Foi notável o desempenho do Equador no Campeonato Mundial de Seleções de Marcha Atlética, que muito recentemente se disputou em Omã, ao conquistar as medalhas de ouro na prova individual feminina dos 35 km, através de Glenda Morejón, no seu primeiro grande título enquanto sénior, e as medalhas de ouro coletivas nas provas de 35 km femininos e de 20 km masculinos.
Morejón, na chegada ao seu país, em conferência de imprensa, ainda no aeroporto, dedicou a medalha de ouro aos seus pais, que a esperavam, Luis Morejón e Carmen Quiñónez, e ao seu país, por todo o apoio que recebeu, realçando que a prova vitoriosa de Omã – um sonho concretizado, fez dela uma “desportista mais madura, desportiva e emocionalmente” e que vai continuar a apostar preferencialmente nos 20 km, continuando a trabalhar com o seu treinador, Julio Chuqui, em Cuenca.
Como salientou, e bem, Manuel Bravo, presidente da Federação Equatoriana de Atletismo (FEA), em declarações proferidas à agência noticiosa EFE, foram feitos históricos para o Equador e para a América Latina, igualmente de grande relevo para a história da disciplina no Mundial de Seleções, antes com a designação de Taça do Mundo. Bravo sintetizou no caráter, na vontade e na técnica dos atletas equatorianos, a chave do êxito ao destacar o grande momento da marcha atlética do país no contexto mundial, e que aproveitou para agradecer todo o apoio concedido pelas autoridades desportivas.
De facto, foi fundamental para o êxito conseguido, atentas as condições atmosféricas que se faziam sentir em Omã e à diferença horária, que a chegada a Mascate da delegação equatoriana ocorresse com alguns dias de antecedência ao contrário, por exemplo, da minúscula delegação portuguesa, chegada apenas na véspera da prova, com os óbvios e previsíveis (menores) desempenhos conhecidos.
É interessante verificar que, inicialmente, havia a ideia de Morejón participar nos 20 km, mas a federação equatoriana, porque apenas dispunham de dois atletas na distância, num apelo ao coletivo, convenceu Julio Chuqui e a atleta a lançar-se nos 35 km, catapultando a seleção nacional para um tremendo êxito e para a inédita façanha concretizada num evento desta ordem de grandeza ao ter todas as suas cinco atletas classificadas nos 10 primeiros lugares: Paola Pérez (5.ª), Magaly Bonilla (6.ª), Karla Jaramillo (7.ª) e Johana Ordóñez (9.ª).
Na prova dos 20 km masculinos, foi grande a surpresa pelo título coletivo conquistado pelo Equador, que ficará registado a letras de ouro nos anais do Mundial de Marcha. Tradicionalmente muito fortes, as seleções do Japão, principalmente esta, e a da China, que só à sua conta incluem 12 atletas seus nos 20 melhores do corrente ano, viram-se surpreendidas pelos marchadores equatorianos, com a decisiva prestação de Daniel Pintado (4º) e os igualmente muito bons desempenhos de Jordi Jiménez (9.º) e de David Hurtado (12º).
Que nos recordamos, o êxito da seleção equatoriana em Taças/Mundiais de Seleções de Marcha só é comparável, na América Latina, ao período dourado da marcha atlética mexicana, conduzida por esse outro grande senhor que foi Jersy Hausleber (polaco naturalizado mexicano), isto, nos anos setenta a noventa do século passado.
Numa seleção que incluiu na sua delegação a presença de treinadores, fisioterapeutas e psicólogos, os atletas equatorianos, no seu conjunto, demonstraram porque são, hoje em dia, dos melhores do mundo, honrando as prestações daquele que é considerado o melhor entre os melhores – o seu compatriota e campeão olímpico, Jefferson Pérez, e a memória de um dos grandes pioneiros da marcha atlética equatoriana e que foi o primeiro treinador de Jefferson, o Luis Chocho, falecido a 17 de fevereiro de 2021.
Para Manuel Bravo, o trabalho vai prosseguir com todo o afinco e com o objetivo final, neste ciclo olímpico de menor duração, apontado para aos Jogos de Paris’2024, quando restam pouco menos de 56 semanas para o seu início. As perspectivas no imediato são bastante animadoras e demonstram o nível qualitativo e quantitativo que a marcha atlética equatoriana atingiu, com todos os seus 12 melhores atletas, nas quatro distâncias da disciplina nos Mundiais de Oregon, muito bem colocados para representarem o seu país neste evento, 9 deles já com as exigentes marcas mínimas conseguidas e que foram fixadas pela World Athletics.