Rui Mingas. Foto: fb do próprio |
Morreu esta quinta-feira, 4 de Janeiro, em Lisboa, o político, diplomata, poeta e desportista angolano Rui Mingas, personalidade com uma ligação improvável (mas factual) ao ressurgimento da marcha atlética em Portugal, em 1974.
Mingas encontrava-se em casa de um familiar, António Fonseca e Costa (renomado treinador de atletismo), em Silgueiros, aldeia do distrito de Viseu, num dia em que se deu também a visita de Carlos Albano. Na televisão estava a ser transmitida mais uma jornada dos Campeonatos Europeus de Atletismo que decorriam em Roma (2 a 8 de Setembro de 1974). A atenção de todos foi chamada para a prova de marcha, uma especialidade que na época ainda não tinha praticantes em Portugal e onde era praticamente desconhecida.
Reza a história que, logo naquele momento e naquele mesmíssimo local (a sala de casa do Prof. Fonseca e Costa), Carlos Albano experimentou a técnica da marcha, abrindo caminho para uma percurso como praticante que haveria de levá-lo ao mais alto plano nacional da disciplina e a tornar-se mesmo atleta internacional de marcha, com participação na primeira equipa portuguesa a tomar parte em taças do mundo de marcha (Nova Iorque, 1987).
Rui Mingas foi apenas personagem secundária (ou até simples figurante) naquele episódio ocorrido em Silgueiros, mas a verdade é que, dessa forma, ficou para sempre, involuntariamente, ligado a um momento fundador da marcha atlética no nosso país.
No entanto, apesar de não ter qualquer outra ligação à marcha atlética, Rui Mingas não era estranho ao desporto nem, muito menos, ao atletismo. Bom especialista em barreiras altas e sobretudo no salto em altura, tornou-se recordista de Portugal da disciplina em 19 de Junho de 1960, com a marca de 1,90 m, menos de dois meses depois de ter igualado o recorde de 1,88 m que vinha já de vinte anos antes.
Atleta do Benfica nascido em Luanda (Angola) a 12 de Maio de 1939, desenvolveu nos anos seguintes actividade de resistente contra o colonialismo português, intervindo como poeta, cantor e compositor e sendo várias vezes preso pela polícia política do regime fascista. Após a independência do seu país, em 1975, foi co-autor (com Manuel Rui) do hino nacional, foi deputado do MPLA à Assembleia Nacional Popular e assumiu a pasta governamental de ministro da Educação Física e Desportos entre 1979 e 1989. Nos cinco anos seguintes (1990 a 1995) foi embaixador de Angola em Portugal.
Foi ainda da sua pena que surgiu o tema «Meninos do Huambo», celebrizado em 1985 por Paulo de Carvalho, que teve nessa composição um dos maiores êxitos da carreira de cantor.
Prova do grande prestígio que acumulou no plano internacional, Rui Mingas foi agraciado em 2010 com o Prémio de Arte, Cultura e Letras pela Academia Francesa de Educação e recebeu em 2016, em Lisboa, a distinção de «Personalidade Lusófona» atribuído pelo Movimento Internacional Lusófono.
Rui Mingas morreu esta quinta-feira, na sequência de doença prolongada.