José Pinto (Los Angeles-1984). Foto: arquivo O Marchador |
Se
houve atletas que se destacaram nas primeiras décadas de implantação da
especialidade da marcha atlética no nosso país, José Pinto foi, seguramente, um
deles. No verão de 1975, ele e um conjunto de outros atletas foram aparecendo
na pista de atletismo do Sport Lisboa e Benfica, onde os esperava um técnico da
Direção-Geral de Desportos, Francisco Assis, que incentivava os jovens à
prática do atletismo total.
Francisco
Assis, um antigo fundista do clube, realizara um estágio em França e aí
estivera em contacto com um grupo de marchadores gauleses em preparação para
eventos internacionais. Então, prometeu a si mesmo que, quando surgisse a
oportunidade, incutiria nos atletas lusos que melhor se evidenciassem nos
testes por si realizados o gosto pela especialidade.
Ele
próprio acompanhou, por vezes, os treinos mais longos, do Estádio da Luz a
Monsanto, incutindo nos jovens um forte incentivo psicológico, motivando-os a
prosseguirem o trabalho de relançamento da marcha atlética no nosso país, junto
das administrações desportivas, nomeadamente a Associação de Atletismo de
Lisboa e a Federação Portuguesa de Atletismo.
José
Pinto que, entretanto, se filiara no Clube de Futebol “Os Belenenses”, seguindo
uma estratégia delineada com vista ao desenvolvimento da especialidade nos
clubes com maior projeção no atletismo da capital, cotava-se como o melhor
marchador português no princípio dos anos oitenta, especialmente na distância
de 50 km
marcha, sendo o primeiro representante a merecer a distinção de uma presença
nuns Jogos Olímpicos.
E
não se limitou à já, em si, honrosa participação numa olimpíada, particularmente
numa especialidade que, a muito custo, acabara de ser aceite na estrutura
competitiva da FPA. A dedicação e o empenho de José Pinto, acompanhados de um
efetivo apoio na retaguarda dos dirigentes do então Clube Português de Marcha
Atlética, valeram-lhe o inesperado e brilhante oitavo lugar nos Jogos de Los
Angeles, em 1984. A
propósito, transcreve-se um excerto da crónica do jornalista de “A Bola”,
Carlos Miranda, enviado-especial para esse acontecimento desportivo planetário:
“E dá vontade de perguntar se Portugal, com tão poucos
praticantes a sério, só com um de nível internacional, foi capaz de ir buscar o
oitavo lugar nestes Jogos, que poderia acontecer se a Marcha fosse acarinhada e
recebesse tratamento prioritário, no estilo do que recebem o fundo e o meio
fundo, pois os portugueses parecem ter qualidades para a especialidade. Isto
sem humorismos baratos e referência a dificuldades económicas...“
Alguns
pontos de comparação entre o “ontem” e o “hoje”...