quarta-feira, 20 de maio de 2020

A medalha de Portugal nos 50 km marcha masculinos da Taça da Europa

O evento em Cheboksary 2003 e a equipa portuguesa de 50 km, com Jorge Costa,
Pedro Martins, Mário Contreiras e Luís Gil. Fotos: LOC Cheboksary e arq. «O Marchador»
Passaram-se 17 anos sobre a conquista da primeira medalha coletiva de uma seleção portuguesa de marcha em Taças da Europa ou do Mundo da especialidade, inédita no contexto masculino.

Em maio de 2003, a cidade de Cheboksary, na Rússia, recebia a quinta edição da Taça da Europa de Marcha, numa magnífica organização do governo autónomo da Chuvásquia e à qual assistiram cerca de 75 mil pessoas.

Nos 50 km masculinos, a Rússia foi avassaladora, conquistando a medalha de ouro coletiva. German Skurygin, Aleksey Voyevodin e Semen Lovkin entraram para o pódio individual por essa ordem. A Espanha viria a garantir o segundo lugar coletivo graças às notáveis prestações dos seus três melhores atletas. Santiago Pérez, hoje o técnico nacional de marcha do país vizinho, foi o líder da equipa espanhola ao classificar-se num formidável 4.º lugar e logo atrás chegaram os seus companheiros de seleção, Francisco Pinardo (5.º) e Mario Avellaneda (7.º), com a «reserva» russa chamada Stepan Yudin intercalada na sexta posição.

A conquista da medalha de bronze pela equipa nacional de 50 km na Taça da Europa de Marcha constituiu um dos maiores sucessos internacionais da marcha portuguesa, graças a um conjunto de prestação ao nível do máximo que pode ser exigido. Tudo acabou por correr bem e estes enfermeiros, carteiros, guardas e trabalhadores hoteleiros que tiveram no bronze de Cheboksary um verdadeiro título europeu de amadores.

Pedro Martins, então o hexacampeão de Portugal da distância, fez as honras nacionais e chegou ao 10.º lugar, a melhor classificação de sempre de atletas portugueses na prova longa em Taças da Europa. Com 26 internacionalizações, viria a representar o país em 11 edições da competição, desde a estreia, na edição da Corunha, em 1996, até à edição de Múrcia, em 2015, isto de forma ininterrupta. Em Taças do Mundo foram 7 as edições em que tomou parte, de 1997 a 2012.

Jorge Costa, que começou pelos vigésimos lugares, acabou a prova precisamente em 20.º, graças a um andamento constante. Ainda assim, nas 7 edições da Taça da Europa em que participou, o seu melhor resultado foi alcançado em Metz (2009) onde foi 13.º. Com 5 Taças do Mundo no currículo, chegou às 18 internacionalizações terminando a carreira em 2011, na Taça da Europa de Olhão, precisamente na sua terra natal.

Luís Gil, que melhorou o seu recorde pessoal em quase cinco minutos, andara meio perdido na classificação até cerca dos 20 km, que cumpriu no 39.º lugar. Daí até terminar em 24.º foi uma cavalgada assente na consciência do valor e na inteligência tática. Com 6 internacionalizações divide-as por participações em três Taças da Europa e outras tantas Taças do Mundo.

Mário Contreiras foi menos feliz no regresso à seleção nacional 12 anos depois de ter estado na Taça do Mundo de San José, em 1991. Até cerca dos 30 km andou sempre em ritmo que possibilitava um recorde pessoal, mas depois dessa fase viria a abandonar queixando-se de contratura numa coxa. Representaria ainda outra vez a seleção de Portugal na Taça do Mundo de Naumburg, em 2004.

Mas não se pense que a prestação portuguesa, nomeadamente, a da equipa de 50 km, terá sido um caso meramente fortuito. Na Taça do Mundo de 2004 (Naumburg) e nas Taças da Europa de 2007 (Leamington), e 2009 (Metz), a seleção nacional classificara-se sempre em 4.º lugar. Na edição francesa ficou mesmo em igualdade pontual com a Itália que obteria a medalha de bronze por ser seu o melhor classificado na prova, resultado que teria sido diferente se, por exemplo, o mesmo facto tivesse ocorrido numa Taça do Mundo onde o critério de desempate seria em favor da equipa que primeiro fechasse com o seu terceiro elemento….

“11 vezes baixei das 4h00 e 3 vezes abaixo das 3h57”, escreveu o olímpico Pedro Martins na sua página pessoal de Facebook, ao assinalar a efeméride, acrescentando, em tom sorridente, que …fazíamos melhor a treinar que agora a maioria a competir. Outro olímpico, o Jorge Costa haveria de comentar, a propósito do tema: “Vamos vivendo das boas recordações, foi em 2003, já passaram 17 anos, e o facto é que mesmo velhos ninguém ainda fez melhor. Éramos doidos a treinar, sacrifícios que os novos não fazem e depois querem resultados.”