sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Yohann Diniz com recorde mundial e terceiro título europeu de 50 km

Yohann Diniz e as bandeiras portuguesa e francesa.
Fotos: Ian Walton/Getty Images.
Montagem: O Marchador
Yohann Diniz bateu esta sexta-feira o recorde mundial dos 50 km marcha, ao conquistar em Zurique o seu terceiro título de campeão europeu da distância. O francês cumpriu a prova em 3.32.33 h, superando o máximo anterior do russo Denis Nizhegorodov, que em 2008 registara 3.34.14 h, durante a Taça do Mundo de Cheboksary. Para gáudio dos portugueses, Yohann Diniz, com ascendentes de nacionalidade portuguesa, ainda teve tempo, nos metros finais, para parar junto à mesa de abastecimento de Portugal e pedir uma bandeira portuguesa com a qual iria cortar a meta no final desta prova histórica.

Numa competição disputada sobre um circuito de 2000 metros e com 13ºC de temperatura e 82 por cento de humidade relativa à partida, os russos Mikhail Ryzhov e Ivan Noskov destacaram-se logo ao tiro de partida, seguidos dos três polacos Rafal Augustyn, Lukasz Nowak e Grzegorz Sudol, dos ucranianos Oleksiy Kazanin e Ihor Hlavan, do francês Yohann Diniz (a defender os títulos conquistados em Gotemburgo-2006 e Barcelona-2010), do eslovaco Matej Tóth, do irlandês Robert Heffernan e do terceiro russo Aleksander Yargunkin. Pedro Isidro, o único português em prova, mantinha-se no segundo grupo.

Com a primeira volta de dois quilómetros cumprida em 8.41 m pelos russos, Yohann Diniz juntava-se-lhes, mas por poucos instantes, rapidamente voltando a ser descolado por Ryzhov e Noskov. Aos seis quilómetros, os russos tinham 35 metros de vantagem sobre Diniz. Heffernan, Sudol e Toth compunham o grupo perseguidor. Pouco depois, o francês reaproximava-se da frente, recolando aos nove quilómetros.

Nos primeiros dez quilómetros, Ryzhov, Noskov e Diniz passavam creditados com  43.44 m, com cem metros sobre Heffernan, Sudol e Toth. Tratava-se de um parcial que indiciava uma marca final claramente abaixo de três horas e 40 minutos, mas ainda longe de se pensar em recorde mundial. Pedro Isidro cumpria esta primeira dupla légua no 24.º lugar, em 46.44 m, a par do espanhol Francisco Arcilla.

Logo a seguir, Diniz forçava o andamento na frente, isolava-se e deixava os russos separados, com Ryzhov a tentar acompanhá-lo, enquanto Noskov se atrasava. Mais atrás, Heffernan descolava de Matej Toth e Grzegorz Sudol.

Com Ryzhov a juntar-se de novo a Diniz, Noskov claramente atrasado da liderança e Heffernan isolado no quarto lugar e a tentar chegar aos lugares da frente, a chuva fez a aparição, pouco antes de, aos 20 km, Diniz e Ryzhov passarem com 1.26.55 h. Noskov e Heffernan surgiam a 25 segundos. Pedro Isidro continuava no 24.º lugar, com 1.33.52 h, num ritmo para recorde pessoal (cifrado em 3.56.15).

A meio da prova, com cerca de 25 km cumpridos, Diniz voltava a forçar e a ganhar vantagem sobre Ryzhov. Heffernan ia «rebocando» Noskov, já com Matej Tóth por perto.

Nos momentos seguintes, Ryzhov voltava a destacar-se de Diniz, enquanto o segundo russo, Ivan Noskov, também se isolava, neste caso no terceiro lugar, ganhando vantagem sobre Tóth e sobretudo sobre o campeão mundial Heffernan.

Nova reacção de Yohann Diniz, nova recuperação relativamente a Ryzhov e de novo o francês a isolar-se cerca dos 35 quilómetros, para não mais ceder o lugar de campeão, que lhe pertence há oito anos. Era o momento crucial da prova. Na mesma fase, Matej Tóth e Ivan Noskov seguiam juntos na luta pela medalha de bronze e o ucraniano Ihor Hlavan surgia em recuperação, no quinto posto. Era também um momento em que Heffernan se apresentava muito atrasado no sexto lugar, já com mais de quatro minutos de desvantagem para a liderança e mais de 500 metros para o Hlavan, o atleta que o precedia. Pouco mais tarde, a desistência do irlandês impedia a junção do título continental de 2014 ao mundial de 2013.

Até final, Diniz iria consolidando a vantagem para o terceiro título europeu consecutivo de 50 km marcha e um surpreendente máximo mundial, ao passo que o eslovaco Matej Tóth se alcandorava ao segundo posto. Mikhail Ryzhov seria passado ainda pelo compatriota Ivan Noskov, a garantir a medalha de bronze.

Pedro Isidro, com uma segunda meia prova de grandes dificuldades, chegou no 25.º lugar, com 4.07.44 h, numa competição que teve 34 atletas à partida e 26 classificados.

No final da prova, o tricampeão europeu e novo recordista mundial manifestava-se muito satisfeito com o desempenho: «Este é o dia mais feliz da minha vida – afirmou. Quero dedicar esta vitória à minha avó, que morreu este ano. Era portuguesa e foi por isso que empunhei uma bandeira francesa e outra portuguesa quando cortei a meta. Quero dar um agradecimento especial aos meus pais, aos meus avós, à minha família e a todas as pessoas que estiveram aqui a apoiar-me.» Quanto a facto de ter conquistado o terceiro título consecutivo, afirmou tratar-se de um sonho: «Antes de vir para aqui sabia estar em boa forma, mas o que mais me ajudou foi o russo Ryzhov, que começou com um ritmo muito elevado. Tenho pena que não tenha podido manter-se connosco, no mesmo ritmo, mas foi ele que me ajudou a chegar ao recorde.»

Quanto à história da bandeira portuguesa, explicou à RTP: «O meu avô é português e eu sou de origem portuguesa, do Norte de Portugal, de Mirandela. Sou franco-português. A medalha é francesa, evidentemente, porque nasci em França, mas gostava de dedicá-la também a Portugal, porque me treino lá muitas vezes. Portugal é a minha segunda pátria. Tenho Portugal no coração!»

Classificação
50 km masculinos
1.º, Yohann Diniz, 1978 (França), 3.32.33
2.º, Matej Tóth, 1983 (Eslováquia), 3.36.21
3.º, Ivan Noskov, 1988 (Rússia), 3.37.41
4.º, Mikhail Ryzhov, 1991 (Rússia), 3.39.07
5.º, Ivan Banzeruk, 1990 (Ucrânia), 3.44.49
6.º, Ihor Hlavan, 1990 (Ucrânia), 3.45.08
7.º, Marco De Luca, 1981 (Itália), 3.45.25
8.º, Jesús Ángel García, 1969 (Espanha), 3.45.41
9.º, Rafal Augustyn, 1984 (Polónia), 3.48.15
10.º, Ato Ibáñez, 1985 (Suécia), 3.48.42
11.º, Jarkko Kinnunen, 1984 (Finlândia), 3.48.49
12.º, Oleksiy Kazanin, 1982 (Ucrânia), 3.49.00
13.º, Aléxandros Papamihaíl, 1988 (Grécia), 3.49.58
14.º, Aleksandr Yargunkin, 1981 (Rússia), 3.50.39
15.º, Carl Dohmann, 1990 (Alemanha), 3.51.27
16.º, Brendan Boyce, 1986 (Irlanda), 3.51.34
17.º, Tadas Šuškevicius, 1985 (Lituânia), 3.52.39
18.º, Veli-Matti Partanen, 1991 (Finlândia), 3.52.58
19.º, Dušan Majdán, 1987 (Eslováquia), 3.53.26
20.º, Teodorico Caporaso, 1987 (Itália), 3.58.23
21.º, Francisco Arcilla, 1984 (Espanha), 4.00.57
22.º, Jean-Jacques Nkouloukidi, 1982 (Itália), 4.01.12
23.º, Marius Cocioran, 1983 (Roménia), 4.03.25
24.º, Martin Tistan, 1992 (Eslováquia), 4.06.11
25.º, Pedro Isidro, 1985 (Portugal), 4.07.44
26.º, Lukáš Gdula, 1991 (República Checa), 4.08.51
Desclassificados: Pavel Schrom, 1991 (República Checa), Maciej Rosiewicz, 1977 (Geórgia) e Andreas Gustafsson, 1981 (Suécia).
Desistentes: Ivan Trotski, 1976 (Bielorrússia), Robert Heffernan, 1978 (Irlanda), Ricardas Rekst, 1987 (Lituânia), Lukasz Nowak, 1988 (Polónia) e Grzegorz Sudol, 1978 (Polónia).