domingo, 7 de fevereiro de 2016

Amaro Teixeira (Covilhã, Castelo Branco) na primeira pessoa – parte II

Amaro Teixeira com uma boa parte do seu grupo de treino.
Foto: João Pinheira. Montagem: O Marchador
OM – Qual a sua opinião sobre a disciplina no distrito de Castelo Branco, no momento atual?

AT – Penso que neste momento no distrito de Castelo Branco há pouca ou nenhuma vontade por parte dos treinadores em darem treinos de marcha atlética ou em incentivarem atletas para tal. Penso que tenho sido um bom impulsionador desta disciplina e também um exemplo para quem vê. A marcha atlética requer alguma paciência e atenção, por exemplo a Inês, antes de começar a treinar comigo estava em outra equipa e tinha pedido para aprender marcha atlética, mas não teve quem a orientasse nessa área. Acho que andam por aí vários jovens que têm qualidade na marcha atlética, mas por algum motivo, acabam às vezes por nunca experimentar.

Há também a mentalidade por parte de muitos treinadores, que quando o atleta é bom nas outras disciplinas não pode treinar nem se especializar na marcha, porque a marcha segundo eles é para quem não é bom no resto, e com este tipo de pensamentos já perdi um jovem que tinha qualidades técnicas em tudo o que fazia, logo não optou pela marcha atlética, onde também tinha uma qualidade técnica exemplar e com enorme margem de evolução.

OM – Que haveria a fazer para o incremento do número de praticantes?

AT – Para o aumento de praticantes penso que, em primeiro lugar, devia haver alguma ação de formação e prática em que fossem todos os clubes do distrito só sobre marcha atlética e em que treinadores e atletas não tivessem receio em aprender e em ensinar.

Nesta ação de formação seria essencial também ter presentes 1 ou 2 atletas Olímpicos presentes a transmitirem os seus conhecimentos e experiências. Numa fase posterior penso que também fazer demonstrações nas escolas era importante.

Principalmente nos rapazes, deparo-me com um grande problema, eles terem medo de praticar porque se os amigos da escola sabem vão gozar com eles e alguns dizem mesmo que abanar o rabo é para as mulheres. Nos clubes do distrito atualmente, ou existe alguém com passado e experiência na marcha ou então a marcha atlética não é sequer ensinada. Neste momento apenas eu e a Liliana Martins apresentamos atletas que praticam esta disciplina.

OM - O que pensa da situação da marcha atlética no país?

AT – Acho que a marcha atlética comparando com os outros setores da Federação Portuguesa de Atletismo, está muito bem representada, por exemplo em termos de jogos olímpicos acho que é o único setor que nos últimos anos, tem apresentado 4 atletas do mesmo sexo e para a mesma prova com mínimos, ficando sempre 1 atleta em casa.

Em geral temos um lote de grandes atletas e em competições internacionais somos um dos setores com mais expressão. Só acompanho mais a marcha atleta há cerca de 3 anos e o que tenho visto é que vão sempre surgindo atletas de grande valia e por outro lado alguns ficam pelo caminho.

Para isso também têm contribuindo principalmente dois treinadores, Sr Jorge Miguel e Sr Paulo Murta, o trabalho deles é um exemplo para qualquer um, mas sem dúvida que também existem outros treinadores com grandes conhecimentos e que também vão surgindo com atletas, como o meu treinador, Carlos Carmino, o antigo técnico nacional Luís Dias, o João Gomes, o Manuel Silva, o António Pereira entre outros.

Mesmo assim com excelentes resultados e provas dadas em provas internacionais o nosso sector é um pouco desvalorizado e há quem diga que é mais fácil na marcha atlética atingir os mínimos e as competições internacionais. Também por exemplo a nível de prémios monetários em competições de marcha é uma discriminação grande em relação a provas de corrida que facilmente dão 200 ou 300 euros. No geral a marcha atlética acaba por ser um pouco olhada de lado e por exemplo quando se treina numa pista em que no relvado treinam futebolistas dos escalões de formação, existem sempre comentários negativos face ao gesto técnico da nossa disciplina. A mentalidade portuguesa está também formatada para o futebol e tudo o resto não é devidamente apoiado, temos excelentes atletas de várias modalidades que têm imensas dificuldades face aos do futebol.

OM – Que projetos tem em mente?

AT - Eu gostaria de ter um grupo de marchadores ainda maior, de vários escalões a treinar marcha atlética e a participar regularmente em competições, mas também não posso deixar para trás o meu sonho enquanto atleta que passa por conseguir representar Portugal numa fase inicial e depois de alcançar os mínimos para participar em Jogos Olímpicos. Ou consigo melhorar substancialmente nos próximos 2/3 anos a minha qualidade ou começa a ficar difícil.

Em 2017 também pretendia alcançar a qualificação para o Campeonato do Mundo Universitário. Enquanto treinador fico muito feliz com os êxitos que os meus atletas vão alcançando e tento transmitir as experiências que tenho vivido ao longo de 13 anos que estou ligado à modalidade. Sendo eu dos Açores, os meus atletas também vão sendo a minha família cá na Covilhã. Ambicionava também conseguir futuramente realizar um “Grande prémio de marcha atlética cidade da Covilhã” e que fosse uma prova que pudesse reunir alguns dos melhores atletas nacionais.