José Pinto e os Jogos Olímpicos. Foto: Acácio Franco/LUSA |
Quando Carlos Lopes conquistou o título olímpico da prova da maratona dos
Jogos de Montreal, em 1976, iniciando um ciclo de êxitos para o atletismo
português, a marcha atlética no nosso país dava as suas primeiras passadas, num
caminho carregado de obstáculos.
Em finais de 1974, em Viseu, sob o impulso de José Madeira, realizaram-se
atividades competitivas que reuniram cerca de oito centenas de participantes,
destacando-se, de todos quantos participaram na prova, Carlos Albano. O gosto
pela marcha surgiu no verão daquele ano quando assistia, na sua casa, em
Silgueiros, e na companhia de Fonseca e Costa e Rui Mingas, a mais uma jornada
dos europeus de Roma, observando, com muita atenção, os marchadores que
terminavam a sua prova. Foi internacional nos 50 km marcha, na primeira vez que
Portugal participou numa Taça do Mundo (Nova Iorque, 1987).
Em 1975, na zona da Póvoa de Santa Iria, o francês Raymond Ismal e o seu
amigo e colega de trabalho, Aires Denis, dinamizavam a atividade fomentando
competições em toda aquela área do estuário do Tejo e no Magoito (Sintra). A
Associação de Atletismo de Lisboa (sobretudo através de Mário Paiva) apadrinhou
o esforço de Aires Denis e companheiros, integrando o dirigente povoense na
estrutura diretiva.
Ainda em 1975, em Lisboa, na pista de atletismo do Sport Lisboa e Benfica,
Francisco Assis, que coordenava um programa lançado pela então Direção-Geral
dos Desportos, na captação de jovens para o atletismo, introduzia a
desconhecida disciplina da marcha atlética no conjunto das outras
especialidades do atletismo e com isso ganhava os primeiros especialistas. Que
continuariam o trabalho de promoção e de luta pela institucionalização da
especialidade. A marcha entrou no Torneio dos Bairros desse ano e ainda se
realizaram provas em redor do antigo Estádio da Luz, sob impulso de, entre
outros, Arnaldo Santos, que foi presidente do Conselho de Arbitragem da
Federação Portuguesa de Atletismo.
E foi José Pinto, um dos marchadores que mais se distinguiram nas atividades
levadas a efeito por Assis, que se revelaria internacionalmente. Passando a
representar o Clube de Futebol “Os Belenenses”, numa política concertada de
“sementeira” da especialidade por outros clubes da região de Lisboa, Pinto foi
o grande dominador da marcha atlética portuguesa na década de 80.
Foi o primeiro marchador português a estar representado nuns Jogos
Olímpicos e o único atleta masculino, até aos dias de hoje, a conquistar uma
posição nos oito primeiros lugares. Los Angeles, em 1984, marcou um novo ciclo
para a especialidade em Portugal. A imprensa desportiva e generalista deu
grande destaque ao resultado do José Pinto abrindo-se novas portas à aceitação
pela FPA da integração da especialidade no âmbito dos programas dos campeonatos
nacionais.
Carlos Miranda, diretor do jornal “A Bola”, entre 1975 e 1992, e
seu enviado-especial a vários Jogos Olímpicos, relatava assim a proeza de José
Pinto:
“ Classificando-se em oitavo lugar na prova de 50 km marcha dos
Jogos Olímpicos, o belenense José Pinto recebeu justo prémio, para a sua
perseverança, para a sua para a sua teima em favor da difícil e mal-amada
disciplina, e prémio, igualmente, para o seu progredir, para a sua categoria,
que tem já de ser considerada a nível internacional.
E dá vontade de perguntar se Portugal, com tão poucos
praticantes a sério, só com um de nível internacional, foi capaz de ir buscar o
oitavo lugar nestes Jogos, que poderia acontecer se a marcha fosse acarinhada e
recebesse tratamento prioritário, no estilo do que recebem o fundo e o
meio-fundo, pois os portugueses parecem ter qualidades para a especialidade.
Isto sem humorismos baratos e sem referência a dificuldades económicas...”