Yohann Diniz e a vitória nos 50 km dos europeus de Zurique-2014. Foto: SRF. Imagem: Toonafish. Montagem: O Marchador |
Enviando uma palavra de incentivo ao
companheiros da selecção francesa a competir nos Campeonatos da Europa de
Atletismo que decorrem em Amesterdão (Holanda), o marchador francês Yohann
Diniz considerou esta semana «prejudicial para a nossa disciplina» que a marcha
atlética não integre o programa desses campeonatos, como passa a suceder de
duas em duas edições dos europeus de pista ao ar livre.
«Devo sublinhar», escreveu Diniz num
«post» no Facebook, «que não há marcha atlética no programa [dos europeus de
Amesterdão] e considero isso prejudicial para a nossa disciplina. O que é que
custava pôr uma prova de 20 km nos campeonatos europeus para os nossos jovens
ou para os que não se qualificaram para os Jogos Olímpicos?»
E logo de seguida perguntou por que
razão não se encontrou uma prova de marcha para o programa quando a maratona
foi substituída pela meia-maratona.
Procurando responsáveis pela
situação, Diniz pergunta ainda: «O que fazem os dirigentes e os atletas eleitos
para as comissões? É que, assim, a marcha afasta-se ainda mais do atletismo. É
preciso pensar também nos atletas e na nossa disciplina.»
Um conjunto de comentários como
estes mereceria sempre a devida atenção, mas mais ainda quando vem de um
recordista mundial e tricampeão da Europa de 50 km marcha e recordista europeu
de 20 km. Atleta muito experiente e sensível às questões da alta competição,
Yohann Diniz toca numa questão sensível, que é mais uma vez a evidente
discriminação negativa dos marchadores e da marcha atlética enquanto disciplina
do atletismo.
Poderá discutir-se a concepção de
uma integração de provas de marcha para fins de valorização de jovens ou de
consagração de atletas não apurados para competições de maior importância. Mas
é indiscutível que uns europeus de atletismo sem marcha são uns campeonatos
coxos. Na verdade, não são campeonatos europeus de atletismo mas campeonatos
europeus de algumas disciplinas de atletismo. E aqui levanta-se a questão de
saber (como, de resto, Diniz questiona) o que se anda a querer fazer com a
marcha no conjunto do atletismo internacional.
Há poucos dias, a Associação
Europeia de Atletismo publicou uma «Newsletter» com uma entrevista que falava
(logo no título) de «um grande salto em frente». O entrevistado referia a
necessidade de o atletismo se adaptar aos novos tempos, onde urge recuperar as
grandes audiências nos estádios e o público jovem. Foi nesse contexto que o
novo presidente da associação europeia, Svein Arne Hansen, foi escolhido para
liderar uma mudança de rumo. E foi para essa mudança que se criou o Projecto
Inovação, cujo objectivo é identificar soluções para os problemas que o
atletismo europeu (e mundial) enfrenta actualmente.
Ainda que a decisão de alterar a
frequência dos europeus de atletismo de quadrienais para bienais venha dos
mandatos anteriores, essa decisão não pode desligar-se desta nova (?) vontade
de inovar. Só que se a inovação passar pela discriminação ou pela
desvalorização de disciplinas desta modalidade mais global que é o atletismo,
poderemos estar no caminho errado.
Poderá conseguir-se melhorar a
presença do atletismo enquanto objecto de negócio e torná-lo mercadoria
valiosa. Poderá conseguir-se que o «marketing» funcione e atraia cada vez mais
e melhores patrocinadores. Poderá até recuperar-se o público, que é o
destinatário do espectáculo do atletismo. Mas se isso for feito à custa de
parcelas do atletismo e da discriminação de certas especialidades, então não
estaremos a dar «um grande salto em frente» mas no dealbar de um grande passo
atrás.