segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Fernando Elias (Brasil), o demolidor de recordes – III

Fernando Elias na actualidade, concedendo uma entrevista à rádio
e exibindo alguns dos seus troféus. Fotos remetidas pela família Elias.
Apesar do sucesso desportivo na sua carreia, recheada pela obtenção de várias vitórias e títulos nacionais, o sonho de participar nuns Jogos Olímpicos se esfumou. Em 1976 a tristeza invadiu-lhe a alma por não ter sido selecionado para participar nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, apesar de ter conseguido realizar os mínimos. Mas, agora que os Jogos Olímpicos visitam o país, pela primeira vez, Fernando Elias poderá ter a oportunidade de transportar o facho olímpico e assim, de certa forma, tomar parte nesse que é um dos maiores acontecimentos à escala planetária. Ele, na primeira pessoa:

“Jogos Olímpicos de Montreal (1976).

Consegui obter o índice olímpico para os Jogos Olímpicos de Montreal em três ocasiões, foram competições nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, porém mesmo com a obtenção do índice, os dirigentes da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), órgão que regulamentava o atletismo à nível nacional na época, decidiram não levar nenhum atleta da marcha atlética. Essa decisão me causou profunda tristeza com o esporte que eu sempre amei, e começou a me mostrar que o esporte possui muitos outros fatores que algumas vezes são mais fortes que os resultados e o desempenho dos atletas.

Títulos e Recordes

Durante minha carreira na marcha atlética eu participei de competições nas mais variadas distâncias. Entre elas de 2Km, 3km, 5km, 10km, 20km, 30km e 50Km, consegui vencer em todas as distâncias e em muitas delas quebrei recordes. Cheguei a disputar cerca de 22 competições por ano.
Consegui vários títulos de campeão paulista (17 vezes) e estadual (8 vezes).Obtive êxito em Campeonatos brasileiros e Sul-americanos. Na marcha atlética quebrei 33 recordes em várias distâncias. Como andarilho participei e venci competições de 6 horas, 12 horas e 24 horas, sendo que nessas distâncias também quebrei recordes.
Estabeleci 36 recordes durante minha carreira, fato que originou apelido de “Demolidor de Recordes”. Esse apelido foi dado por jornalistas de um famoso jornal esportivo do Brasil (A Gazeta Esportiva) na época em que eu competia. 

Treinamento

Como no início da minha carreira eu não possuía apoio e nem suporte de instituições esportivas, eu improvisava meus treinamentos no quintal da minha casa. Eu tracei uma linha formando um percurso de 24 metros no perímetro do meu quintal. Dessa forma todos os treinamentos que me levaram a várias vitórias, inclusive à vitória que resultou na quebra do recorde sul-americano dos 50km de marcha atlética em 1972, foram executados no meu quintal. Cheguei a treinar mais de 18Km nessa mini-pista de 24m, que resultava em mais de 750 voltas.

Naquela época eu treinava e competia usando um tênis “conga”, que era um calçado muito popular no Brasil, mas certamente pouco apropriado para a disputa de uma competição tão técnica como a marcha atlética, porém como eu tinha limitações financeiras tinha que improvisar para continuar praticando o esporte que tanto gostava. Uma outra diferença nos meus treinamentos é que eu amarrava sobre os meus calçados uma placa de ferro maciço que pesava quase 1kg. Na época eu acreditava que esse fato fortalecia minha musculatura e auxiliava no aprimoramento da minha técnica de marcha. Coincidência ou não, eu competi por mais de 30 anos sem nenhuma lesão grave.

Treinador

No final da minha carreira como atleta, tive a oportunidade de atuar como técnico/treinador de vários atletas da modalidade marcha atlética que representaram o Brasil em várias competições internacionais como Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais, entre eles estão: Claúdio Luiz Bertonlino, Jocimar de Carvalho, Ademir Domingues e Cícero Sabino de Moura.

Motivação

Minha maior motivação sempre foi entrar em uma competição e conseguir o melhor resultado possível. Sempre busquei a melhor técnica alinhada com o melhor desempenho. As competições e treinamentos sempre foram momentos mágicos que me propiciavam uma plena sensação de realização. A marcha atlética propiciou muitas coisas além da minha realização pessoal e esportiva. Devo muitos momentos maravilhosos da minha vida à essa modalidade linda!

"O Marchador" agradece, especialmente, o contributo inestimável de Fernando Elias, dos filhos deste,  Jamile, Fernando e Tiago, pela peça apresentada e ricamente desenvolvida, e ainda pelo seu trabalho de pesquisa e recolha da vasta documentação, inserta na imprensa brasileira da época.

Também, o nosso obrigado a Mário dos Santos Júnior, que nos forneceu a "dica" ao assinalar, na sua página de facebook, o aniversário de Fernando Elias, elogiando as suas qualidades humanas e de atleta.

Um BEM-HAJA a todos!