Quentin Rew completa mais uma volta nos 50 km marcha
dos mundiais de Londres-2017. Foto: ANZ
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Presença regular nas grandes competições internacionais de marcha atlética desde o início da presente década, o neozelandês Quentin Rew é um dos atletas mais meridionais do «pelotão» internacional da disciplina, sendo originário de Wellington, a capital da Nova Zelândia. Nos Campeonatos do Mundo de Atletismo recentemente realizados em Londres, onde se apresentava com um recorde pessoal de 3.48.48 h, Quentin Rew foi um dos poucos participantes a estabelecer novo recorde nacional dos 50 km marcha, ao terminar a prova no 12.º lugar, com 3.46.29 h. Superou dessa forma o anterior melhor registo do seu país, que desde 2001 estava na posse de Craig Barrett (3.48.04, marca obtida em New Plymouth). De Barrett sobram agora os recordes nacionais em pista (5000, 20.000 e 50.000 metros), enquanto Rew domina na estrada, com os máximos de 20 e 50 km (além do de 3000 m em pista).
Como é seu apanágio, Quentin Rew cumpriu a prova londrina assumindo a táctica de manter um ritmo regular e ir ganhando lugares à medida que os quilómetros vão passando. Toda a prova foi desenrolada a ritmo que rondou os quatro minutos e 30 segundos por quilómetro, com ligeiríssimas oscilações. De início rolou por volta do 30.º lugar, a meio da prova era 24.º e na meta foi o 12.º (só na última légua galgou seis lugares).
No entanto, nem tudo foram facilidades ao longo daquelas três horas e 46 minutos, dado que a técnica se revelava pouco segura do ponto de vista regulamentar. Todos os juízes advertiram o neozelandês, tendo dois deles emitido notas de desclassificação. Ou seja, Rew estava no fio da navalha, ainda que a segunda nota tenha surgido já na volta final.
Com a experiência internacional que detinha à partida e resultava das numerosas presenças em provas do circuito internacional, incluindo os três mundiais anteriores, Quentin Rew sabia o que podia esperar da sua participação nestes 50 km e o que poderiam almejar os colegas de competição. «Foi uma prova fora do normal. Neste tipo de provas costuma haver um grupo bem grandinho de atletas a rolar entre 4.30 e 4.35 minutos por quilómetro, mas desta vez fiquei praticamente por minha conta ao longo de toda a prova», afirmou ao sítio oficial da Federação Neozelandesa de Atletismo. E explicou: «Eu sabia que uns 25 atletas estavam a impor desde o início andamento para uma marca final de três horas e 45 minutos, mas também sabia que nem todos iriam aguentar. Portanto, foi uma questão de ir tendo sempre presente que precisava apenas de paciência, uma vez que alguns acabariam por ceder e bastava-me estar bem posicionado para tirar partido disso.»
Desta forma, quando nas últimas três voltas os adversários começaram a fraquejar, Rew nem precisou de acelerar muito o ritmo para conseguir ganhar posições, até concluir a prova a seguir a João Vieira, o português 11.º classificado que por pouco não saiu também ele com novo recorde nacional.
No entanto, a regularidade do ritmo da prova de Quentin Rew esconde o verdadeiro sofrimento do atleta, que teve de empenhar quase todas as energias para chegar ao fim da competição com tantos lugares ganhos na fase final. Para além da determinação pessoal, Rew beneficiou do apoio dos compatriotas que se encontravam na assistência à volta do circuito de 2000 metros junto do Palácio de Buckingham. «Era um grupo de neozelandeses que vivem em Londres e eu ainda tive a sorte de ter alguns amigos espalhados ao longo do circuito incentivando-me. Naquelas voltas finais, quando começamos a ficar mesmo cansados, dá muita força ver a bandeira da Nova Zelândia a ondular e as pessoas a puxarem por nós», acrescentou.
Ao cortar a meta, Quentin Rew ainda teve força para algumas flexões de braços, antes de aceitar ajuda para ir para a tenda do apoio médico restabelecer-se. «Já não tinha força nas pernas, mas ainda consegui um restinho de energia nos braços para manifestar a minha solidariedade com o Isaac Makwala, que eu acho que sofreu à brava nestes campeonatos. Por isso, decidi imitá-lo.»
Quanto ao recorde nacional, explicou: «Sabia desde bastante cedo que estava em ritmo de recorde nacional. Andei a 4.30 durante 30 quilómetros e se conseguisse manter esse ritmo conseguiria bater o recorde. Nunca acabei tão bem uns 50 km, por isso fico muito contente por finalmente ter batido o recorde do Craig.»
Já a classificação depende de factores que o atleta não controla. «Faço a minha prova, mas nada posso fazer quanto ao facto de outros estarem à minha frente. Desta vez não consegui fazer melhor. Há dois anos [nos mundiais de Pequim] consegui chegar ao 10.º lugar, desta vez consegui chegar ao 12.º.»
Depois do primeiro título nacional de 50 km (em 2009, com 4.52.55) tem sido uma longa caminhada para Quentin Rew até chegar ao nível actual. Nos mundiais, foi quase sempre a melhorar: 24.º em 2011, 17.º em 2013, 10.º em 2015 (12.º em 2017). Nos Jogos Olímpicos foi 27.º em Londres-2012 e 12.º no Rio-2016.
Faltará agora igualar o feito de Norman Read, o neozelandês que em 1956 venceu os 50 km marcha dos Jogos Olímpicos de Melbourne. A marca então registada (4.30.42,8) já foi largamente superada por Quentin Rew, já só falta o título de campeão olímpico.
Entretanto, terá de voltar a sintonizar-se pela onda dos 20 km, uma vez que o próximo grande objectivo são os Jogos da Comunidade Britânica, em Abril de 2018, de cujo programa foi retirada a distância olímpica longa. Quentin Rew já bateu o recorde nacional da distância no início do ano, mas a marca alcançada (1.21.12, em Adelaide, na Austrália, a 19 de Fevereiro) não foi suficiente para se apurar. Rew irá participar no apuramento para esses 20 km no próximo mês de Dezembro, na cidade australiana de Melbourne.