Se os anos de 1974 a 1977 representam para a marcha atlética portuguesa um período de afirmação no plano nacional que prosseguirá nos anos seguintes, 1978 constitui o ano do primeiro contacto internacional de marchadores portugueses. No dia 21 de Maio, Luís Dias e José Dias integram a selecção de Lisboa que toma parte no VI Torneio Triangular Barcelona-Madrid-Lisboa, a que se juntam ainda atletas do cantão suíço de Genebra. As provas têm lugar na Pista Joan Serrahima, em Barcelona, e envolvem atletas das diferentes especialidades do atletismo, o que só por si já representa uma novidade: tratava-se da primeira ocasião em que marchadores portugueses eram integrados numa selecção de atletismo para uma competição internacional.
É certo que não se tratava ainda de uma selecção nacional, mas de uma representação regional – neste caso, uma selecção de Lisboa. Mas a inclusão de marchadores na delegação era já resultado do trabalho que vinha sendo realizado na capital por atletas, treinadores e dirigentes de clubes e onde tinha papel determinante o apoio da Associação de Atletismo de Lisboa, onde a abertura manifestada pelo respetivo presidente, Mário Paiva, tinha facilitado a criação de uma comissão regional de marcha, onde pontificavam dirigentes como Aires Denis e atletas como os que agora integravam aquela selecção.
A experiência da participação dos dois marchadores do Benfica no encontro de Barcelona viria a ser marcante, pela aprendizagem proporcionada. A diferença de valor competitivo entre os participantes era de tal ordem que os atletas portugueses consideraram no final que simplesmente andavam, enquanto os melhores espanhóis, esses sim, marchavam. E marchavam a ritmos muito mais elevados e com técnica muito mais apurada do que a dos incipientes portugueses.
Podendo cada equipa apresentar dois atletas por prova, a formação de Barcelona integrava dois especialistas de elevada craveira: José Marín e Jordi Llopart. Nos meses e anos seguintes, um e outro viriam a ser protagonistas de grandes desempenhos a nível europeu e mundial. Llopart sagrar-se-ia campeão europeu dos 50 km marcha três meses depois, em Praga, e conquistaria a medalha de prata na mesma distância nos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscovo; Marín conquistaria a medalha de ouro nos 20 km e a de prata nos 50 km dos europeus de 1982, em Atenas, a medalha de prata nos 20 km dos mundiais de 1983, em Helsínquia, e a medalha de bronze nos 20 km dos mundiais de 1987, em Roma. O mesmo é dizer que os jovens lisboetas, com menos de três anos de experiência de prática da marcha e num contexto de escasso desenvolvimento técnico da especialidade, tiveram uma primeira competição internacional com dois dos maiores expoentes mundiais da marcha.
Em todo o caso, como relataram depois, os irmãos Dias receberam da parte dos experientes colegas espanhóis palavras de incentivo que calaram fundo e representaram não só importante reforço de motivação para a prática da marcha mas também um impulso na tomada de consciência de que haveria que canalizar energias também para a formação de treinadores e de juízes como condição e passo imediato com vista ao desenvolvimento da marcha atlética em Portugal.
Para a história ficaram os resultados, com Luís Dias a ser o melhor português, estabelecendo um novo recorde nacional dos 10 mil metros marcha, com 53.22,1 m.
Entretanto, no âmbito nacional, o ano tinha começado com uma nova Comissão de Marcha da Associação de Atletismo de Lisboa (AAL), que entrou em funções em Janeiro, na sequência do Encontro de Marcha Atlética de 12 de Dezembro de 1977. A nova comissão da AAL era composta por Aires Denis, José Domingues, Albino Silva, Luís Dias e Paulo Alves, a que se juntava José Dias como observador.
A marcha tornava-se cada vez mais conhecida e apreciada, sendo disso testemunho uma inusitada iniciativa promovida pelo Departamento de Recreação da Direcção Geral dos Desportos (DGD) e levada a efeito em 4 de Junho de 1978, um domingo que era véspera do Dia Mundial do Ambiente. Era precisamente essa efeméride que o evento pretendia assinalar, através de uma prova (A Grande Marcha // Dia Mundial do Ambiente) na distância de 7200 metros, correspondendo ao percurso entre o Terreiro do Paço e a Torre de Belém. Era uma acção da DGD integrada no programa de sensibilização da população para a prática do desporto.
O que poucos esperariam era a extraordinária adesão de participantes, nada menos que 3500, um recorde de participantes em provas exclusivamente dedicadas à marcha que nunca mais foi atingido. A competição propriamente dita, essa, foi muito acesa na luta pelos primeiros lugares, com Luís Dias (SL Benfica) a impor-se a toda a concorrência e a confirmar-se como um dos grandes dominadores nacionais da disciplina. Completou a distância em 40 minutos, tendo tido no pódio a companhia de Avelino Ferreira (2.º) e Américo Silva.
Numa jornada a que a imprensa deu bastante atenção, contribuindo dessa forma para a propaganda da marcha como actividade desportiva, a iniciativa contou com a presença também de importantes personalidades da vida política e pública nacional, entre elas a do presidente da Comissão Nacional do Ambiente, Correia da Cunha, que era também presidente da Federação Portuguesa de Atletismo.
A gente da marcha tornou-se também agente de divulgação da marcha num âmbito geográfico mais alargado, estendendo a todo o país o seu impulso. É nesse contexto que tem lugar a 13 de Agosto a 1.ª Prova de Marcha da Vila da Régua. Tratava-se de uma organização do Grupo Académico de Godim, que contou com a presença de cerca de 250 participantes. Carlos Albano (Casa do Pessoal da Empresa Nacional de Urânio) foi o vencedor no escalão 17-35 anos, enquando Gaspar Teixeira (GA Godim) se impunha no 36-46 anos. Nos restantes escalões, vitórias de João Mendes e Susana Costa, ambos da CPENU, nos 10-12 anos, e de Carlos Rebelo (GA Godim) e Maria Gabriela (CPENU) nos 13-16 anos.
Mas as estreias ocorridas em 1978 no que à marcha atlética diz respeito não ficam por aí. Em Dezembro, no tradicional Grande Prémio de Natal, a Associação de Atletismo de Lisboa inclui pela primeira vez a marcha no programa do certame. A competição seria na distância de 6400 metros, em estrada, com partida junto ao Estádio da Luz e meta nos Restauradores, num percurso que passava por grande parte do centro da capital. Mais uma vez, a vitória coube a Luís Dias, do Benfica. José Dias, também do Benfica, foi o segundo classificado, e Paulo Alves, júnior do Santa Iria, o terceiro da geral. Participaram 14 atletas.
Eis ainda uma lista de provas realizadas ao longo do ano, sobretudo na região de Lisboa.
1 de Fevereiro, Santa Iria da Azóia (iniciativa CDD Santa Iria e Comissão Marcha AAL), 45 atletas de vários escalões, de quatro clubes, com provas de 15 km para masculinos (1.º José Pinto, 2.º, Luís Dias, 3.º José Tavares) e 2 km para juvenis femininos (1.ª Evelina Fernando, 2.ª Antónia Portal).
19 de Fevereiro, Estádio da Luz, 10.000 m masculinos (1.º Luís Dias, 2.º Carlos Albano, 3.º José Pinto). Iniciativa da Comissão de Marcha do Benfica, com 12 participantes.
26 de Fevereiro, Hipódromo do Estádio Nacional, a par dos Campeonatos de Lisboa de Corta-mato, 5000 m masculinos (1.º Luís Dias, 2.º José Dias, 3.º José Tavares, 4.º José Pinto, 5.º José Domingos). Iniciativa da Associação de Atletismo de Lisboa, com 16 participantes.
12 de Março, Estádio Nacional, Torneio de Abertura AAL, 5000 m masculinos (1.º Luís Dias, 2.º José Dias, 3.º José Tavares). Total de 17 participantes.
2 de Abril, Estádio Nacional, 10.000 m (prova extra, com saída e entrada no estádio, 1.º Luís Dias, 2.º José Dias, 3.º José Pinto). Seis participantes.
9 de Abril, Oeiras, Festival de Marcha de Oeiras, Comemorações do XXII aniversário da A.D. Oeiras, 80 atletas de vários escalões, oito clubes, com provas de 20 km masculinos (distância duvidosa; 1.º Carlos Albano, 2.º Luís Dias, 3.º José Dias e mais cinco participantes) e 5 km juvenis femininos (1.ª Evelina Fernando, 2.ª Antónia Portal).
23 de Abril, Marcha Atlética em Almeirim, vários escalões (sem indicação de distâncias, 1.º João Ribeiro, Minas da Urgeiriça, 2.º Fernando Coriga, Santa Iria, 3.º António Machado, Minas da Urgeiriça).
30 de Abril, Alto de São João, organização do Clube de Futebol Varejense, provas para todos os escalões, vencendo nos seniores masculinos José Pinto, seguido de José Tavares e Vítor Antunes.
7 de Maio, Estádio Nacional, 2 milhas marcha (prova extra, 1.º Luís Dias, 2.º José Pinto, 3.º José Dias).
7 de Maio, Póvoa de Santa Iria, 36.º aniversário do União Atlético Povoense, 84 atletas de seis clubes, 10 km masculinos (1.º José Dias, 2.º José Tavares, 3.º Fernando Coriga).
3 de Junho, Almeirim, prova da DGD-Santarém para assinalar o Dia Nacional do Ambiente, prova com sete atletas, sem indicação de distância (1.º Carlos Albano, 2.º Carlos Martins, 3.º Armando Lopes). A folha de resultados que o vencedor levou consigo apresenta a seguinte anotação à mão: «Prova a esquecer»).
13 de Junho, Campolide, organização do Clube Estrelas de Campolide, com 76 atletas participantes, representando seis clubes. Nos seniores masculinos (sem indicação de distância), 1.º José Tavares, 2.º José Dias, 3.º Carlos Faustino.
25 de Junho, I Torneio Convívio da Cidade de Lisboa (AA Lisboa), do Marquês de Pombal à Praça do Município (2,5 km), com 34 masculinos (1.º Luís Dias, 2.º Vitor Moreira, 3.º Rui Coelho) e 15 femininos (1.ª Evelina Fernando, 2.ª Ana Paula Machado). Registo para a significativa participação de atletas da Associação Desportiva de Oeiras.
29 de Julho, Estádio Nacional, 5000 m, provas extra no Torneio Interassociações de Juvenis, vitórias de Paulo Alves, nos masculinos, e de Evelina Fernando, nos femininos.
26 de Agosto, Estádio Nacional, 10 mil metros (1.º José Pinto, 2.º Avelino Ferreira, 3.º Paulo Alves).
17 de Novembro, Estádio da Luz, 5000 m (1.º Carlos Graça, 2.º José Pinto, 3.º António Graça).
A todas estas provas levadas a efeito nos distritos limítrofes de Lisboa e Santarém deverá ainda juntar-se o III GP Marcha da Urgeiriça (18 de Junho), com 120 participantes. 20 km masculinos, 1.º Luís Dias, 2.º Carlos Albano, 3.º José Dias. 5 km femininos, 1.ª Luísa Portal.