domingo, 10 de julho de 2016

Yohann Diniz defende marcha nos europeus

Yohann Diniz e a vitória nos 50 km dos europeus de Zurique-2014.
Foto: SRF. Imagem: Toonafish. Montagem: O Marchador
Enviando uma palavra de incentivo ao companheiros da selecção francesa a competir nos Campeonatos da Europa de Atletismo que decorrem em Amesterdão (Holanda), o marchador francês Yohann Diniz considerou esta semana «prejudicial para a nossa disciplina» que a marcha atlética não integre o programa desses campeonatos, como passa a suceder de duas em duas edições dos europeus de pista ao ar livre.

«Devo sublinhar», escreveu Diniz num «post» no Facebook, «que não há marcha atlética no programa [dos europeus de Amesterdão] e considero isso prejudicial para a nossa disciplina. O que é que custava pôr uma prova de 20 km nos campeonatos europeus para os nossos jovens ou para os que não se qualificaram para os Jogos Olímpicos?»

E logo de seguida perguntou por que razão não se encontrou uma prova de marcha para o programa quando a maratona foi substituída pela meia-maratona.

Procurando responsáveis pela situação, Diniz pergunta ainda: «O que fazem os dirigentes e os atletas eleitos para as comissões? É que, assim, a marcha afasta-se ainda mais do atletismo. É preciso pensar também nos atletas e na nossa disciplina.»

Um conjunto de comentários como estes mereceria sempre a devida atenção, mas mais ainda quando vem de um recordista mundial e tricampeão da Europa de 50 km marcha e recordista europeu de 20 km. Atleta muito experiente e sensível às questões da alta competição, Yohann Diniz toca numa questão sensível, que é mais uma vez a evidente discriminação negativa dos marchadores e da marcha atlética enquanto disciplina do atletismo.

Poderá discutir-se a concepção de uma integração de provas de marcha para fins de valorização de jovens ou de consagração de atletas não apurados para competições de maior importância. Mas é indiscutível que uns europeus de atletismo sem marcha são uns campeonatos coxos. Na verdade, não são campeonatos europeus de atletismo mas campeonatos europeus de algumas disciplinas de atletismo. E aqui levanta-se a questão de saber (como, de resto, Diniz questiona) o que se anda a querer fazer com a marcha no conjunto do atletismo internacional.

Há poucos dias, a Associação Europeia de Atletismo publicou uma «Newsletter» com uma entrevista que falava (logo no título) de «um grande salto em frente». O entrevistado referia a necessidade de o atletismo se adaptar aos novos tempos, onde urge recuperar as grandes audiências nos estádios e o público jovem. Foi nesse contexto que o novo presidente da associação europeia, Svein Arne Hansen, foi escolhido para liderar uma mudança de rumo. E foi para essa mudança que se criou o Projecto Inovação, cujo objectivo é identificar soluções para os problemas que o atletismo europeu (e mundial) enfrenta actualmente.

Ainda que a decisão de alterar a frequência dos europeus de atletismo de quadrienais para bienais venha dos mandatos anteriores, essa decisão não pode desligar-se desta nova (?) vontade de inovar. Só que se a inovação passar pela discriminação ou pela desvalorização de disciplinas desta modalidade mais global que é o atletismo, poderemos estar no caminho errado.

Poderá conseguir-se melhorar a presença do atletismo enquanto objecto de negócio e torná-lo mercadoria valiosa. Poderá conseguir-se que o «marketing» funcione e atraia cada vez mais e melhores patrocinadores. Poderá até recuperar-se o público, que é o destinatário do espectáculo do atletismo. Mas se isso for feito à custa de parcelas do atletismo e da discriminação de certas especialidades, então não estaremos a dar «um grande salto em frente» mas no dealbar de um grande passo atrás.