Montagem: O Marchador |
No dia 1 de dezembro de 1982, faz hoje precisamente 40 anos, foi formalmente fundado o Clube Português de Marcha Atlética que, principalmente na primeira década da sua existência foi uma das entidades que marcou decisivamente o processo evolutivo da mais nova disciplina do atletismo em Portugal.
O CPMA, como ficou conhecido, foi a primeira associação de marchadores constituída com o objetivo de divulgar a especialidade no nosso país, dando continuidade no todo nacional ao trabalho que nos primeiros anos de reimplantação da marcha em Portugal esteve centrado em Lisboa.
O clube não estava propriamente vocacionado para se apresentar às competições com atletas seus filiados, se bem que tivesse contado nas suas fileiras com alguns dos melhores especialistas de então, mas os seus dirigentes privilegiavam essencialmente o contacto institucional, priorizando as bases da regulamentação e integração da marcha atlética nos vários eventos nacionais, individuais e coletivos, realizados no seio da Federação Portuguesa de Atletismo, muito especialmente pelo apoio e aceitação do Prof. Fernando Mota.
Enquanto grande projeto de afirmação da implementação de ações de formação no plano técnico e do ajuizamento, da inovação e do desenvolvimento, o Clube Português de Marcha Atlética foi o grande baluarte da especialidade tendo proposto, com sucesso, a criação da Comissão Nacional de Marcha no seio da FPA, que vigorou por vários anos.
Na época, o grupo dos dez dirigentes fundadores da instituição tinha uma maneira muito especial de estar, distinguindo-se pela solidariedade, amizade e fraternidade e uma grande dedicação à causa da disciplina, conseguindo ultrapassar dificuldades de natureza diversa.
Foi em 1982 que, pela necessidade de serem fixados mínimos de participação para provas de marcha em grandes eventos internacionais de juniores e de seniores, o Prof. Eduardo Cunha reconheceu prontamente a justeza da reivindicação das gentes da marcha, estabelecendo os patamares de participação de marchadores portugueses naquelas competições, começando pelos Europeus de Atenas, realizados naquele ano.
Foi em 1983 que o Clube Português de Marcha Atlética e o Sporting Clube de Alenquer levaram a efeito, em Alenquer, a primeira prova de 50 km marcha. O objetivo era o de proporcionar ao melhor marchador português daqueles tempos, José Pinto (atleta do Clube de Futebol “Os Belenenses” e cofundador do CPMA) a possibilidade da lutar pela obtenção dos mínimos estabelecidos pela FPA. Com um tempo de 4:06:03 conseguia os mínimos para os Mundiais de 1983 (4:10:00), classificando-se em Helsínquia na 16.ª posição, e ainda os mínimos para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984 (4:08:00), onde foi 8.º classificado.
Foi em 1989, aos 14 anos de idade, que Susana Feitor, ainda integrada no escalão de Iniciadas, alcançava o título nacional de juniores com recorde nacional absoluto nos 5.000 metros marcha, em 23.57,17, obtendo mínimos para o Europeu de Juniores (Sub-20), em Varazdin, na então Jugoslávia, hoje Croácia, um feito absolutamente notável.
Numa primeira decisão, a Direção-técnica Nacional (DTN) entendeu não validar a participação da atleta ribatejana no evento argumentando, essencialmente, com o fator idade. Foi decisiva a intervenção d0 Clube Português de Marcha Atlética, organismo que era o interlocutor da FPA para matérias relacionadas com a especialidade, que expôs em 18 pontos, muito bem fundamentados e incisivos, os seus argumentos à DTN e à própria direção da FPA.
Mediante a exposição apresentada pelo CPMA, a Federação Portuguesa de Atletismo autorizava a participação de Susana Feitor em Varazdin, num evento que constituiu para a atleta um ganho de experiência e onde alcançou um muito bom resultado (6.º lugar) com um novo recorde nacional de 23:29.24.
Nesta referência ao trabalho e dedicação dos dirigentes do CPMA, prestamos a nossa homenagem aos grandes pioneiros da marcha atlética em Portugal, reintroduzida em 1974/75, portanto, quase a concluir-se os 50 anos de vivência no nosso país, nomeadamente, aos saudosos Raymond Ysmal, Carlos Albano (Viseu) e Aires Denis (Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira) e ainda ao Prof. Francisco Assis (SL Benfica – Lisboa).