domingo, 27 de novembro de 2016

A vida no Centro de Saransk depois de Chyogin

O centro em Saransk e um grupo de jovens marchadores.
Fotos: Wikimedia Commons e Stanislav Krasilnikov
Montagem: O Marchador
Reportagem de Aleksandra Vladimirova/Meduza
Síntese e adaptação de Kristina Saltanovic para «O Marchador»

Uma reportagem exclusiva produzida e publicada recentemente na comunicação social da Rússia pela «Meduza» online, através da jornalista moscovita Aleksandra Vladimirova, deu-nos a conhecer um pouco da vida actual do Centro de Preparação Olímpica de Saransk, na Mordóvia, depois do conhecido escândalo de doping, com declarações de alguns dos marchadores da antiga glória da marcha atlética russa.

Depois de várias tentativas de contacto, foi possível à jornalista Vladimirova chegar à fala com a actual directora do centro, Vera Nacharkina. Contudo, esta só aceitou prestar declarações depois de algumas perguntas mais inconvenientes e assuntos menos confortáveis, entre as quais um relacionado com o carro de luxo de Chyogin, um Porsche Panamera que está estacionado à porta do centro.

Nacharkina lá se resolveu a falar abertamente, exprimindo-se de forma entusiástica e elogiosa em relação a Chyogin, como este salvou a pobre cidade de Saransk de um estatuto provincial e criou uma geração de grandes campeões, sem que alguma vez tenha mencionado o tema da dopagem e dos atletas do centro nele envolvidos. Queixou-se das dificuldades que o centro atravessa, transformando parte dele em hotel, com aluguer de quartos em regime de pensão completa. Os atletas dopados e que já cumpriram pena estão actualmente a frequentar o centro, entre eles, Olga Kaniskina, marchadora multimedalhada internacionalmente e apanhada com anomalias no passaporte biológico. Kaniskina continua a trabalhar no centro desempenhando funções de vice-diretora, com direito a mesa reservada no restaurante interno.

Após Nacharkina elogiar o antigo treinador e fundador do centro, outros atletas concordaram em falar com a jornalista, como foi o caso de Vladimir Kanaykin (suspenso por 8 anos) que referiu considerar Chyogin como um segundo pai.

Depois, começaram a aparecer declarações bem mais interessantes a criticar a grandeza do treinador que arruinou o atletismo na Rússia, em particular as entrevistas de Rasskazov e de Shchennikov.

Roman Rasskazov, campeão do mundo em 2001, criticou Chyogin referindo que este não fez um trabalho limpo principalmente com os jovens atletas, na sua maioria oriunda da província e muito vulnerável. Para além da vontade de se tornarem grandes atletas, ambicionavam ganhar dinheiro e um estatuto que a vida normal que tinham não lhes permitia, daí que não tinham capacidade de se oporem aos actos ilegais praticados no centro. Conta um episódio mais recente e demonstrativo que Chyogin não tinha paciência em trabalhar devagar e dando o necessário tempo à evolução, pois queria fazer campeões à pressa e dos melhores. Exemplo disso foi uma atleta de 21 anos que tem 1.26.40 como recorde pessoal nos 20 km depois de se ter iniciado nos treinos apenas 2 anos antes. Uma situação que fez rir os antigos atletas de alta competição e qualquer outra pessoa que estivesse a treinar marcha. Sendo certo que há muito talento, também há muita batota.

Já Michail Shchennikov, um dos maiores atletas da marcha russa na década de 90, é ainda mais crítico. Embora ele próprio nunca tenha pertencido ao centro, acompanhava a carreira de Chyogin, acusando-o de destruir a marcha no seu país pela ganância das medalhas. Quando se fala que a escola foi destruída pela inveja dos outros ou por questões políticas a nível internacional, Shchennikov sorri … E quando há atletas que tentam defender o treinador, refere que tudo já era claro há 10 anos atrás! Shchennikov lembra que ao contrair uma lesão grave na sua carreira foi convidado a ir para Saransk onde um especialista prometeu «fazer tudo». Recusou tal convite!

Em conclusão, a escola continua, o futuro o dirá se com ou sem doping.

Entretanto, o futuro do atletismo na Rússia continua pendente …