Brian Hanley na Universidade Metropolitana de Leeds. Fotos: facebook do próprio. Montagem: O Marchador |
No contexto dos Campeonatos da Europa de Atletismo que estão a concluir-se
em Zurique é oportuno recordar (e assinalar para a comunidade da marcha
atlética) a tese de doutoramento apresentada e defendida em Maio passado por Brian Hanley na Universidade Metropolitana de Leeds, em Inglaterra, com o
título «Análise Biomecânica da Marcha Atlética de Elite» (tradução livre). Como
se depreende do próprio título e se explicita no resumo do trabalho, trata-se
de um estudo das mais importantes variáveis biomecânicas da marcha atlética a
partir da observação de atletas de alto nível tanto em contexto de competição
como em situação de laboratório.
O estudo teve por objectivo criar o que em última análise poderia
constituir um manual técnico a partir de uma análise alargada da biomecânica
dos marchadores de elite através da identificação e da caracterização das
variáveis-chaves que dão um contributo decisivo para o sucesso competitivo. O
estudo envolveu a observação de atletas masculinos e femininos, juniores e
seniores, dedicados aos 20 e aos 50 km marcha.
Os dados analisados foram recolhidos em situação de competição (166 atletas
nas Taças da Europa de Marcha de Leamington-2007 e Metz-2009 e na Taça do Mundo
de Cheboksary-2008) e no contexto laboratorial (20 atletas), com utilização dos
recursos tecnológicos facultados pela referida universidade. Fugindo ao detalhe
da metodologia do trabalho em que aqui seria fastidioso entrar, deve notar-se
que algumas das conclusões do estudo constituem importantes novidades quando
comparados com as de anteriores estudos científicos sobre marcha atlética.
Quanto mais não seja, porque os estudos precedentes eram quase todos anteriores
à alteração regulamentar de 1995/96.
Entre as principais novidades proporcionadas pelo trabalho de Brian Hanley,
saliente-se a constatação de que a amplitude da passada das atletas é mais
dependente da frequência do que nos masculinos. Ou que a fase de voo contribui
para 13 por cento da amplitude da passada, sendo a sua duração demasiado curta
para ser descortinável pelo olhar humano. Ou ainda que a maior parte dos
atletas revela a total ou quase total extensão da perna desde o contacto
inicial de cada passada até à passagem pela vertical, havendo na fase de fadiga
dos 50 km uma diminuição tão pequena dessa taxa que não pode considerar-se
relevante.
Para quem conviva há muitos anos com a marcha atlética, não deixa de ser
intrigante notar o que o autor menciona a dada altura (a seguir, tradução
livre): «Muitas das juniores femininas revelaram períodos de duplo apoio, com a
consequência de não haver fase de voo. Considerando a importância que a
distância de voo tem para os marchadores de elite (tanto
para juniores como para seniores), esta é uma considerável
fragilidade técnica.» De facto, quem aprendeu a marchar há mais tempo aprendeu
de outra maneira, mas hoje (digamos, desde 1 de Janeiro de 1996), a realidade
regulamentar é diferente. Eis um bom tema de reflexão e ao qual
poderemos voltar oportunamente.
O estudo de Brian Hanley, em língua inglesa e publicado no Repositório da
Universidade Metropolitana de Leeds, pode ser consultado aqui.