Francisco Assis e a equipa de marcha atlética do SL Benfica em 1977. Fotos: Francisco Assis e arquivo «O Marchador» Montagem: O Marchador |
Há muito retirado das práticas atléticas (depois de ter sido atleta e treinador), Francisco Assis nunca perdeu, no entanto, a ligação moral a uma modalidade a que teve tão forte ligação como aquela protagonizada nesses alvores de reinstauração da democracia em Portugal. E recentemente teve a simpatia de remeter a «O Marchador» um apontamento que se publica na íntegra de seguida, com o gosto de uma retoma de contacto com uma das personalidades históricas da marcha atlética portuguesa.
A peça apresenta-se assinada por Frassino Machado, pseudónimo adoptado por Francisco Assis no mundo literário.
DESPORTO E CRIATIVIDADE – Frassino Machado
«A AURORA DA MARCHA EM PORTUGAL»
“A marcha atlética é uma disciplina olímpica da modalidade de atletismo em que os atletas têm que percorrer uma determinada distância, respeitando duas regras fundamentais: é necessário que um pé esteja em contacto com o solo antes de o outro avançar e a perna de apoio tem que estar estendida até que o pé da perna contrária pouse no solo.
A distância das provas de marcha atlética nos Jogos Olímpico tem variado ao longo da história. Actualmente existem provas de 20 e 50 km para os homens e 20 km para as mulheres.”
Comité Olímpico de Portugal
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“Com a criação da Comissão de Marcha do Sport Lisboa e Benfica, a agremiação lisboeta fica bem colocada para dar passos em frente no projecto de divulgar uma disciplina nova para quase toda a gente.
Encabeçando o grupo de trabalho estão o treinador Francisco Assis e os atletas Luís Dias, José Dias e José Pinto.”
O Marchador, 1977
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Pelos dois documentos, acima citados, avivamos a nossa memória com estes memorandos referentes à introdução da Marcha Atlética em Portugal.
Ocorreu este facto histórico-desportivo por meados da década de setenta do século passado, na altura em que eu iniciei as minhas actividades de treinador de atletismo, ao mesmo tempo que ainda era praticante na disciplina de meio-fundo, defendendo as cores do Sport Lisboa e Benfica.
Fi-lo convicto de que seria altamente positivo e necessário preencher uma lacuna nos calendários do Atletismo português, no que se referia à modalidade da Marcha Atlética Olímpica. Esta disciplina – relativamente ao Programa Oficial dos Jogos Olímpicos – era a única que não constava no nosso historial competitivo. E sendo eu, na altura, um dos responsáveis da formação jovem encarnada, achei que era uma boa oportunidade implementar-se esse objectivo.
Assim o pensei e assim se fez, mesmo tendo em conta as reacções contrárias de variadas entidades internas e externas. Com muito esforço e dedicação foram-se realizando algumas iniciativas que, paulatinamente, ganharam raiz e direito de representação, no âmbito do desporto nacional. Para isso foi determinante que este Projecto partisse de um dos grandes Clubes nacionais e fosse, por isso mesmo, divulgado por todo o país, de norte a sul.
À luz do exemplo que era dado pelas cores benfiquistas, em provas realizadas para todas as idades – desde as classes infantis até aos veteranos, logo muitos outros clubes e agremiações nacionais aderiram entusiasticamente.
Não demorou muito, cerca de meia dúzia de anos, que as altas Instâncias nacionais – Associação de Atletismo de Lisboa, outras Associações desportivas do país e, finalmente, a Federação Portuguesa de Atletismo – acabaram por formalizar este Projecto e aprovaram em peso a sua integração em todas as competições e em todos os Calendários nacionais.
Começou por ser uma batalha, uma guerra e uma causa a que eu chamarei intencionalmente, e por bem, a “Aurora da Marcha em Portugal”. A partir dela, o movimento geral acerca da prática da Marcha Atlética, converteu-se num fenómeno desportivo envolvente, complementar ao nosso desígnio educacional, só talvez equivalente ao grande sucesso que, em paralelo, ocorreu com o meio-fundo e fundo nacionais. Nasceram e cresceram os praticantes, nasceram e cresceram os ídolos da nossa juventude, consagrou-se a fama do Atletismo Português.
Por mim, cumprida esta missão e este sonho perfeitamente criativo e humanista, deixei seguir o Fenómeno para as mãos dos verdadeiros titulares desta tarefa desportiva. Ninguém melhor que os atletas pioneiros da prática da Marcha em Portugal para assumir naturalmente o leme desta mesma missão. E foi isso mesmo o que aconteceu. Estou convicto que valeu a pena lutar, arriscar, confrontar… porquê? Porque os resultados foram mais que evidentes: as performances competitivas e os títulos de destaque obtidos ao longo de todos estes anos até hoje, não só por atletas masculinos, como também por atletas femininas, assim o confirmaram e justificaram.
Não interessa – por fugir do estrito âmbito deste artigo – citar nomes e títulos alcançados. Seria uma listagem muito longa e fastidiosa. Para isso existem consultas que todos poderemos fazer, como também estatísticas que sobejamente são referenciadas em diversos quadrantes do nosso horizonte desportivo.
Mas não quero terminar este testemunho sem realçar, de uma forma clara: quando os «projectos» são seguros e coerentes, toda e qualquer utopia, mesmo contra oposições declaradas e poderosas, tende a derrubar barreiras e a criar novas e lógicas formas de desígnios desportivos, educacionais, sociais e culturais.
Quero ainda – por ser justa e merecida – registar aqui a minha homenagem a todos os pioneiros que referi e a desejar para eles e seus seguidores os melhores auspícios e sucessos desportivos.
Professor Francisco de Assis / Frassino Machado