Ayalnesh Dejene, nos mundiais de Cali. Foto: Getty Images |
É de todos conhecida a aptidão natural dos atletas etíopes para provas de resistência, onde têm granjeado imenso prestígio, principalmente nas disciplinas de meio-fundo e fundo, sendo frequente vê-los vencerem (muitas vezes em despique cerrado com atletas do Quénia) competições internacionais organizadas pela IAAF e ainda alguns dos mais prestigiados «meetings» internacionais, quebrando até recordes mundiais.
Ora, não seria de todo previsível que Dejene, nascida em 20 de janeiro de 1998, creditada com o tempo de 25.41,52, obtido em Addis Abeba (capital do país) em 9 de março do corrente ano, pudesse, sequer, ser considerada como candidata a uma das três medalhas em disputa.
As medalhas, essas, estariam “reservadas” a atletas russas e chinesas, que “enxameavam” o ranking mundial do ano, mas Dejene não se atemorizou e colocou-se no grupo da dianteira desde o tiro de partida. Na última volta à pista disputou, vitoriosamente, o terceiro lugar com uma das russas que depois viria a ser penalizada em 60 segundos em função de ter acumulado três faltas.
Embora não possuindo um “estilo” vistoso ao nível, pelo menos, das melhores europeias, a jovem africana lutou de igual para igual com as melhores do mundo na categoria, com toda a segurança técnica, provada e comprovada pelos seis juízes internacionais do painel da IAAF que fiscalizavam a competição, não sofrendo uma única falta.
A medalha de bronze obtida pela atleta da Etiópia nos mundiais de juvenis, com a excelente marca de 22.48,25, é a primeira na especialidade que aquele país do norte de África conquista em campeonatos mundiais, tendo paralelo, no que ao continente africano diz respeito, com a conseguida pelo tunisino Hatem Ghoula nos mundiais de Osaca, em 2007, onde alcançou, também sem que ninguém previsse, a medalha de bronze nos 20 km marcha.
A marcha atlética está implantada e consolidada em quatro continentes, América, Ásia, Europa e Oceânia, e com resultados relevantes em campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos.
África está agora a despertar para esta realidade com boas perspetivas de crescimento sob o ponto de vista quantitativo e, num futuro, não muito distante, esperam-na outras proezas nesta especialidade que é muito técnica mas, também, de resistência.