Annarita Sidoti em Atenas-1997. |
O «Pardalito de Ouro» deixou esta
manhã de cantar. Annarita Sidoti morreu hoje, após seis anos de luta contra o
cancro e poucas horas depois de ter entrado no coma final. Foi o desfecho de um
processo em que a atleta italiana enfrentou com enorme coragem um tumor que
veio a revelar-se fatal.
Nos últimos tempos, Annarita
falou de forma aberta sobre a doença que a afectava, transmitindo sempre uma
imagem de bravura na luta que travava e, ao mesmo tempo, palavras de confiança,
que confirmavam a sua determinação e inspiravam todos os que a ouviam.
Nascida em 1969 em Gioiosa Marea,
na costa norte da Sicília, Annarita Sidoti começou a destacar-se como
marchadora quando, ainda júnior, registou a primeira de 47
internacionalizações. Com 19 anos tomou parte nos segundos mundiais de
juniores, realizados em Sudbury (Canadá), de onde saiu com um quarto lugar nos
5000 m marcha, cumpridos em 22.36,47 m.
Vieram depois os anos de sénior e
de ouro. Apenas dois anos passados sobre a prova canadiana, sagrava-se em Split
(ex-Jugoslávia) campeã europeia dos 10 km, repetindo o feito oito anos depois,
em 1998, na cidade de Budapeste (Hungria). Pelo meio, nos europeus de
Helsínquia de 1994, ficou em segundo lugar.
O momento mais alto da carreira
competitiva seria vivido em Atenas-97, quando se sagrou campeã mundial dos 10000 m marcha, com a marca que ficaria para sempre como recorde pessoal: 42.55,49 m
(tinha desde 1994 41.46 m em estrada, obtido em Livorno-94). Sidoti foi ainda a
vencedora da prova feminina da primeira Taça da Europa de Marcha (Corunha-96,
10 km), tendo registado três presenças em Jogos Olímpicos (Barcelona-92,
Atlanta-96 e Sydney-2000).
Mas se foi nos 10 km que mais se
notabilizou, a fixação da distância longa (20 km) nos grandes competições
internacionais não impediu Annarita de também aí demonstrar as capacidade de
marchadora, tendo alcançado em 2000 um muitíssimo respeitável recorde pessoal
de 1.28.38 h, marca averbada na cidade alemã de Eisenhüttenstadt, a 17 de
Junho.
Do currículo da marchadora
siciliana consta ainda a vitória nos europeus de pista coberta de 1994 (Paris)
e nos mundiais universitários de 1995 (Fukuoka, Japão).
A longa marcha de Annarita
Sidoti chegou agora ao fim. Pelo caminho foram ficando numerosas vitórias,
fosse nas pistas fosse na vida quotidiana, onde articulou com enorme carácter a
necessidade de tratamento e o acompanhamento dos três filhos menores que deixa.
«Foi o desporto que me ensinou a
ser assim. A nunca desistir, a acreditar que a derrota só se consuma se nos
rendermos. Tenho travado lutas maiores do que quando era atleta, agora tenho
pela frente um adversário que não cede, que pode matar-nos primeiro a alma do
que o corpo. Mas esta batalha não ma vencerá!» - disse em certa ocasião,
durante uma sessão pública em que falou da sua situação.
O «Pardalito de Ouro», como a
«Gazzetta dello Sport» lhe chamou após a vitória em Split, era assim, de uma
ética insuperável, que lhe permitiu ver a doença vencer-lhe o corpo, mas nunca
a alma.