quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Luta contra a dopagem, acontecimento internacional de 2014

Foto: Schaatsen
A luta contra a dopagem conheceu em 2014 alguns desenvolvimentos muito interessantes no que se refere à marcha atlética. Por um lado foi a sucessão de casos de análises positivas e de detecção de anomalias nos passaportes biológicos de atletas (sobretudo russos) que se viram desapossados de galardões e de marcas e que acabaram a cumprir penas de suspensão. Por outro lado foi o desenvolvimento de processos judiciais em Itália que, apesar de não terem ainda resultado em veredictos, não deixaram de lançar um pouco mais de luz sobre algumas «relações perigosas» estabelecidas entre diferentes agentes do nosso desporto.

Tanto nos casos verificados na Rússia como nos de Itália, o envolvimento não foi apenas de atletas, mas também de treinadores, dirigentes e outros intervenientes no processo de treino e de competição. Deve, no entanto, ficar claro que há diferenças muito relevantes nuns casos e noutros, sobretudo em matéria de facto: há processos já concluídos e com aplicação de sanções e há casos que permanecem em análise (ou julgamento), não tendo por isso havido incriminação seja de quem for. Em todo o caso e considerando o que está à vista, muita gente com responsabilidades na organização do desporto sabia de várias situações no mínimo suspeitas, mas todos (ou quase todos) calavam o que sabiam e permitiam a «marosca».

É claro que este não é um problema apenas da marcha atlética. Muito longe disso! E se neste blogue se dá relevo aos problemas da dopagem associados à marcha é pela simples razão de que este é um espaço dedicado apenas a esta modalidade desportiva. Mas tal facto não impede que se reconheça como muito triste a revelação dos casos de falta de verdade de alguns resultados e os atentados cometidos contra a saúde de atletas, ao mesmo tempo que nos regozijamos com a capacidade demonstrada por algumas entidades para apanhar batoteiros.

O sistema parece funcionar, mas... sabe-se lá quantos prevaricadores continuam a escapar. Provavelmente não é exagero imaginar que continuam a ser mais os casos não apanhados do que os descobertos. Além disso, continua a não se perceber por que razão o sistema parece estar a funcionar bem (ou menos mal) em alguns países (poucos) enquanto dos restantes parece não haver notícia de grande empenho com vista a campanhas eficazes de investigação.

Assinala-se a estranheza pelo facto de quase todos os casos de dopagem entre marchadores conhecidos em 2014 reportarem a um único país, a Rússia (e em especial à escola de Saransk), e sublinha-se a urgência de medidas mais eficientes no combate ao «doping». Mas quem acompanha a realidade da marcha atlética para lá dos relatórios oficiais e de vez em quando passa, por exemplo, pelas redes sociais não pode deixar de suspeitar de algumas estranhas relações entre atletas, ex-atletas, treinadores, políticos, dirigentes, juízes e familiares, todos a suscitarem dúvidas sobre a benevolência ou as aparentes boas intenções de certos agentes, muito para lá dos casos mais espectaculares a que pudemos assistir nos últimos meses.

Seja com o for, os casos tornados públicos ao longo do ano que agora termina fazem do combate à dopagem o acontecimento internacional de 2014, mesmo que, na verdade, não se trate de um acontecimento mas de uma série de acontecimentos (ou de casos).