Kaniskina e Kirdyapkin com as medalhas de Londres-2012, a devolver. Fotos: Getty Images e SCMP. Montagem: O Marchador |
O Tribunal Arbitral do Desporto
(TAD), com sede em Lausana, na Suíça, deu provimento esta quarta-feira ao
recurso apresentado pela Associação Internacional de Federações de Atletismo
(AIFA) relativamente às suspensões impostas em Janeiro de 2015 pelo Comité de
Disciplina da Agência Russa Antidopagem (Rusada) a cinco marchadores russos
(além de uma atleta de outra disciplina), com base em irregularidades
detectadas nos passaportes biológicos dos atletas. A Rusada tinha suspenso
Sergey Kirdyapkin e Olga Kaniskina por três anos e dois meses, Valeriy Borchin
por oito anos (devido a reincidência) e Vladimir Kanaikin a título definitivo
(erradicação). À época, todos estes atletas e ainda Sergey Bakulin
encontravam-se suspensos preventivamente desde 2012.
As sanções inicialmente aplicadas
produziam efeito a partir de 15 de Outubro de 2012, sendo acrescidas da
anulação de resultados em períodos diferenciados de Julho de 2009 a Junho de
2012. Ou seja, tratava-se de suspensões que salvaguardavam o período dos Jogos Olímpicos
de Londres, onde Kaniskina fora segunda nos 20 km e Kirdyapkin tinha ganho os
50 km. Apenas no caso de Valeriy Borchin, a suspensão incluía a data dos Jogos,
mas sem qualquer efeito prático, uma vez que o atleta tinha desistido na última
volta dos 20 km. Bakulin e Kanaikin não tinham participado nos Jogos de
Londres.
As cinco suspensões tinham
entretanto sido objecto de recurso apresentado ao TAD pela Associação
Internacional de Federações de Atletismo, com o argumento de que a Rusada tinha
aplicado de forma incorrecta as normas antidopagem da AIFA, entendendo que a
referida anulação de resultados anteriores aos Jogos de Londres traduzia um
procedimento selectivo. No recurso, a AIFA defendia a anulação de todas as
classificações dos atletas desde a data das primeiras análises com resultados
anormais até à data do início da suspensão provisória, o seja até Dezembro de
2012, sendo portanto abrangidos os resultados nos Jogos Olímpicos.
O TAD aceitou agora os argumentos da
federação internacional e alterou as sanções do Comité Disciplinar da Rusada
nos seguintes termos:
Sergey Kirdyapkin – anulados todos
os resultados de 20 de Agosto de 2009 a 15 de Outubro de 2012;
Sergey Bakulin – anulados todos os
resultados de 25 de Fevereiro de 2011 a 24 de Dezembro de 2012;
Olga Kaniskina – anulados todos os
resultados de 15 de Agosto de 2009 a 15 de Outubro de 2012;
Valeriy Borchin – anulados todos os
resultados de 14 de Agosto 2009 a 15 de Outubro de 2012.
Vladimir Kanaikin – anulados todos
os resultados de 25 de Fevereiro de 2011 a 17 de Dezembro de 2012.
A todas estas anulações de
resultados acrescem as suspensões anteriormente determinadas pela Rusada (e que
não eram contestadas pela AIFA), excepto no caso de Kanaikin, cuja erradicação
imposta pela Rusada é anulada e substituída por suspensão de oito anos.
Esta decisão terá novas implicações
sobre as classificações das provas em que os atletas tinham participado durante
os períodos de anulação de resultados agora impostos pelo TAD, com as
consequentes alterações de distribuição de medalhas e conquistas de títulos.
Depois da anulação dos resultados obtidos nos mundiais de Daegu de 2011 pelos
atletas envolvidos, há a acrescentar nas reformulações de classificações nesses
mesmos mundiais e nos Jogos Olímpicos de Londres, com as consequentes
redistribuições de medalhas e de títulos.
Assim, em relação a Daegu, o título
de campeão dos 50 km inicialmente atribuído a Sergey Bakulin (3.41.24) passa
para o compatriota Deniz Nizhegorodov (3.42.45), subindo o australiano Jared
Tallent (3.43.36) ao segundo lugar, enquanto o chinês Si Tianfeng (3.44.40)
entra nas medalhas. Todos os demais classificados sobem um lugar.
No que se refere aos Jogos Olímpicos
de Londres, são afectadas duas provas pelas decisões do tribunal de Lausana, de
que a AIFA vai agora dar conhecimento ao Comité Olímpico Internacional. Nos 20
km femininos, Olga Kaniskina, que tinha sido classificada em segundo lugar com
1.25.09 h, é riscada da classificação, passando a medalha de prata para a
chinesa Shenjie Qieyang (1.25.16), ao passo que Hong Liu, também chinesa, sobre
ao terceiro lugar (1.26.00). Nesta prova há consequências também relevantes
para Portugal, dado que Ana Cabecinha sobe ao oitavo lugar (1.28.03), Inês
Henriques (1.29.54) passa a 14.ª e Vera Santos (1.35.51) sobre ao 48.º posto.
Elena Lashmanova (1.25.02) mantém a medalha de ouro e todas as demais
classificadas sobem um lugar.
Por fim, nos 50 km, com a
desclassificação do primeiro classificado, Sergey Kirdyapkin (3.35.59), o
título de campeão olímpico transita para o australiano Jared Tallent (3.36.53),
subindo ao segundo lugar Si Tianfeng (3.37.16). O irlandês Robert Heffernan
(3.37.54) ascende aos lugares do pódio, recebendo a medalha de bronze. O
português Pedro Isidro (3.58.59) passa agora ao 37.º lugar.
A Federação Russa de Atletismo (FRA)
já fez saber que acata a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto, que não é
susceptível de recuso. No entanto, o advogado da FRA, Lucien Valloni, declarou
à imprensa desportiva russa que poderia ainda haver recurso para o Supremo
Tribunal da Suíça.
Acrescente-se que a decisão do TAD
se refere unicamente ao recurso apresentado pela AIFA em relação aos seis
atletas russos (cinco marchadores) cujos períodos de anulação de resultados
estabelecidos pela autoridade antidopagem da Rússia (e implementadas pela
Federação Russa de Atletismo) não mereciam a concordância da federação
internacional. Assim, as decisões anteriormente tomadas de revisão, por
exemplo, dos resultados dos mundiais de Daegu de 2011 não são postas em
questão, mantendo-se as desclassificações dos russos anteriormente divulgadas.