segunda-feira, 24 de maio de 2021

Podebrady acende esperanças da marcha portuguesa

Adriana Viveiros, com as medalhas de Podebrady 2021, e no pódio coletivo
de Portugal (sub-20), com Inês Mendes e Bruna Marques.
Fotos: RTP Madeira e LOC Podebrady.
Montagem: O Marchador

A Seleção Nacional no escalão júnior (Sub-20) que participou dia 16 de maio no Campeonato Europeu de Marcha em Seleções, disputado em Podebrady, na República Checa, esteve a um nível brilhante, obtendo uma histórica medalha de ouro no plano coletivo e uma não menos significativa medalha de prata individual alcançada por Adriana Viveiros, um feito duplamente inédito em competições do género.

As estrelas da companhia foram, de facto, as nossas meninas dos 10 km Sub-20, Adriana Viveiros, Inês Mendes e Bruna Marques, as primeiras duas com recordes pessoais batidos por larga margem e a última com a sua melhor prestação anual na distância, sem esquecermos, aqui, a também brilhante prestação do jovem Pedro Dias, com outro grande recorde pessoal, todos realizando ou confirmando mínimos para os Europeus e Mundiais de Juniores.

Numa prova realmente muito emocionante, pautada por uma competitividade intensa (à parte a superioridade indiscutível da checa Eliska Martínková), do grupo que lutava pela medalha de ouro coletiva, composto pelas portuguesas Adriana Viveiros e Inês Mendes e pelas francesas Maele Bire-Heslouis, que bateu o recorde do seu país, e Elvira Carré, ressaltou a jovem atleta madeirense, com uma ponta final poderosíssima, a revelar-se um fator decisivo (a primeira das referidas atletas a concluir a prova) para a atribuição da medalha de ouro à seleção portuguesa (empatada a 7 pontos), levando a melhor sobre o conjunto gaulês.

11 anos após escutar-se pela última vez o hino nacional numa grande competição internacional de marcha (medalha de ouro coletiva da seleção feminina na Taça do Mundo de Marcha, em Chihuahua, no México), voltou a ouvir-se “A Portuguesa”, agora cantada pelas nossas jovens atletas, repetindo no refrão as palavras… marchar, marchar! Tudo isto possível pela fantástica transmissão em sistema live streaming que a organização do evento proporcionou aos amantes da modalidade, sem dúvida ao nível do melhor que se tem visto.

Portugal apresentou-se em Podebrady com uma única seleção completa, precisamente a que proporcionou os melhores resultados de toda a delegação lusa e é pena que os restritivos critérios definidos pela Direção Técnica da FPA privilegiassem a participação individual em detrimento da componente coletiva, num europeu de seleções onde o país poderia ter alcançado posições honrosas em outras competições do programa competitivo.

Os últimos dois melhores resultados da seleção feminina Sub-20 neste Europeu de Seleções de Marcha haviam sido dois quartos lugares, em 2000, com Vera Santos e Carla Monteiro, e em 2017, com Inês Reis e Carolina Costa. Portugal é o quinto país europeu a vencer a competição neste escalão etário, no setor feminino, depois da Rússia, da Itália, da Espanha e da Turquia.

E dá vontade de perguntar: se Portugal, com poucos praticantes a sério, foi capaz de ir buscar duas medalhas nestes Europeus, o que poderia acontecer se a marcha fosse respeitada, acarinhada e recebesse o mesmo tratamento prioritário que recebem outras disciplinas do nosso atletismo ou, no mínimo, integrando-a nos programas escolares e incluindo-a de pleno direito na festa do atletismo juvenil que é o Olímpico Jovem, a par de iniciativas no plano formativo, competitivo e promocional?

Relativamente à medalhada individual portuguesa em Podebrady, a jovem atleta Adriana Viveiros, iniciou-se no atletismo pela mão de Ricardo Crespo, treinador da ADRAP, passando mais tarde a ser treinada por Manuel Almeida, que nela viu surgir um talento para a marcha.

Como referido pelo treinador, foi num Campeonato Nacional de Clubes que Adriana Viveiros se estreou como marchadora, assumindo a partir daí a condição de especialista desta disciplina. Revelando uma evolução que se notava de dia para dia, Adriana foi evoluindo e alcançando os primeiros sucessos no plano regional e, mais tarde, batendo recordes regionais. Ao concluir, em 2019, a passagem pelo escalão de juvenis (Sub-18) ganhou o Campeonato Nacional da categoria, em estrada.

Adriana Viveiros registou a primeira internacionalização no Torneio Ibérico, disputado em Madrid, e a segunda, no Festival Olímpico da Juventude Europeia (FOJE), que teve lugar em Baku, no Azerbaijão, onde obteve o 9.º lugar. Já no primeiro ano de júnior obteve os mínimos para os Campeonatos Mundiais da categoria, adiados do ano passado para o corrente ano, devido à pandemia.

No ano em curso, a atleta voltou a bater os seus recordes pessoais e a realizar marcas de qualificação para o Campeonato Europeu de Seleções e para o Europeu e o Mundial de Juniores. Acrescentou ainda que no último estágio do sector a atleta demonstrava boa condição e capacidade para fazer um bom resultado em Podebrady. O que acabou por acontecer.

Para o futuro, Adriana Viveiros espera, no curto prazo, ter uma boa preparação para o Europeu e o Mundial de Juniores, preparando depois o passo seguinte: a entrada na distância dos 20 km, orientada pelo sonho de um dia chegar aos Jogos Olímpicos.

Resta agora saber o que representa este êxito da atleta para o futuro da marcha atlética portuguesa e mais especificamente para o desenvolvimento da especialidade na Região Autónoma da Madeira. Para já, uma ideia é clara para a atleta e o treinador: o trabalho realizado é sólido e o sucesso obtido traduz a dedicação aos treinos, esperando que o resultado alcançado em Podebrady incentive mais jovens para a prática da marcha atlética, tanto a nível nacional como a nível regional.