Imagens: FPA e Siker. Montagem: O Marchador |
Na edição inaugural dos Campeonatos Nacionais de Sub-16, agendada para o fim de semana de 15/16 de junho, a disciplina da marcha atlética não vai ter assento no programa competitivo, assim determinou a Federação Portuguesa de Atletismo. Curiosamente, o evento vai ter lugar numa cidade talismã para a disciplina pois foi aí que se deram os primeiros passos no seu renascimento, em dezembro de 1974, assinalando-se este ano o seu 50º aniversário.
Trata-se de um mau serviço prestado pela Federação Portuguesa de Atletismo à modalidade e ao desporto na sua globalidade. E é, desde logo, um mau exemplo no plano ético, dado representar uma atitude que se deseja arredada do sistema desportivo, pela negação que impõe ao direito à concretização da prática do desporto e pela violação evidente do princípio básico de garantia de condições de igualdade no acesso ao desporto.
Primeiro que tudo, há uma consequência a extrair no plano concreto da especialidade entre os mais jovens. É que, retirando provas de marcha do programa deste marcante evento, a FPA elimina um fator de atração de jovens à prática da marcha atlética no país, criando, pelo contrário, um fator de desmotivação para atletas que possam interessar-se pela prática da marcha, ao contrário do que se verifica nos outros grupos de especialidades, que anualmente estarão sempre representados.
E, pelos vistos, não adianta invocar medalhas conquistadas além-fronteiras em campeonatos europeus e mundiais de escalões jovens, é certo que num passado já algo distante (o Torneio Nacional Olímpico Jovem Nacional é atualmente outro exemplo de limitação ao acesso de jovens marchadores), numa época em que não havia discriminação à introdução de provas da especialidade nos programas competitivos para jovens atletas. Para referir dois exemplos, temos os casos de Susana Feitor (15 anos, campeã mundial Sub-20, em 1990) e Sofia Avoila (18 anos, campeã europeia Sub-20, em 1996).
A título de (bom) exemplo, e para não irmos mais longe, vejamos o que fazem os nossos vizinhos espanhóis, esses sim, com uma visão global e assertiva do atletismo. Em 2002 foram aí realizados os seus primeiros campeonatos Sub-16 e nas suas 22 edições o programa competitivo sempre integrou provas da especialidade, sendo vários os atletas que neles tomaram parte e que hoje são figuras de topo mundial. Em contraponto, nos Nacionais de Viseu, a marcha atlética será o único setor do atletismo a não figurar no programa delineado pela FPA, ao contrário dos setores da velocidade e barreiras, lançamentos, saltos e provas combinadas e meio-fundo.