Valentin Maslakov: «Houve completo desrespeito pelas regras» Foto: eurosport.ru |
Algumas semanas passadas sobre a demissão de Valentin Maslakov, o antigo
membro da equipa técnica da Federação Russa de Atletismo ao serviço das
selecções nacionais deu uma entrevista ao jornal «Trud» (aqui), demarcando-se
dos controversos processos seguidos pela equipa dirigida por Viktor Chyogin.
Na entrevista, publicada a 30 de Janeiro, Maslakov garante que Chyogin era
omnipotente no trabalho desenvolvido com os marchadores. «Durante o período em
que trabalhei com a equipa nacional, Viktor Chyogin era uma pessoa
completamente independente e eu não tinha qualquer possibilidade de
influenciá-lo ou de controlá-lo. Na 'cozinha' de Chyogin, eu pura e
simplesmente não era admitido», garante.
Sobre a participação de atletas suspensos em competições oficiais,
nomeadamente nos Campeonatos de Marcha Atlética da República da Mordóvia em
pista coberta, em 30 de Dezembro, Valentin Maslakov tem uma opinião clara: «Não
há excepções à regra: os atletas suspensos não podem tomar parte em qualquer
competição. Ponto final! Não consigo perceber se se tratou de descuido ou de má
intenção. Mas houve completo desrespeito pelas regras e daí resultaram
problemas graves para o atletismo russo.»
No entanto, no caso dos campeonatos da Mordóvia de Dezembro passado,
nenhuma justificação terá sido dada pelos juízes da competição e a situação não
poderia ser explicada por ninguém a não ser pelo próprio Viktor Chyogin: «A
autoridade de Chyogin na Mordóvia é de tal ordem que quando faz alguma coisa
ninguém questiona a legitimidade das suas acções», afirma Maslakov, que se
manifesta contrário a alguns processos de desclassificação de atletas e reclama
equidade de tratamento para todos.
«As amostras dos atletas desclassificados mais recentemente foram colhidas
em 2009. Muitos testes feitos a atletas dão resultados no limite entre o 'pode'
e o 'não pode'. Alguns valores, como os da hemoglobina, podem atingir picos sem
intervenção de factores externos. Um pico de duração breve pode ser detectado
ao fim de oito anos e dar lugar a uma desclassificação. Não concordo com a
regra actual que permite declarar faltoso um atleta ao fim de sete anos e
desclassificá-lo. Pode acontecer aos melhores e mais honestos. Todas as
estrelas ficam permanentemente sob a espada de Dâmocles. Mas a realidade é
essa. Para se ser justo, não se pode actuar assim apenas com os campeões
russos, mas também com os da Jamaica, da China, de França e de outros países.»
Questionado sobre se se trata de reflexos da conjuntura política, Valentin
Maslakov considera que existe um preconceito em relação aos bons resultados
obtidos pelos atletas russos: «Nos últimos anos, os aletas da Rússia dispuseram
das melhores condições de treino que existem na Europa. É uma excelente condição
de base. Em muitas disciplinas temos os melhores especialistas do mundo. E aí
surge o estereótipo: se há bons resultados, então não foi sem estimulantes.»
Entretanto, citado esta terça-feira pelo diário em linha «Pro Gorod
Saransk», o ministro russo do Desporto, Vitaliy Mutko, defendeu que o homólogo
da Mordóvia, Vladimir Kireev, deve assumir todas as responsabilidades pelo
escândalo da dopagem que envolve o Centro de Preparação Olímpica de marcha
atlética. «O ministro do Desporto da Mordóvia deve claramente ser
responsabilizado pelo que aconteceu. Subsistem dúvidas que não foram
esclarecidas. Pelo menos, esses campeonatos foram realizados sob os seus
auspícios e nele participaram atletas que estavam na lista de suspensos. Ainda
não sei se vai continuar no lugar ou não. Mas levaremos o caso até às últimas
consequências», garantiu Mutko.
Em todo o escândalo de dopagem envolvendo o Centro de Preparação Olímpica
de Saransk, o ministro Vladimir Kireev tem sido uma figura sombria, não se lhe
conhecendo qualquer declaração pública sobre o assunto. De resto, os órgãos de
imprensa russos continuam a tentar sem sucesso obter do governante mordóvio
alguma opinião a respeito do caso.
Por sua vez, já esta sexta-feira ao final da manhã, apesar de recusar fazer
declarações sobre escândalo de dopagem por estar a decorrer uma
investigação, o presidente da Federação Russa de Atletismo (FRA), Valentin
Balakhnichyov, afirmou que a demissão de Viktor Chyogin não estava ao seu
alcance, por se tratar de técnico ao serviço de outra entidade. «De acordo com
a lei, essas decisões são da competência da entidade empregadora. Se o
treinador não trabalha para a federação, o máximo que podemos fazer é não o
incluir na delegação nacional para as grandes competições», esclareceu Balakhnichyov,
que, no entanto, não explicou por que razão Chyogin se apresentou com o
uniforme oficial da selecção russa nos europeus de Zurique, mesmo não tendo
sido integrado na delegação oficial.
O líder federativo russo adiantou ainda que, quando surgiram as primeiras
informações de suspensão de marchadores russos, tratou imediatamente de
procurar com a Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA) uma
solução que defendesse os interesses da FRA e dos atletas.
Sobre a participação de atletas suspensos nos campeonatos de marcha da
Mordóvia em pista coberta, Valentin Balakhnichyov foi claro sobre quem
considera responsável pelo sucedido: «O incidente pesa por inteiro na
consciência dos organizadores dos campeonatos. Foram eles que criaram as condições
que impedem Elena Lashmanova de participar nos Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro.» E acrescentou que essa competição nem constava do calendário.