Amaro Teixeira com uma boa parte do seu grupo de treino. Foto: João Pinheira. Montagem: O Marchador |
OM – Qual a sua
opinião sobre a disciplina no distrito de Castelo Branco, no momento atual?
AT – Penso que neste momento
no distrito de Castelo Branco há pouca ou nenhuma vontade por parte dos
treinadores em darem treinos de marcha atlética ou em incentivarem atletas para
tal. Penso que tenho sido um bom impulsionador desta disciplina e também um
exemplo para quem vê. A marcha atlética requer alguma paciência e atenção, por
exemplo a Inês, antes de começar a treinar comigo estava em outra equipa e
tinha pedido para aprender marcha atlética, mas não teve quem a orientasse
nessa área. Acho que andam por aí vários jovens que têm qualidade na marcha
atlética, mas por algum motivo, acabam às vezes por nunca experimentar.
Há também a mentalidade por
parte de muitos treinadores, que quando o atleta é bom nas outras disciplinas
não pode treinar nem se especializar na marcha, porque a marcha segundo eles é
para quem não é bom no resto, e com este tipo de pensamentos já perdi um jovem
que tinha qualidades técnicas em tudo o que fazia, logo não optou pela marcha
atlética, onde também tinha uma qualidade técnica exemplar e com enorme margem
de evolução.
OM – Que haveria
a fazer para o incremento do número de praticantes?
AT – Para o aumento de
praticantes penso que, em primeiro lugar, devia haver alguma ação de formação e
prática em que fossem todos os clubes do distrito só sobre marcha atlética e em
que treinadores e atletas não tivessem receio em aprender e em ensinar.
Nesta ação de formação seria
essencial também ter presentes 1 ou 2 atletas Olímpicos presentes a
transmitirem os seus conhecimentos e experiências. Numa fase posterior penso
que também fazer demonstrações nas escolas era importante.
Principalmente nos rapazes,
deparo-me com um grande problema, eles terem medo de praticar porque se os
amigos da escola sabem vão gozar com eles e alguns dizem mesmo que abanar o
rabo é para as mulheres. Nos clubes do distrito atualmente, ou existe alguém
com passado e experiência na marcha ou então a marcha atlética não é sequer
ensinada. Neste momento apenas eu e a Liliana Martins apresentamos atletas que
praticam esta disciplina.
OM - O que pensa
da situação da marcha atlética no país?
AT – Acho que a marcha
atlética comparando com os outros setores da Federação Portuguesa de Atletismo,
está muito bem representada, por exemplo em termos de jogos olímpicos acho que
é o único setor que nos últimos anos, tem apresentado 4 atletas do mesmo sexo e
para a mesma prova com mínimos, ficando sempre 1 atleta em casa.
Em geral temos um lote de
grandes atletas e em competições internacionais somos um dos setores com mais
expressão. Só acompanho mais a marcha atleta há cerca de 3 anos e o que tenho
visto é que vão sempre surgindo atletas de grande valia e por outro lado alguns
ficam pelo caminho.
Para isso também têm
contribuindo principalmente dois treinadores, Sr Jorge Miguel e Sr Paulo Murta,
o trabalho deles é um exemplo para qualquer um, mas sem dúvida que também
existem outros treinadores com grandes conhecimentos e que também vão surgindo com
atletas, como o meu treinador, Carlos Carmino, o antigo técnico nacional Luís
Dias, o João Gomes, o Manuel Silva, o António Pereira entre outros.
Mesmo assim com excelentes
resultados e provas dadas em provas internacionais o nosso sector é um pouco
desvalorizado e há quem diga que é mais fácil na marcha atlética atingir os
mínimos e as competições internacionais. Também por exemplo a nível de prémios
monetários em competições de marcha é uma discriminação grande em relação a
provas de corrida que facilmente dão 200 ou 300 euros. No geral a marcha
atlética acaba por ser um pouco olhada de lado e por exemplo quando se treina
numa pista em que no relvado treinam futebolistas dos escalões de formação,
existem sempre comentários negativos face ao gesto técnico da nossa disciplina.
A mentalidade portuguesa está também formatada para o futebol e tudo o resto
não é devidamente apoiado, temos excelentes atletas de várias modalidades que
têm imensas dificuldades face aos do futebol.
OM – Que projetos
tem em mente?
AT - Eu gostaria de ter um
grupo de marchadores ainda maior, de vários escalões a treinar marcha atlética
e a participar regularmente em competições, mas também não posso deixar para
trás o meu sonho enquanto atleta que passa por conseguir representar Portugal
numa fase inicial e depois de alcançar os mínimos para participar em Jogos
Olímpicos. Ou consigo melhorar substancialmente nos próximos 2/3 anos a minha
qualidade ou começa a ficar difícil.
Em 2017 também pretendia
alcançar a qualificação para o Campeonato do Mundo Universitário. Enquanto
treinador fico muito feliz com os êxitos que os meus atletas vão alcançando e
tento transmitir as experiências que tenho vivido ao longo de 13 anos que estou
ligado à modalidade. Sendo eu dos Açores, os meus atletas também vão sendo a
minha família cá na Covilhã. Ambicionava também conseguir futuramente realizar
um “Grande prémio de marcha atlética cidade da Covilhã” e que fosse uma prova
que pudesse reunir alguns dos melhores atletas nacionais.