Carolina Costa e Inês Reis na prova de juniores de Rio Maior (9/4). Foto: Laura Taborda |
A
Federação Portuguesa de Atletismo anunciou recentemente a constituição da
Seleção Nacional para o Campeonato Mundial de Nações de Marcha Atlética, uma
competição de cariz essencialmente coletivo, que vai ter lugar nos dias 7 e 8
de maio.
Causou
muita estranheza, e até incompreensão, o facto de Inês Reis, jovem atleta do
Penta Clube da Covilhã, agremiação desportiva do distrito de Castelo Branco,
não ter sido uma das selecionadas para competir em Roma, na prova dos 10 km
marcha (juniores), ao ter cumprido os requisitos estabelecidos pela própria
FPA, suplantando a marca exigida (51:30), no decorrer do Grande Prémio
Internacional de Rio Maior.
A
atleta, treinada por Amaro Teixeira, tem progredido acentuadamente e é uma das
grandes revelações do ano na marcha atlética em Portugal. Estudante exemplar,
concilia as suas atividades estudantis com as desportivas, treinando-se em
condições, por vezes, desfavoráveis, longe dos grandes centros da marcha
atlética em Portugal, nomeadamente, Pechão e Rio Maior. E foi em Rio Maior que
no dia 9 deste mês comprovou as suas boas aptidões para a disciplina ao
melhorar significativamente o seu recorde pessoal. Inês Reis expressaria, na
sua página de facebook, a sua felicidade:
“Consegui
este sábado, em Rio Maior, junto de alguns dos melhores marchadores do mundo
alcançar a marcha de qualificação exigida pela Federação Portuguesa de
Atletismo para a Taça do Mundo de Nações de Marcha, no escalão de juniores,
realizando a marca de 51m21s batendo assim o meu recorde pessoal por 3m14s e
batendo ainda o recordes distritais de juniores e seniores do distrito de
Castelo Branco e assim não podia estar mais feliz com o resultado que consegui,
agora só posso aguardar esperançosamente pela convocatória, muito obrigada a
todos pelo apoio em especial ao meu treinador Amaro Teixeira, que sem ele nada
seria possível, obrigada ainda aos meus companheiros.”
Note-se
que na prova de 10 km juniores de Rio Maior, as três primeiras classificadas
foram chinesas, a primeira e a terceira juvenis de primeiro ano, e a segunda
juvenil de segundo ano, tal como Inês Reis, quinta classificada e a apenas 23
segundos da sua compatriota, a pechanense Carolina Costa, a única selecionada
para os mundiais no escalão de juniores não podendo, por conseguinte, formar
equipa pois, para o efeito, seriam necessárias, no mínimo, duas atletas.
Salvaguardando
naturalmente as devidas proporções, recordemos o que se passou com Susana
Feitor. Em 1989, com 14 anos de idade (escalão de iniciadas), fez mínimos para
os Europeus de Juniores realizados, nesse ano, em Varazdin. A FPA entendeu,
então, não a selecionar devido à idade da atleta. Perante uma exposição
densamente elaborada pelos elementos da então Comissão Nacional de Marcha, os
seus dirigentes reverteram a posição inicialmente tomada permitindo a sua
participação, nesse e nos anos seguintes.
Para o
seu treinador, Amaro Teixeira, teria sido útil e justa a sua convocação para a
Seleção Nacional:
“Após
verificar a não convocatória da minha atleta Inês Reis, fico um pouco
desapontado com a Federação Portuguesa de Atletismo. A atleta cumpriu os
critérios estipulados e em termos motivacionais era uma grande recompensa para
a atleta, que tem tido um comportamento exemplar a nível desportivo e escolar.
O seu objetivo desde inicio da época foi claramente alcançar marca de
referencia para o 1º Campeonato da Europa de Juvenis, o que já conseguiu, o
resultado dela aos 10km foi sem pressão e numa linha de progressão constante,
pensando que também já na próxima época as suas principais provas são de 10km,
e tendo conseguido alcançar, era excelente para ela se preparar
psicologicamente e ganhar experiência internacional e depois sendo convocada
para o Europeu do seu escalão, conseguir lá alcançar um melhor resultado.
Outras atletas no passado já o fizeram e acharam benéfico para a sua carreira
desportiva. Vamos continuar a trabalhar e fazer o que depende de nós em busca
do melhor êxito desportivo possível, mas também pedindo para não se esquecerem
de nós.”
Também,
após tomar conhecimento através do site da FPA, da sua não convocatória, a
atleta manifestou o seu estado de alma na sua página de facebook:
“É com alguma tristeza que vejo
esta convocatória em que poderia constar o meu nome pois cumpri todos os
critérios de seleção apresentados pela FPA para esta competição, uma vez que em
lugar algum consta que não serão integradas atletas juvenis na prova de
juniores, o que se encontra explicito no campeonato do mundo de juniores em que
é referido que só participarão atletas juniores. A meu ver seria uma ótima
preparação para o europeu de juvenis para o qual já confirmei mínimos e ainda
com a possibilidade de formar equipa com a atleta júnior convocada. “
Recorde-se
que na edição de 2012, em Saransk, na Rússia (competição então designada por
Taça do Mundo de Marcha), das duas atletas selecionadas pela Federação
Portuguesa de Atletismo, no escalão de juniores, ambas com registo inferior à
marca recentemente realizada por Inês Reis, uma delas, Mara Ribeiro (CN Rio
Maior), ainda era juvenil.
Entretanto,
a contrastar com a exclusão de Inês Reis, com mínimos cumpridos, foram selecionados
2 atletas sem os mínimos exigidos pela FPA para a prova de 20 km masculinos (1.25.00):
Sérgio Vieira, a 11 segundos, e Miguel Carvalho, a 2 minutos e 51 segundos!
Será,
pois, da mais elementar justiça que a FPA reveja a sua posição integrando a
atleta Inês Reis na seleção para os Mundiais de Roma.