Ana Cabecinha, Vera Santos e Inês Henriques nos mundiais de Pequim-2015. Fotos: RaceWalk Pictures. Montagem: O Marchador |
Numa análise que se queira
fazer sobre a participação portuguesa nas provas de marcha dos mundiais de
atletismo de Pequim realizadas na semana passada é inevitável (e de toda a
justiça, claro) destacar o desempenho de Ana Cabecinha, a melhor de todos os
marchadores portugueses ali presentes e cujo quarto lugar mais não faz do que
chancelar essa opinião. De seguida faz-se um comentário ao desempenho das marchadoras
portuguesas nos 20 km femininos, sendo que a análise da prova de Ana Cabecinha
fica remetida para texto à parte [aqui].
Para além desse quarto lugar
da marchadora de Olhão, Portugal averbou ainda o 21.º lugar de Vera Santos
(1.34.01) e o 23.º de Inês Henriques (1.34.47). Em nenhum dos casos, a
classificação e a marca resumem a qualidade já evidenciada noutros momentos
pelas duas marchadoras originárias de Rio Maior.
Vera Santos, do Sporting
Clube de Portugal, fez uma prova sempre em posição discreta, talvez ciente de
que o momento de forma não estaria próximo do seu melhor, como pareceu
demonstrar a recente participação nos Campeonatos de Portugal, onde foi quarta
nos 10.000 m marcha, com 46.48,07 m (quase a dois minutos da terceira, Susana
Feitor, que não foi selecionada para Pequim). Assim, a opção pela moderação de
ritmo revelou-se de grande sensatez.
A légua inicial seria a sua
mais rápida, com 22.58 m na contagem parcial, correspondendo ao 25.º lugar de
passagem. Viriam depois trechos a 23.27, 23.54 e 23.42 m, com a atleta
sucessivamente em 29.º, 27.º e por fim em 21.º lugares. A perspectiva inicial
não era muito favorável, mas a experiente atleta soube gerir a expectativas e
não só concluir a competição como ainda fazê-lo a meio da tabela classificativa.
Com o quinto lugar averbado
em Berlim-2009 (depois convertido em quarto, por posterior desclassificação da
russa Olga Kaniskina), Vera Santos permanece, num total de seis participações,
como a autora de uma das melhores classificações de todos os portugueses (todas
as disciplinas incluídas) em mundiais de atletismo, sendo superada na marcha
apenas pelo terceiro lugar de Susana Feitor em Helsínquia-2005 (e igualada
pelos quartos lugares de João Vieira em Moscovo-2013 e de Ana Cabecinha agora
em Pequim).
Com mais uma presença em
mundiais de atletismo, Inês Henriques regista como melhores classificações o
sétimo lugar de Ósaca-2007 (1.33.06) e o nono de Daegu-2011 (1.32.06). No
entanto, a melhor marca em mundiais foi registada há dois anos em Moscovo,
quando a 11.ª posição foi alcançada com 1.30.28 h.
Desta vez, nos mundiais de
Pequim, os ares do Oriente pareceram menos favoráveis à marchadora do Clube de
Natação de Rio Maior. Numa fase inicial da prova, Inês Henriques andava pelos
lugares esperados, bem perto da frente, passando com 22.52 m aos cinco
quilómetros, integrada num grupo de dez atletas que seguia outras dez mais
destacadas. Uma segunda légua um pouco mais rápida (22.43) permitiria a
passagem a meio da prova no 17.º posto, mas o pior viria depois.
Com as duas léguas finais em
23.52 e 25.20 m, a quebra de ritmo era evidente e a queda na classificação,
inevitável, ainda que só para o 23.º lugar. Podia ter sido bem pior, para uma
atleta que, como afirmou à imprensa, começou a ficar contraída e sem capacidade
para reagir.
Mesmo assim, tanto a marca
como a classificação foram melhores do que em Helsínquia-2005 (27.ª, 1.35.44),
mas essas há já muito tempo que não são referências para Inês Henriques, atleta
claramente de outros voos.