de Marcha de Rio Maior (20 km);
Campeonatos de Portugal, ar livre (10 mil metros).
O Circuito de Meetings da FPA compõem-se de 12 iniciativas, realizadas de 13 de Maio (Faro) a 7 de Agosto (Leiria), com palco em 10 ou 11 cidades.