O início dos 20 km marcha femininos em Paris, a campeã olímpica, Jiayu Yang, e o pódio. Fotos: REUTERS/Amanda Perobelli, Grana/FIDAL e Xinhua/Li Gang. Montagem: O Marchador |
A chinesa Jiayu Yang sagrou-se esta quinta-feira campeã olímpica de 20 km marcha ao vencer em Paris a prova da distância em 1.25.54 h. A campeã mundial de Londres-2017 teve no pódio a companhia da espanhola María Pérez (1.26.19) e da australiana Jemima Montag (1.26.25), segunda e terceira classificadas, respectivamente.
Recordista mundial desde 20 de Março de 2021, quando fez 1.23.49 h, em Huangshan (China), Yang foi a primeira atleta na prova olímpica de Paris a impor ritmo capaz de marcar posição determinada na luta pela conquista do título em disputa. Aos cinco quilómetros de prova, liderava já com 21.34 m, sendo acompanhada apenas por Montag, Pérez, pela italiana Antonella Palmisano (campeã olímpica em título), pela peruana Kimberly García, pela espanhola Laura García-Caro, pela mexicana Alegna González, pela colombiana Lorena Arenas e pela chinesa Zhenxia Ma.
Nas voltas seguintes, a diferença de Yang para as restantes atletas foi sendo marcada de forma clara, com a chinesa a isolar-se em grande estilo, revelando boa técnica e grande descontracção. Ficava para trás um grupo com as restantes oito do pelotão de que descolava, a que se juntariam mais quatro atletas do grupo seguinte.
A meio da prova, Jiayu Yang creditava-se com um tempo de passagem de 43.06 m, que indiciava uma marca final de grande qualidade, ao contrário do que acontecera na competição masculina concluída minutos antes dos 20 km femininos. Mais atrás, com 33 segundos de atraso, o grupo começava a fragmentar-se, sob a liderança sobretudo de Jemima Montag e María Pérez.
No entanto, cerca dos 13 quilómetros de prova, seriam Pérez e Ma a isolar-se na perseguição a Yang, recuperando algum terreno. Tinham chegado a um atraso de 44 segundos, mas rapidamente começaram a diminuir a desvantagem.
Com três léguas percorridas, Yang continuava a liderar, com 1.04.47 h, com Pérez a 30 segundos e Ma a 32. Lorena Arenas, Jemima Montag e Zhenxia Ma também recuperavam em relação à chinesa líder, mas nas voltas seguintes (de mil metros), só a espanhola, a chinesa e a australiana pareciam com capacidade efectiva de apoquentar a comandante da prova.
Perante a evidente aproximação das perseguidoras, Yang teve de lançar mão de todas as energias que lhe restavam para manter o ritmo e, sobretudo, a posição de liderança, que começava a poder estar em risco. A reacção da chinesa susteve a reacção de María Pérez, Jemima Montag, de Lorena Arenas e de Zhenxia Ma, que acabou encaminhada para a zona de penalização, onde os dois minutos de paragem obrigatória lhe retiraram qualquer pretensão a bom lugar na classificação final.
Até à meta, pouco mais ocorreria, para além da confirmação dos lugares de honra. Nos terceiro e quarto lugares, respectivamente, Montag e Arenas asseguravam os únicos recordes nacionais batidos na prova, com a particularidade de a marca da australiana ser também recorde continental (Oceânia).
Entre as portuguesas, dois desempenhos distintos. Por um lado, Vitória Oliveira procurava uma posição entre as melhores portuguesas de sempre, se possível com marca condizente com o melhor do palmarés português da distância. Aos cinco quilómetros, a marca de passagem de 22.39 m prenunciava um resultado meritório. A meio da competição, a expectativa começava a enegrecer-se (10 km em 46.04), revelando uma segunda légua em 23.25 m. A terceira légua já foi cumprida em cerca de cinco minutos por quilómetro e tudo ficava comprometido em definitivo. A passagem aos 15 quilómetros em 1.10.38 h demonstrava isso mesmo e teve confirmação na meta, com 1.36.22 h. Em todo o caso, com o nível de resultados que a prova teve, uma marca da portuguesa que fosse quatro minutos melhor (ou seja, supondo uma segunda metade igual à primeira) continuaria insuficiente para sequer entrar nos 25 primeiros lugares. A marchadora do Benfica acabaria na 38.ª posição, com 1.36.22 h.
Por outro lado, Ana Cabecinha não tinha outro objectivo que não fosse o de despedir-se dos Jogos Olímpicos com uma quinta presença com a dignidade que se impunha a uma atleta que nas três primeiras presenças (Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016) alcançara sempre um lugar entre as oito primeiras (dois sextos lugares e um oitavo), além do 20.º lugar em Tóquio-2020, de permeio com outras excelentes classificações em mundiais e europeus de atletismo. Mãe há três meses, atleta escolhida para porta-estandarte de Portugal na cerimónia de abertura dos Jogos de Paris (com o canoísta Fernando Pimenta), a marchadora alentejana/algarvia desejava apenas concluir a prova e fechar o desempenho olímpico sem o brilho de outros tempos mas com a honra de quem sempre pôs o máximo de si em cada competição, mesmo em circunstâncias muito difíceis. E assim cumpriu. Tomou o último lugar da prova logo nos metros iniciais e aí se manteve até final, rolando quase sempre acima dos cinco minutos por quilómetro. Mas isso era o que menos importava, também não sendo relevante que tenha acabado no 43.º lugar, com 1.46.30 h. Essa é apenas a componente estatística de uma história que, na verdade, merecia melhor epílogo. Porque Ana Cabecinha o merecia.
Classificação
20 km femininos
1.ª, Jiayu Yang, 1996 (CHN - China), 1:25:54
2.ª, Maria Perez, 1996 (ESP - Espanha), 1:26:19
3.ª, Jemima Montag, 1998 (AUS - Austrália), 1:26:25
4.ª, Lorena Arenas, 1993 (COL - Colômbia), 1:27:03
5.ª, Alegna Gonzalez, 1999 (MEX - México), 1:27:14
6.ª, Glenda Morejon, 2000 (ECU - Equador), 1:27:37
7.ª, Laura Garcia-Caro, 1995 (ESP - Espanha), 1:28:12
8.ª, Evelyn Inga, 1998 (PER - Peru), 1:28:16
9.ª, Paula Milena Torres, 2000 (ECU - Equador), 1:28:48
10.ª, Cristina Montesinos, 1994 (ESP - Espanha), 1:29:11
11.ª, Zhenxia Ma, 1998 (CHN - China), 1:29:15 p.z.
12.ª, Mary Luz Andia, 2000 (PER - Peru), 1:29:24
13.ª, Erica Sena, 1985 (BRA - Brasil), 1:29:32
14.ª, Lyudmila Olyanovska, 1993 (UKR - Ucrânia), 1:29:55
15.ª, Clemence Beretta, 1997 (FRA - França), 1:29:55
16.ª, Kimberly Garcia Leon, 1993 (PER - Peru), 1:30:10
17.ª, Mariia Sakharuk, 1995 (UKR - Ucrânia), 1:30:12
18.ª, Viviane Lyra, 1993 (BRA - Brasil), 1:30:31 p.z.
19.ª, Magaly Beatriz Bonilla, 1992 (ECU - Equador), 1:30:33
20.ª, Olena Sobchuk, 1995 (UKR - Ucrânia), 1:31:12
21.ª, Hong Liu, 1987 (CHN - China), 1:31:24
22.ª, Antigoni Ntrismpioti, 1984 (GRE - Grécia), 1:31:33
23.ª, Eleonora Anna Giorgi, 1989 (ITA - Itália), 1:31:49
24.ª, Alejandra Ortega, 1994 (MEX - México), 1:31:58
25.ª, Camille Moutard, 2001 (FRA - França), 1:31:58
26.ª, Pauline Stey, 2001 (FRA - França), 1:31:59
27.ª, Eliska Martinkova, 2002 (CZE - República Checa), 1:32:30
28.ª, Saskia Feige, 1997 (GER - Alemanha), 1:33:23
29.ª, Rachelle De Orbeta, 2000 (PUR - Porto Rico), 1:33:33
30.ª, Katarzyna Zdzieblo, 1996 (POL - Polónia), 1:33:52
31.ª, Rebecca Henderson, 2001 (AUS - Austrália), 1:34:22
32.ª, Nanako Fujii, 1999 (JPN - Japão), 1:34:26 p.z.
33.ª, Rita Recsei, 1996 (HUN - Hungria), 1:34:39
34.ª, Maria Katerinka Czakova, 1988 (SVK - Eslováquia), 1:34:46
35.ª, Valentina Trapletti, 1985 (ITA - Itália), 1:35:39
36.ª, Gabriela De Sousa, 2002 (BRA - Brasil), 1:35:50
37.ª, Hana Burzalova, 2000 (SVK - Eslováquia), 1:36:12
38.ª, Vitoria Oliveira, 1992 (POR - Portugal), 1:36:22
39.ª, Ilse Guerrero, 1993 (MEX - México), 1:37:10
40.ª, Meryem Bekmez, 2000 (TUR - Turquia), 1:38:06
41.ª, Priyanka ., 1996 (IND - Índia), 1:39:55
42.ª, Viktoria Madarasz, 1985 (HUN - Hungria), 1:41:21
43.ª, Ana Cabecinha, 1984 (POR - Portugal), 1:46:30
Desistentes: Olivia Sandery, 2003 (AUS - Austrália) e Antonella Palmisano, 1991 (ITA - Itália).