sexta-feira, 22 de maio de 2020

Viajando pelos Grandes Prémios de Marcha: Montijo

Autocolantes de duas edições (1991 e 1995) e a frente das principais provas em 1988,
em cima, José Urbano e José Pinto, em baixo, Lígia Gonçalves, Paula Gracioso
e Isilda Gonçalves. Fotos: arquivo «O Marchador»
O Grande Prémio de Marcha Atlética «Cidade de Montijo» foi um evento que teve muito impacto no desenvolvimento da marcha atlética no nosso país e principalmente no distrito de Setúbal, que na década de 80 viu nascer várias iniciativas do género.

Naquela época, a região do Montijo tinha um conjunto de grandes atletas no panorama nacional da disciplina: Isilda Gonçalves, que viria a atingir um plano mais destacado na disciplina ao participar nuns Jogos Olímpicos (a primeira atleta a consegui-lo, no distrito de Setúbal), a sua irmã gémea, Lígia, que competiu em Taças da Europa e do Mundo, a Sofia Avoila, que se sagrou campeã europeia de juniores em 1995 e que esteve num Campeonato Mundial de Atletismo, o Nuno Pereira, que representou o país em dois mundiais e num europeu de juniores, e o Ricardo Vendeira, que também marcou presença num europeu e num mundial sub-20 e que, ainda hoje, passados 22 anos, conserva o recorde nacional de juvenis (5.000m) em pista coberta.

A iniciativa de levar o Grande Prémio por diante nascera em 1987 com o empenhadíssimo envolvimento da Câmara Municipal do Montijo e do União do Montijo – José Ganso (dirigente) e Francisco Mariano (treinador) eram os principais “rostos” deste clube, prova que contou com o apoio da então Comissão Nacional de Marcha da Federação Portuguesa de Atletismo. Em 1988, também com as mesmas entidades ao leme, a cidade do Montijo assistia a um dos mais espetaculares e mais bem organizados Campeonatos Nacionais de Marcha em estrada de que há memória.

Os campeões da marcha não faltavam à chamada e aí fizeram-se grandes resultados. Nos primeiros anos a prova teve lugar bem no centro da cidade, atraindo a atenção de muita gente e constituindo um excelente cartaz promocional. Para se aproveitar as melhores caraterísticas do piso e se potenciar a realização de boas marcas, o evento fixou-se na área adjacente ao jardim municipal da cidade.

Em 1987, na edição inaugural, Isilda Gonçalves dominava enquanto nos homens, José Urbano impunha-se na prova da légua. Nos veteranos, o saudoso Aires Denis era um dos mais entusiastas participantes enquanto José Henriques, o presidente do Centro de Atletismo das Galinheiras, ontem como hoje, era e é um exemplo de como a marcha pode e deve ser praticada por gente de todas as idades.

Em 1988 assistiu-se a provas das mais emocionantes de sempre, decididas em cima da meta. No setor masculino, Urbano e Pinto cortaram a linha de meta em autêntico sprint, ambos registando o mesmo tempo com o júri a dar a vitoria ao primeiro, e no setor feminino, Paula Gracioso e Isilda Gonçalves haveriam de terminar com o mesmo tempo, a primeira vencendo nos seniores e a segunda nos juniores. Paulo Murta, um dos melhores treinadores de marcha, ainda competia em representação do Clube Oriental de Pechão. No plano coletivo, o Centro de Cultura e Desporto de Olivais Sul, um clube pioneiro na especialidade, destacava-se nos lugares coletivos de topo.

Entre surpresas e confirmações, foram vários os atletas que no Grande Prémio do Montijo deram contributos decisivos para definir as equipas às Taças do Mundo de Marcha e que realizaram mínimos para competições internacionais. Por exemplo, na edição de 1990, os vencedores, José Urbano e Isilda Gonçalves, carimbaram o passaporte para os Europeus de Split, a montijense acrescentando para as estatísticas um novo recorde nacional nos 10 km marcha, a primeira portuguesa a baixar da fasquia dos 50 minutos. A presença estrangeira era uma constante. Recordamo-nos, em 1991, de assistir à participação de García Bragado (foi segundo, atrás do Urbano), hoje em dia uma das referências mundiais da marcha. 

Em 2003 teve lugar a 15.ª e última edição da prova que registou uma das maiores participações de sempre e constituiu a prova final de observação para a constituição da equipa nacional para a Taça da Europa de Cheboksary.

Em relação à génese da iniciativa, José Ganso disse a O Marchador que com a constituição da Associação de Atletismo de Setúbal, na primeira metade da década de 80, a Câmara Municipal do Montijo foi das primeiras no distrito a colaborar com a Associação na realização de provas de atletismo, nomeadamente, albergando campeonatos de corta-mato. “Aproveitando a disponibilidade dos dirigentes autárquicos, reuni-me com eles e coloquei em cima da mesa a proposta de se fazer um Grande Prémio de Marcha. A aceitação foi total e constatei mesmo que havia entusiasmo em levar por diante o projeto”, concluiu o atual juiz internacional da modalidade.

Já Francisco Mariano destaca o protagonismo da Isilda e da Lígia a nível nacional, mais tarde seguidas por outros talentosos jovens, de que aponta como exemplos a Sofia Avoila e o Nuno Pereira (todos por si treinados) e o quanto isso foi importante para o apoio à realização do Grande Prémio que, nas primeiras edições se realizaram na Praça da República, em pavimento de calçada e em distâncias reduzidas. “Naquela época, a marcha atlética no Montijo era considerada como tendo a melhor escola de marcha do país e o Grande Prémio, sempre bem organizado, era o que mais público atraía, juntando bons especialistas, portugueses e estrangeiros”, acrescentou Mariano, um dos técnicos portugueses que há mais tempo treina atletas de marcha.

Para a história do Grande Prémio do Montijo fica o registo dos nomes dos vencedores absolutos nas principais provas:

1987: José Urbano (CCD Olivais Sul) e Isilda Gonçalves (U Montijo);
1988: José Urbano (SL Benfica) e Paula Gracioso (SL Benfica);
1989: José Pinto (CF Belenenses) e Lígia Gonçalves (U Montijo);
1990: José Urbano (SL Benfica) e Isilda Gonçalves (U Montijo);
1991: José Urbano (SL Benfica) e Susana Feitor (CN Rio Maior);
1992: José Urbano (SL Benfica) e Isilda Gonçalves (CD Montijo);
1993: não se realizou (Campeonatos Nacionais de Marcha neste ano no Montijo);
1994: José Magalhães (AC Alfenense) e Isilda Gonçalves (CD Montijo);
1995: José Urbano (CCD Olivais Sul) e Isilda Gonçalves (CD Montijo);
1996: João Vieira (CN Rio Maior) e Sofia Avoila (CD Montijo);
1997: Sérgio Vieira (CN Rio Maior) e Susana Feitor (CN Rio Maior);
1998: Sérgio Vieira (CN Rio Maior) e Susana Feitor (CN Rio Maior);
1999: José Urbano (SL Benfica) e Susana Feitor (CN Rio Maior);
2000: não se realizou
2001: João Vieira (CN Rio Maior) e Susana Feitor (CN Rio Maior);
2002: Eduardo Mota (CO Desportivo) e Kristina Saltanovic (CN Rio Maior);
2003: Augusto Cardoso (FC Porto) e Maribel Gonçalves (GD Estreito).