domingo, 18 de dezembro de 2022

No desaparecimento de Manuel Arons de Carvalho (1947-2022)

Manuel Arons de Carvalho. Fotos: ATLETISMO Estatística, arq. Revista Atletismo
e fb Luís Lopes/Memórias do Atletismo. Montagem: O Marchador

O jornalista Manuel Arons de Carvalho morreu esta madrugada, na sequência de doença que o afectava desde há vários anos. Personalidade com lugar na história do atletismo português, Arons de Carvalho foi o fundador da «Revista Atletismo», órgão informativo marcante para todos quantos se têm dedicado à modalidade nas últimas quatro décadas.

Atleta do Benfica dedicado ao fundo e meio-fundo, Arons de Carvalho foi também dirigente do clube, tendo formação académica superior em Educação Física. Esta condição, apesar de não o ter levado ao ensino, constituiu um importante reforço de conhecimento para quem se dedicava a informar sobre desporto e em particular sobre atletismo, função que desenvolveu, entre outros, no «Mundo Desportivo» e no «Record», para referir apenas os periódicos especializados no desporto.

Ao longo da actividade de jornalista, Arons de Carvalho foi enviado-especial a numerosas competições internacionais, com realce para três edições dos Jogos Olímpicos e muitos mundiais e europeus de atletismo (pista, corta-mato, pista coberta e estrada).

Arons criou e manteve atualizada uma das mais importantes bases de dados estatísticos sobre o atletismo português, num projecto de grande rigor e fidedignidade em que o único interesse pessoal era o gosto por essa actividade e a vontade de servir todos quantos lhe pediam qualquer informação de pormenor. Nessas ocasiões, tudo fazia para poder corresponder às solicitações, numa demonstração da generosidade que o caracterizava.

Convivendo com marchadores no Benfica desde os primeiros tempos da reimplantação da marcha atlética em Portugal, em meados da década de 1970, Arons de Carvalho manteve sempre uma atitude de respeito e reconhecimento pela última disciplina do atletismo a implantar-se no panorama desportivo nacional. Provas desse respeito e dessa consideração foram os factos de não só ter incluído desde início a marcha nas suas listas estatísticas mas também de envolver a marcha desde os primeiros tempos do projecto da «Revista Atletismo», garantindo que a sua equipa de colaboradores incluía especialistas da marcha atlética (no caso, José Dias e Luís Dias).

Foi também de Manuel Arons de Carvalho um dos artigos de autores convidados para escrever na primeira série do boletim «O Marchador», precursor dos órgãos informativos dedicados à marcha, incluindo este blogue. Na edição de Fevereiro de 1983, começou esse artigo do boletim por relatar a conversa mantida durante um treino no Estádio Universitário de Lisboa com o marchador José Pinto (o Pinto a marchar e o Arons a correr), para fazer uma breve reflexão sobre as condições dos marchadores portugueses e o caminho que ainda havia que percorrer para que «sejam reconhecidos como membros de pleno direito da família do atletismo».

Sempre disponível, prestável e bem-humorado, de Arons de Carvalho recordar-se-á sempre a história que contou relativamente a uma maratona em que iria participar num país nórdico, ao qual os participantes chegariam em viagem de navio. Ora, estando o tempo pouco convidativo para desembarques e encontrando-se o percurso gelado, a prova acabou por ser realizada no convés do navio, naquela que terá sido uma das experiências mais inusitadas do jornalista-atleta que agora nos deixou.

A equipa do blogue «O Marchador» endereça sentidas condolências à família de Manuel Arons de Carvalho, extensivas aos amigos e companheiros neste percurso desportivo de mais de meio século.