sexta-feira, 8 de abril de 2022

“Tacinha” de Portugal a más horas

Montagem: O Marchador.

Foi com irreprimível estupefacção que se tomou conhecimento do programa-horário da Taça de Portugal de Marcha, a realizar em Faro este sábado, 9 de abril. Segundo o documento, as provas têm início às 9h00 da manhã, com a partida simultânea das provas masculina e feminina de 10 mil metros marcha, seguindo-se, uma hora mais tarde, as partidas das provas de 5000 metros.

Para além das imposições regulamentares respeitantes à hora limite de confirmação de participação e à apresentação na câmara de chamada, teremos sempre de considerar o período de aquecimento prévio à partida, o que obriga os atletas a estarem no local da prova pelo menos meia hora antes da partida (e já será um aquecimento feito à pressa!). Portanto, os participantes na primeira prova da jornada deverão encontrar-se na zona da competição por volta das 8h30, o mais tardar.

Ora, atendendo a que esta Taça de Portugal de Marcha tem lugar num sábado (de manhã) e num dos extremos do país (neste caso, o extremo sul, em Faro), parece aberrante que se tenha adoptado esta solução de programa-horário. Não consta que os praticantes de marcha atlética em Portugal (e os respetivos clubes) tenham uma relação profissional com a prática do atletismo. Tendo os atletas, os treinadores, os dirigentes e os juízes os respetivos compromissos profissionais ou escolares, é natural que não tenham facilidade (antes pelo contrário!) de se instalar em Faro de véspera para aí pernoitarem e poderem comparecer no local da competição sem prejuízos de maior em matéria de sono.

O mais provável é que viajem diretamente das respetivas residências para o estádio. Ou seja, terão de levantar-se de madrugada para garantir tempo seguro de viagem para chegar ao destino sem atrasos. Os atletas que residam em Faro ou próximo (digamos até uma distância de uma hora de deslocação) não estarão muito mal, mas essa realidade abrange apenas os atletas do Algarve e da faixa sul do distrito de Beja. Os restantes atletas terão de deslocar-se de zonas mais afastadas.

Afigura-se, por isso, de grande dificuldade e evidente transtorno chegar a Faro quando se parte de distritos a norte de Beja ou das Regiões Autónomas, situação que se traduz em evidente desvantagem para todos quantos não estão perto de Faro.

Numa Taça de Portugal organizada pela Federação Portuguesa de Atletismo, é muito difícil compreender esta situação e mais difícil ainda aceitá-la, de tão evidente que é a discriminação que resulta deste critério organizativo. E pode perguntar-se: que ideia foi esta de fazer iniciar um programa de provas numa ponta do país às 9h00 da manhã de um sábado?

Obviamente não se terá querido beneficiar uns atletas e respetivos clubes em detrimento de outros – tal coisa seria inimaginável e de maneira nenhuma se põe tal questão. Então cabe perguntar se não seria possível desenvolver aquele programa de provas noutra hora do dia – à tarde desse mesmo sábado, por exemplo. Terá a FPA procurado alguma alternativa?

Será que estamos naquele contexto em que a FPA quer financiar os grandes projetos (grandes competições nacionais) procurando apoios, por exemplo, de câmaras municipais? Se for isso, estamos perante um modo de financiamento legítimo e bem-vindo, mas que dificilmente funcionará para uma competição como a Taça de Portugal de Marcha. É de admitir que muitas autarquias poderiam «comprar» um campeonato nacional de corta-mato. Ou mesmo uns campeonatos de Portugal, uns nacionais de juniores etc. Mas uma Taça de Portugal de Marcha não será muito «vendável» num processo desses.

Se calhar, é por isso que estas provas de marcha em Faro têm lugar num sábado às 9h00 da manhã, quando à tarde, no mesmo local, acontecem os Campeonatos de Portugal de 10000 metros + Torneio Ibérico. Se calhar a FPA conseguiu financiamento para este programa de corridas e não teve o mesmo sucesso para a marcha, acabando por relegá-la para um horário de sobras, que não é útil para os marchadores e não prestigia quem tomou esta decisão profundamente lamentável.

Podíamos até apostar que ninguém se atreveria a fazer com as provas da tarde (campeonatos de corridas) o que foi feito com as que acabaram atiradas para o princípio da manhã (campeonatos de marcha).

Houve algum esforço de conciliação entre os dois programas?

Em resumo: uma decisão aberrante, que constitui quase um convite a que os atletas e os clubes de fora do Algarve não participem na Taça de Portugal de Marcha!