José Ignacio Díaz. Fotos: Hagen Pohle/RaceWalk Pictures, Tulio M. Puglia/Getty Images e Jeff Salvage/Racewalk.com. Montagem: O Marchador |
É uma das grandes figuras da marcha espanhola das últimas duas décadas: José Ignacio Díaz Velázquez decidiu pôr termo à carreira competitiva como marchador. Ao fim de 23 temporadas como sénior, o atleta do F.C. Barcelona retira-se como um dos mais discretos e respeitados campeões espanhóis de marcha (e que valor têm os campeões espanhóis de marcha!).
Nascido em Madrid a 22 de Novembro de 1979, José Ignacio Díaz somou desde 2005 um total de 22 internacionalizações, que incluem seis presenças em campeonatos do mundo de atletismo e a participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Tomou parte igualmente em taças do mundo e da Europa de marcha, europeus de atletismo, campeonatos iberoamericanos de atletismo e encontros internacionais, numa distribuição que não podia ser mais equilibrada entre provas de 20 km e de 50 km marcha: 11 de cada.
Nessas chamadas internacionais, os desempenhos mais significativos foram o 5.º lugar nos 50 km da taça do mundo de marcha de Roma em 2016 (a primeira edição com a designação de Campeonato do Mundo de Selecções de Marcha e onde o atleta obteve qualificação para os Jogos Olímpicos do Rio) e, em competições exclusivamente individuais, o 9.º lugar nos 50 km dos europeus de Berlim de 2018 e o 2.º lugar nos 20 km dos iberoamericanos de Ponce, em 2006.
No âmbito interno, José Ignacio Díaz teve o momento mais alto quando, em 2017, se sagrou campeão absoluto de Espanha de 50 km em estrada, em El Hierro.
Nos registos estatísticos, o marchador do F.C. Barcelona apresenta recordes pessoais de 1.21.48 h nos 20 km (2006) e 3.48.08 h nos 50 km (2017, mundiais de Londres). Outros máximos pessoais na marcha: 5000 m, 19.21,63 m (2005); 5 km, 19.36 m (2007); 10.000 m, 40.52,47 m (2007); 10 km, 39.10 m (2006); 20.000 m, 1.30.43,27 h (2006); 35 km, 2.41.33 h (2015).
Mas a carreira de um atleta não se resume à frieza dos números. Contam muito, também, as qualidades que não se reflectem principalmente no plano físico, mas sim nos âmbitos social e cultural. A esse respeito, cabe reproduzir o que José Antonio Quintana assinalava num texto publicado no diário desportivo espanhol «Marca» sobre o elevado perfil ético do atleta que orientou nestes vinte anos de actividade competitiva: «Em vinte anos nunca lhe vi um gesto menos correcto fosse com quem fosse; a sua educação e o respeito pelos demais foram excepcionais. Onde quer que tivéssemos ido, vi sempre como era respeitado por colegas, adversários, serviços médicos, juízes, público... E esse respeito conquista-se no dia-a-dia».
Numa entrevista dada em Maio ao «site» da Real Federação Espanhola de Atletismo, José Ignacio Díaz mostrava-se crítico em relação à exclusão das provas da sua distância preferida, os 50 km marcha, dos programas das grandes competições internacionais (a última deverá ter lugar no próximo dia 8 de Agosto, em Sapporo, no Japão, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio). Disse então o atleta: «Tenho muita pena. Aceito a decisão, mas devo ser um romântico e não consigo entendê-la. Acho muito bem que mudem as tendências de consumo e prevaleçam o imediatismo e os 'likes' nas redes sociais, mas ninguém me convence de que isso seja o melhor. Para mim, o desporto e a vida são coisas distintas.»
Um quarto de século depois dos primeiros passos dados na escola de atletismo do Barrio de La Concepción, em Madrid, onde haveria de iniciar-se também na marcha pela mão do antigo internacional Samuel Ginés, a última prova oficial de José Ignacio Díaz teve lugar no passado fim-de-semana em Getafe, durante os Campeonatos de Espanha de Atletismo, onde o marchador do Barcelona, com 41 anos, alcançou o 11.º lugar nos 10 mil metros marcha, com 42.22,75 m.
Segue-se agora uma carreira profissional no domínio da fisioterapia e, quem sabe?... treinando jovens atletas que possam beneficiar do seu conhecimento e do seu exemplo de desportista.