domingo, 7 de dezembro de 2014

Documentário alemão acusa Rússia de dopagem sistemática

Fotograma do documentário «Wie Russland seine
Sieger macht», emitido quarta-feita pela ARD.
Um documentário emitido esta quarta-feira pelo primeiro canal da televisão pública alemã ARD garante que a Rússia mantém um sistema organizado de dopagem sistemática e que 99 por cento dos atletas internacionais são dopados. O programa, com o título «Wie Russland seine Sieger macht» («Como a Rússia produz os seus campeões»), afirma que há dirigentes da Federação Russa de Atletismo a serem pagos para fornecerem substâncias proibidas e a aceitarem subornos para encobrirem casos de testes positivos.

As acusações envolvem ainda a Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA) no processo de encobrimento dos casos detectados. No entanto, a AIFA e a Agência Mundial Antidopagem garantem que irão prestar atenção às acusações, enquanto a federação russa considera falsas as acusações.

Uma das atletas ouvidas no documentário da autoria de Hajo Seppelt é a antiga lançadora de disco Evgeniya Pecherina, que afirma serem as substâncias proibidas usadas por uma maioria de 99 por cento dos atletas internacionais russos. «Consegue-se obter seja o que for que o atleta queira», afirma a atleta de 25 anos, actualmente a cumprir uma suspensão de 10 anos, depois de uma primeira punição de dois anos, em 2011.

Também a fundista Liliya Shobukhova, vencedora da maratona de Londres de 2010, faz revelações importantes no programa, admitindo ter pago o equivalente a 450 mil euros à Federação Russa de Atletismo para que não fosse divulgada uma análise positiva.

O programa transmitido na televisão alemã surge num momento em que a marcha atlética russa tem sido abalada por sucessivos casos de suspensão de atletas devido a análises positivas de «doping» ou a desconformidades nos respectivos passaportes biológicos. De resto, tanto por imagens como por história contada, a marcha não deixou de ser referida (ainda que indirectamente) neste documentário.

Recorde-se ainda que, recentemente, o ministro russo do Desporto, Vitaliy Mutko, defendeu em entrevista o trabalho desenvolvido no Centro de Preparação Olímpica de Saransk, de onde são oriundos mais de uma dúzia de marchadores sancionados por dopagem nos últimos dois anos. Na mesma ocasião, o governante elogiou o talento de Viktor Chyogin, o treinador responsável pela orientação técnica desses atletas, dando a entender que o problema não estava nos métodos utilizados no centro de treino mas na competência com que esses métodos eram postos em prática.

Para além da importância das revelações feitas no programa, importa ter em conta a situação política e militar vivida actualmente no leste europeu, a que parece corresponder a escalada de uma segunda guerra fria. No passado, o confronto leste-oeste teve no desporto um importante cenário de confrontos, não apenas no plano competitivo mas também na domínio das acusações recíprocas em matéria de dopagem.

Aliás, seria por certo muito interessante a realização de documentários sobre a mesma temática noutros países, o que haveria de resultar em revelações se calhar não menos espantosas. Tenha-se em conta as recentes descobertas de que ao «doping» de estado na RDA, largamente denunciado após a queda do muro de Berlim, correspondia, afinal, um procedimento semelhante na RFA.

O documentário (em alemão) pode ser visto aqui.