José Pinto foi o primeiro campeão nacional de 50 km marcha. Foto: O Marchador |
Com a realização dos primeiros campeonatos daquela especialidade, o atletismo português viu completar, no seu programa competitivo, o leque de especialidades olímpicas. Os 50 km marcha foram introduzidos nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, com o britânico Tommy Green a sagrar-se o primeiro campeão olímpico.
Em 1983 foi realizada a primeira competição de 50 km em Portugal, com a finalidade de José Pinto, atleta do Clube de Futebol “Os Belenenses”, tentar a obtenção da marca mínima para os mundiais de Helsínquia, objetivo plenamente conseguido. Com a organização do Clube Português de Marcha Atlética (entidade impulsionadora da especialidade no nosso país) e do Sporting Clube de Alenquer, e o grande contributo do internacional Francisco Reis, natural da região (o internacional júnior Paulo Santos também daí era oriundo), a iniciativa teve o condão de incrementar o diálogo com a estrutura federativa de modo a integrar a marcha atlética nos vários campeonatos nacionais do programa do atletismo.
Em 1984, José Pinto, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, a todos surpreendeu ao alcançar a 8ª posição nos 50 km marcha (com o triunfo do mexicano Raúl González), um feito de todo inimaginável e que mereceu da imprensa generalista e desportiva portuguesa os mais rasgados elogios, dando grande visibilidade à disciplina em Portugal. Carlos Miranda, enviado-especial do jornal “A Bola” para a cobertura do Jogos Olímpicos, referia-se à marcha atlética portuguesa, nos seguintes termos:
“E dá vontade de perguntar se Portugal, com tão poucos praticantes a sério, só com um de nível internacional, foi capaz de ir buscar o oitavo lugar nestes Jogos, que poderia acontecer se a Marcha fosse acarinhada e recebesse tratamento prioritário, no estilo do que recebem o fundo e o meio fundo, pois os portugueses parecem ter qualidades para a especialidade. Isto sem humorismos baratos e referência a dificuldades económicas...“
Em 1985, já com a integração da marcha atlética nos principais campeonatos nacionais de pista para os diferentes escalões, um outro passo decisivo era dado, com a realização dos campeonatos nacionais de estrada, marcados principalmente pela necessidade de se atribuir título de campeão nacional nos 50 km marcha masculinos (José Pinto foi o primeiro), mas incluindo-se provas para juvenis e juniores, mais tarde abrindo o programa aos escalões de infantis, iniciados e masters.
Desde então, foram atribuídos 29 títulos e a competição visitou 16 distritos. Na edição de 2000, em Ponte de Sôr (Portalegre), participou o tetracampeão olímpico polaco Robert Korzeniowski, que estabeleceu o recorde dos campeonatos, com 3:41:50. João Vieira, em 2012, na edição ibérica de Pontevedra, bateu o seu próprio recorde nacional, com a marca de 3:45:17.
Pedro Martins é o atleta que regista o maior número de títulos nacionais (8), conquistados entre 1998 e 2015; José Pinto (6) obteve-os entre 1985 (ano da edição inaugural) e 1993; José Magalhães (4), entre 1988 e 1996; João Vieira (3), entre 2004 e 2012, nesta edição obtendo o recorde nacional; Dionísio Ventura (3), entre 2006 e 2010; Jorge Costa (2), em 2007 e 2011, neste último caso em Olhão, na prova teste para a Taça da Europa; José Urbano (2), em 1992 e 1997; e Luís Gil (2), em 2013 e 2014.
No plano internacional é de destacar o terceiro lugar conquistado pela seleção portuguesa de 50 km na Taça da Europa de Marcha, realizada em Cheboksary (Rússia), em 2003, a primeira grande proeza coletiva no setor (que outras disciplinas se podem gabar do mesmo?), cabendo aqui referir o nome dos nossos heróis: Pedro Martins, Jorge Costa, Luís Gil e Mário Contreiras.
Na foto, por ocasião da realização, nos anos 80, de uma cerimónia de premiação dos mais destacados valores da especialidade nacional, iniciativa do Clube Português de Marcha Atlética, José Pinto, que a nível internacional atingia resultados muito interessantes, é felicitado por Fernando Ribeiro, sob os olhares de Fernando Mota (diretor técnico nacional da FPA) e Aires Denis (presidente da mesa da assembleia geral do CPMA). Ribeiro, ligado à Câmara Municipal de Gaia, foi um dirigente desportivo de grande prestígio e que desenvolveu notável trabalho em prol da marcha atlética na região do Grande Porto. Fica especialmente gravado na memória a realização, durante vários anos, daquele que foi um enorme êxito: o Grande Prémio de Vila Nova de Gaia em Marcha Atlética.