quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Yohann Diniz a nadar e a pedalar para triunfar na marcha

Yohann Diniz após cortar a meta na prova de 50 km de Londres-2017.
Foto: Lusa/Facundo Arribazalaga
De Yohann Diniz já toda a gente se habituou a esperar qualquer coisa. Desde recordes do mundo batidos em pista com música de fundo até fracassos olímpicos devidos a problemas intestinais ou desclassificações por abastecimento fora dos locais estipulados. *A mistura, três títulos europeus consecutivos de 50 km, os recordes mundiais de 20 e 50 km marcha em estrada, no último dos quais parando a cem metros da meta à espera de uma bandeira que pediu emprestada. Ou ainda alguns famosos tropeções com quedas aparatosas e corridas inesperadas a casas de banho para tratar do que devia ter sido resolvido antes da partida.

No meio de tanta invulgaridade, ainda faltavam duas coisas a Yohann Diniz antes de participar nos recentes mundiais de atletismo de Londres: o título de campeão do mundo e o título de campeão olímpico. O segundo problema mantém-se; o primeiro ficou resolvido com a vitória nos 50 km marcha, ao fim de quatro presenças em campeonatos do mundo. E não só conseguiu o ceptro mundial como o fez com assombrosos oito minutos de avanço sobre o segundo classificado.

À beira de cumprir 40 anos, que completará no próximo dia de ano novo, Yohann Diniz sente ainda ter por cumprir esse desígnio de ser campeão olímpico. Só daqui a três anos poderá tentar concretizar esse desejo. Será, possivelmente, a sua última oportunidade, já que no Verão de 2020 terá uns respeitosos 42 anos. Qualquer idade é respeitosa, mas ter 42 anos e poder lutar por um título europeu, mundial ou olímpico de marcha atlética é muitíssimo invulgar. Aliás, se Yohann Diniz conseguir registar tal sucesso nos Jogos Olímpicos de Tóquio, tornar-se-á o atleta a sagrar-se campeão olímpico no atletismo com idade mais avançada.

Nestes mundiais de 2017, onde também se tornou o mais velho campeão mundial de atletismo, o avanço de oito minutos na meta disfarçou algumas dúvidas surgidas em fases intermédias da prova. Após a competição declarou que por volta dos 20 quilómetros começou a sentir dificuldades, mas como os treinos tinham assentado em numerosas sessões de variações de ritmo, manteve-se calmo e continuou o esforço. Foi também nessa fase da competição que averbou uma nota de desclassificação. «Só tenho uma coisa a fazer: não estragar tudo!», pensou para consigo, ao mesmo tempo que se concentrava na vertente regulamentar da sua técnica.

Tinha sido para isso que se dedicara em treino a diversas práticas distintas da marcha, como o ciclismo e a natação, tudo a pensar nos 50 km dos mundiais de Londres. O esquema de preparação resultou e o sucesso foi de arromba. Resta agora ir esperando mais três anos até aos próximos Jogos Olímpicos. Mas, até lá, ainda haverá muitas metas intermédias. E, certamente, muitas histórias para contar.