sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Luísa Correia – testemunho de uma ex-internacional júnior (Cottbus-1985)

Revelou-se em 1983, na categoria de juvenis, pela Associação Desportiva de Oeiras, ao bater o recorde nacional absoluto nos 3000 metros marcha (15.48,6), juntando a este o recorde nacional de juvenis nos 5000 metros marcha (27.19,7).
De 1983 a 1985 obteve um título nacional e lugares de honra nos Campeonatos Nacionais de Juniores e Absolutos, culminando a meteórica ascensão, representando o Núcleo de Atletismo de Oeiras, com a presença nos Europeus de Juniores de 1985, em Cottbus (RDA).
Infelizmente, nesse ano, viu-se obrigada a abandonar a prática da especialidade, por lesão.
Passados 25 anos, Luísa Correia deixa-nos aqui o seu interessante testemunho.


“Bem cedo nasceu em mim o gosto pelo atletismo, quando na escola participava com agrado em todas as provas de corta-mato que se realizassem.
Só por volta dos meus 14 anos consegui autorização dos meus pais para deixar a natação, que praticava inicialmente por conselho médico, e aí pude então começar a realizar o meu sonho – praticar Atletismo.
Foi na Associação Desportiva de Oeiras, por ser bem perto de casa, que dei os primeiros passos … em corrida, claro.
Participei em variadas corridas e, um belo dia, pediram-me para experimentar algo diferente e que eu achava ser “algo esquisito” – a Marcha Atlética!
Experimentei, gostei e modéstia à parte, tinha algum jeito e, sobretudo, muita técnica para a Marcha.
Mas, um dia alguém me disse que não podia continuar a correr e a marchar e, tive que optar entre duas coisas, uma que já gostava há bastante tempo e uma nova paixão que crescia em mim e, dada talvez a irreverência da idade e não só, optei então pela Marcha.
O percurso que aí fiz, foi de facto bem curto, mas também muito intenso, bem vivido e repleto de boas recordações.
Conquistei boas amizades, aprendi a viver o desporto de uma forma muito positiva, onde apesar da rivalidade natural dentro de cada prova, sobressaía um espírito enorme de entreajuda. O divertimento era mais que muito, antes e depois das provas, e era sobretudo um convívio e uma vivência bem saudável.
De prova em prova, com 3 recordes batidos, algum sofrimento e uma grave anemia, alcancei o ponto mais alto nos Campeonatos Europeus de Juniores, em Cottbus.
Estes Campeonatos foram, no entanto, o fim da minha breve caminhada, já que regressei com os dois joelhos ligados; era o início de um longo calvário. Foi, pois, uma lesão que me forçou a abandonar a Marcha; sem dúvida a maior frustração e um dos maiores desgostos que já tive na vida.
A amargura de ser obrigada a deixar de fazer o que mais gostava, levou-me a andar de médico em médico e hoje em dia, e ao fim de 4 cirurgias e mais 2 programadas para bem breve, ainda sofro na pele essa grave lesão, herança de 3 breves anos de Marcha Atlética.
No entanto, e como para trás só podemos olhar e colher os devidos ensinamentos que a Vida nos vai dando, com a mágoa, a dor, a completa frustração de não poder mais marchar, fica também a memória de 3 anos felizes, em que me realizei por completo, em que fiz o que mais gostei, em que partilhei momentos lindos com pessoas fantásticas que encontrei e ainda hoje guardo comigo, em que apesar de por apenas breves momentos, realizei o sonho de uma vida.
Não sei se o gozo que tive foi ou não maior do que a dor que ainda me persegue e nem sei se não me perseguirá o resto da vida, mas quando olho para trás e me pergunto o porquê e será que valeu a pena, apenas digo: Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”