A Associação
Europeia de Atletismo (AEA), em articulação com a Associação Internacional de
Federações de Atletismo (AIFA), está a desenvolver um projecto experimental com
vista à eventual adopção da utilização de aparelhos voadores telecomandados
(vulgarmente chamados «drones») para transporte de boletins de ajuizamento em
provas de marcha atlética. A componente técnica e científica deste projecto é
assegurada pela empresa suíça de engenharia aeronáutica AveoTron, que neste
caso se constitui como parceira tecnológica da AEA.
Para o efeito,
foi construído um protótipo já experimentado na unidade de testes da empresa,
em Gruyères (Suíça). O objectivo do empreendimento é o de criar um sistema de
transferência célere de boletins dos juízes de marcha, a fim evitar a
circulação de ciclistas ou de patinadores nos circuitos, por vezes estreitos,
em que têm lugar as provas oficiais de marcha, sobretudo nas grandes
competições internacionais.
Para já, a
experiência foi feita com aparelhos de quatro hélices (elevadores,
estabilizadores e correctores direccionais), tendo o protótipo recebido já a
designação de Marcheur du ciel (ou, abreviadamente, «Duciel»), forma em francês
da expressão «marchador do céu». O motor utilizado assenta na utilização de
dois pistões de relance, com que se pretendeu dar maior fiabilidade ao
aparelho.
Em entrevista
telefónica a «O Marchador», um dos responsáveis pelo projecto (que pediu para
não ser identificado) garantiu que o estudo está a centrar-se sobretudo na
componente de segurança, uma vez que a parte técnica de motorização e carcaça
está já resolvida.
«A segurança é
para nós, agora, o mais importante», afirmou. «Este aparelho irá servir em
locais com possibilidade de presença massiva de pessoas. Tratando-se de provas
desportivas, poderão ser zonas muitos povoadas de atletas, treinadores, juízes
e sobretudo público a assistir. Isso implica o maior cuidado na utilização dos
aparelhos e a necessidade de estabelecer um rigoroso normativo de
procedimentos, acompanhado de um processo de formação dos operadores. Em todo o
caso, o risco não é grande, uma vez que o 'Duciel' será alimentado por baterias
electrolíticas, ou seja, não há o perigo de explosão que existiria se
estivéssemos a falar de um motor de combustão.»
Se os testes
assim exigirem, o perímetro de giro das pás poderá vir a ser delimitado por
gaiolas esféricas de rede larga, que protejam em caso de queda mas não impeçam
o normal funcionamento das hélices - e isso, a acontecer, será uma
originalidade em matéria de segurança, facto tanto mais importante quanto não
se trata aqui de utilização bélica destes aparelhos. Digamos que é uma
apropriação de «ideias de guerra» para fins de pacíficos.
Em todo o caso,
sabendo-se que existe sempre a possibilidade de uma falha que origine um
acidente, a nossa estimativa é de uma probabilidade de queda em cem mil
utilizações. Como se tratará de um objecto de pequena dimensão (não mais que 40
cm de envergadura) e de baixo peso (menos de 3 kg), o efeito de um acidente
causado por um exemplar do Duciel nunca deverá ser muito mais do que pouco
relevante. A própria configuração do aparelho está a ser reformulada, evitando
tanto quanto possível a existência de arestas e de vértices (nesta fase ainda
falta arredondar a caixa de porão). Com superfícies arredondadas e vários
pontos de fractura, o perigo de lesão provocada nas pessoas em caso de queda é
reduzido ao mínimo.
«Será pouco
mais do que estarmos junto de um pinheiro e cair-nos uma pinha madura na
cabeça», afirma o mesmo técnico, procurando dar um exemplo do que poderia ser o
efeito da queda de um drone destes num local com pessoas.
«O Marchador»
soube, entretanto, que está a ser estudada a possibilidade de substituir as
hélices por um sistema com recurso a navegadores por pressão bárica, solução
que evitaria o uso de hélices. O inconveniente desta possibilidade seria a
quase duplicação do peso do aparelho sem carga, mas sobre este assunto o
técnico da AveoTron não quis falar, manifestando estranheza por tal facto ser
do nosso conhecimento.
Depois da fase
de testes e após a elaboração do relatório técnico final, o projecto do Duciel
deverá ser apresentado ao Conselho da AEA em 2016 e, se aprovado, o sistema
deverá ser implementado de forma experimental na época desportiva de 2016/2017,
prevendo-se para 2018 a adopção definitiva destes drones em provas de marcha
realizadas sob a égide da AEA.
Para mais tarde
poderá ficar a ponderação sobre o eventual alargamento do uso dos drones a
outras especialidades do atletismo bem assim como a universalização do seu uso
à globalidade dos países e territórios filiados da AIFA.