segunda-feira, 25 de abril de 2022

Bird-Smith põe fim a um conto-de-fadas quase perfeito

Dane Bird-Smith, nos campeonatos mundiais sub-20 de Moncton-2010, nos Jogos
Olímpicos do Rio-2016 e nos Commonwealth Games em Gold Coast-2018.
Fotos: Brent Wallance/VRWC, Getty Images e Commonwealth Games.
Montagem: O Marchador

O australiano Dane Bird-Smith decidiu dar por terminada a carreira de marchador de alto rendimento, numa decisão anunciada no início do corrente mês de Abril.

Com 14 internacionalizações pela Austrália em 15 anos de dedicação à marcha atlética, Bird-Smith conquistou uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, e medalhas de ouro nos Jogos Mundiais Universitários de Gwangju (2015) e nos Jogos da Comunidade Britânica de 2018, em Golden Coast – sempre nos 20 km marcha. Foi também 11 vezes campeão australiano e, retirando-se aos 29 anos, deixa em vigor o recorde dos 20 km dos Jogos da Comunidade Britânica (1.19.34 h, quando venceu em 2018).

Dane guarda consigo uma memória inapagável, de que os troféus são apenas a manifestação material. Em entrevista ao «site» da Federação Australiana de Atletismo, o atleta recorda o caminho percorrido até ao sucesso, começando pela quantidade de quilómetros percorridos como marchador, que representam duas voltas e meia à Terra pela Linha do Equador: «Fiz mais de 100 mil quilómetros em treino e cada passada foi tão importante como as que dava ao cortar a meta. As minhas recordações mais agradáveis serão sempre das sessões de treino que suportei, dos despiques que travei e daqueles que estavam comigo. Este conto-de-fadas constitui uma jornada mágica que me deixa orgulhoso das decisões que fui tendo de tomar ao longo do caminho.»

O agora ex-marchador explica a fórmula do sucesso: «O sonho olímpico que tinha em miúdo levou-me a uma fantástica viagem mundo fora. Tinha a vontade de ser o melhor e o meu espírito competitivo fez o resto, treino após treino, ano após ano. Empenhei-me de forma cada vez mais intensa, sem medo de falhar e com o sonho das medalhas.»

Filho de David Smith, também ele um prestigiado marchador australiano, Dane agradece penhorado ao pai pelo apoio permanente e pela presença de todos os dias. «Agradeço à minha equipa fantástica, desde logo ao meu pai, meu treinador, ele próprio participante em dois Jogos Olímpicos e que esteve ao meu lado em todas as sessões de treino. Obrigado por literalmente me teres carregado para casa no fim dos treinos mais duros ou em que eu atingia o limite das minhas capacidades. Tu foste a fonte de sabedoria e de coragem que me permitiu nunca duvidar de que tinha capacidade para me tornar um campeão», afirmou na mesma entrevista, estendendo o reconhecimento à Academia de Desporto de Queensland, ao fisioterapeuta James Thompson e aos amigos e família, que foram tendo paciência para as ausências e a indisponibilidade para o convívio determinadas pela condição de atleta de alto rendimento.

Depois dos Mundiais de Atletismo de Doha, em 2019, Dane apostou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, primeiro planeando o treino para esse desafio de 2020, depois reajustando o planeamento para 2021, em consequência da pandemia e do adiamento dos Jogos. Mas o desafio que prevaleceu foi o da família, que ganhou prioridade sobre a prática desportiva. «Estava empenhadíssimo nos Jogos de Tóquio. Mesmo depois de a Covid ter arrasado o calendário competitivo, 2021 continuava a ser o objectivo. Só que a vida familiar levou uma volta com o nascimento da nossa querida Astrid, com todas as fantásticas exigências da nova condição de pai», explicou.

Dane Bird-Smith conta também a história do Rio-2016. «Apesar de ter falhado por pouco a seleção para os Jogos de Londres de 2012, estabeleci como objectivo ser o melhor australiano de sempre nos 20 km marcha de uns Jogos Olímpicos. Durante quase quatro anos andei a escrever por toda a parte 1.19.35. Era uma marca três minutos melhor que o meu recorde pessoal. Todos os dias me levava aos limites para concretizar esse sonho. O resto é história conhecida», recorda, referindo-se ao facto de ter sido terceiro nessa prova, com 1.19.37 h.

Orgulhoso por ter podido representar o seu país nos mais importantes palcos atléticos mundiais desde os 16 anos, Dane Bird-Smith olha para trás e sente-se honrado pelo que atingiu, mas logo aponta em frente, visando novos desafios na formação académica, no trabalho com escolas e como pai. E conclui: «Sinto tristeza por dizer adeus e sem dúvida estarei sempre por perto para dar o meu apoio à nova geração, mas agora é chegado o momento para um novo capítulo na minha vida.»

Através do director-geral Andrew Faichney, a Federação Australiana de Atletismo felicitou Dane Bird-Smith, enaltecendo-lhe o sucesso da carreira desportiva e agradecendo-lhe o contributo que deu à marcha atlética e ao desporto em geral.