sábado, 15 de outubro de 2011

1.ª Taça do Mundo de Marcha foi há 50 anos

Kenneth Matthews sagrou-se campeão olímpico
em Tóquio-64, depois de duas vitórias na Taça Lugano.
Foto: Sporting Heroes
Passam hoje 50 anos sobre a realização da primeira edição da Taça do Mundo de Marcha, competição desportiva que ao longo de meio século se afirmou como a principal festa mundial da marcha atlética. O evento começou por designar-se Taça Lugano, adoptando o nome da cidade suíça em que teve lugar pela primeira vez.

Na época, o programa da competição incluía apenas duas provas, ambas para atletas masculinos: os 20 km e os 50 km. A vertente feminina seria adoptada em 1979, quando da edição de Eschborn, na República Federal da Alemanha. Nessa altura, a competição masculina conservava a designação de Taça Lugano, enquanto a prova feminina adoptava o nome de Troféu Eschborn, pelo mesmo processo de baptismo do certame masculino. Curiosamente, eram nomes diferentes para competições que tinham lugar em conjunto, até que em 1977 acabou por prevalecer a designação actual: Taça do Mundo de Marcha Atlética (com pequenas variações no nome oficial em língua inglesa).

Em 1961, as vitórias sorriram ao britânico Kenneth Matthews (20 km, 1.30.55) e ao italiano Abdon Pamich (50 km, 4.25.38). Considerando os pódios das duas provas, a Grã-Bretanha & Irlanda do Norte alcançava três medalhas, a Suécia duas e a Itália uma, com vitória colectiva dos britânicos. A Europa dominava a marcha mundial, sendo raro encontrar atletas de outros continentes a assumir preponderância na disciplina. Era uma época em que ainda não havia campeonatos mundiais de atletismo (nasceriam em 1983), pelo que a Taça Lugano era o único encontro mundial de marchadores para lá dos Jogos Olímpicos.

A participação na Taça Lugano apresentava condições que hoje pareceriam estranhas a quem está habituado à forma de participação na Taça do Mundo de Marcha assente simplesmente na inscrição de equipas (ou de atletas individuais) pelas federações nacionais. Pois, em 1961, os países interessados foam divididos em quatro zonas de apuramento: na zona 1, disputada em Londres a 12 de Agosto, estavam Grã-Bretanha, Alemanha (RFA+RDA) e Bélgica; na zona 2, em Copenhaga a 26 e 27 de Agosto, reuniram-se Suécia, Dinamarca e Noruega; a zona 3, em Spotelo a 3 de Setembro, juntou Itália, França e Suíça; e a zona 4 deveria reunir a Hungria e a Turquia, mas acabou cancelada, por desistência desta última. Para a fase final (Lugano, 15 e 16 de Outubro), apuraram-se então os vencedores de cada zona de apuramento: Grã-Bretanha & Irlanda do Norte, Suécia, Itália e Hungria, cada equipa podendo apresentar três atletas por prova.

Nesta primeira edição não houve participação não europeia, tal como não haveria nas duas edições seguintes. Só em 1967 ela iria registar-se, com a presença de equipas dos Estados Unidos e da África do Sul. E mais ainda seria preciso esperar até que pela primeira vez a competição se realizasse fora do Velho Continente. Aconteceria em 1987, com a celebração da Taça do Mundo de Nova Iorque, por sinal a primeira em que Portugal se fez representar.

Ao longo de 50 anos de existência, a Taça do Mundo de Marcha regista algumas curiosidades estatísticas. O sueco Bo Gustafsson, vice-campeão olímpico dos 50 km em 1984 (Los Angeles), é o recordista de participações entre os masculinos, com 11 presenças, de 1973 a 1997. Uma marca de que está próximo o português Augusto Cardoso, com dez presenças registadas de 1989 a 2010. No sector feminino, o maior número de participações é partilhado entre a húngara Ildiko Ilyés (1987 a 2006) e a mexicana Graciela Mendoza (1987 a 2008), ambas com 10 presenças. Grã-Bretanha e Itália são os únicos países totalistas na Taça do Mundo de Marcha, com 24 participações em 24 edições.

Quanto a vitórias individuais, os mexicanos Raúl González e Carlos Mercenario e o equatoriano Jefferson Pérez contam o maior número de sucessos: três vitórias cada um.

Mas a história da Taça do Mundo de marcha também encerra alguns momentos mais dramáticos, como aquele registado em Podebrady, na República Checa, em 1997. Na prova de 50 km, o russo Oleg Ishutkin comandou a prova desde o princípio, talvez motivado pela neve que acompanhou quase toda a competição, mas nos quilómetros finais viu aproximar-se um Jesús García cheio de determinação e que acabaria por ultrapassá-lo na volta final, para desespero não disfarçado de um Ishutkin lavado em lágrimas ao cortar a meta.

Desde Naumburg-2004, a Taça do Mundo inclui provas para juniores, tanto masculinos como femininos.

A cidade russa de Saransk vai acolher em 2012 a 25.ª edição de uma competição já com meio século de história como principal festa mundial da marcha atlética. E Portugal lá deverá estar para ajudar à festa.