sábado, 8 de setembro de 2012

Shaul Ladany, marchador sobrevivente do atentado de Munique

Shaul Ladany (2.º esq.) numa visita recente ao Estádio Olímpico
de Munique, com outros sobreviventes do atentado de 1972.
Foto: DAPD
Cumpriram-se esta quarta-feira 40 anos sobre uma das grandes tragédias da história do desporto: o assalto palestiniano à aldeia olímpica de Munique. O saldo foi a morte de 17 pessoas: 11 membros da delegação de Israel, cinco comandos palestinianos e um polícia alemão. Entre os israelitas que escaparam, encontrava-se Shaul Ladany, um professor do Instituto Superior de Comércio de Telavive que na véspera participara na prova de 50 km marcha, classificando-se no 19.º lugar.
 
No momento do ataque, Ladany estava a dormir, tal como os restantes quatro companheiros do apartamento n.º 2. Sem que nunca se tivesse percebido porquê, os palestinianos não ligaram a essa residência, passaram por ela e avançaram para outras desse mesmo edifício 31 da Rua Connolly. Quando atacaram o apartamento 3 encontraram resistência inesperada, que os obrigou a abrir fogo. Os disparos acordaram a vizinhança, Shaul Ladany incluído.
 
Sem tempo para pensar com clareza mas percebendo que alguma coisa terrível estava a passar-se, Ladany teve o discernimento de saltar pela janela do seu rés-do-chão. Os israelitas não tinham sido alertados para qualquer perigo do género mas estavam habituados a ter de cuidar-se onde quer que fossem. Já na rua, o marchador desatou a correr com quanta força tinha, sem olhar para trás, contornando o edifício e indo bater à porta de outro rés-do-chão, onde estavam alojados treinadores da selecção dos Estados Unidos. Depois de rapidamente explicar o que se passava foi puxado para dentro. Tinha conseguido escapar.
 
Os companheiros de quarto, esses ainda lá tinham ficado a espreitar pelas cortinas para tentar perceber o que se passava. De início não se assustaram, porque numa das noites anteriores já tinham sido acordados com disparos de atletas do tiro que comemoravam os feitos olímpicos com tiros para o ar a meio da noite. Desta vez, não era o caso, mas levaram mais tempo a perceber isso do que Shaul Ladany.
 
Shaul tinha quatro anos e vivia em Belgrado quando a força aérea nazi bombardeou a cidade, arrasando-lhe a casa. Já dessa vez tivera a sorte de escapar, com toda a família. Mas não se livrou do degredo dos campos de concentração. Foi levado para Bergen-Belsen, 40 quilómetros a noroeste de Hanôver, de onde foi libertado em 1945 pelos exércitos aliados, a par do pai, da mãe, das irmãs e de mais 40 mil pessoas. Tinha então oito anos e entrava na sua «terceira vida». A quarta começaria na madrugada de 4 para 5 de Setembro de 1972, de novo em solo alemão.
 
Shaul Paul Ladany tem 76 anos, vive na pequena cidade israelita de Omer, perto do deserto do Negev, e é professor de Engenharia Industrial na Universidade Ben-Gurion, tendo oito patentes registadas, mais de cem comunicações científicas apresentadas e 13 livros publicados. Num deles, «King of the Road», editado em 1997, conta em 378 páginas a sua experiência de marchador.