Foto: Arquivo O Marchador |
É sempre motivo de regozijo encontrar referência a qualquer projecto de promoção da actividade desportiva. Quer se trate de iniciativas vindas do mundo associativo quer sejam originárias da área empresarial desportiva ou ainda de estruturas mistas (por exemplo, «academias» de clubes - que geralmente não são nem academias nem clubes), estes projectos renovam o apelo à prática desportiva e reforçam a oferta de actividade, com ou sem condição de pagamento pelo utilizador.
Assim aconteceu recentemente com o Sporting Clube de Portugal, que pôs a circular um prospecto desdobrável anunciando a criação da Academia de Atletismo SCP, a funcionar na Pista Municipal Mário Moniz Pereira. Aí oferece oportunidade de treino a qualquer jovem, consoante a idade: uma vez por semana para os minis, duas vezes para benjamins e infantis, três vezes para iniciados e quatro vezes para juvenis e juniores.
À condição do pagamento de uma mensalidade de 20 a 30 euros, os interessados podem escolher entre saltos (comprimento, triplo, altura e vara), corridas (barreiras, velocidade, estafetas, meio-fundo e fundo) e lançamentos (peso, dardo, disco e martelo). E acrescenta: «Treinos motivadores, adaptados aos vários escalões etários e respeitando as fases de desenvolvimento da criança e do jovem. Treinadores especializados em jovens.»
Pois é, os treinadores podem ser especializados em jovens, mas parece que nenhum se especializou em marcha. E é pena, porque o respeito pelas «fases de desenvolvimento da criança e do jovem» é incompatível com a sonegação de uma actividade que devia fazer parte de um programa como aquele que a Academia de Atletismo SCP propõe.
Então, numa academia de atletismo, as crianças e os jovens podem aprender todas as especialidades menos uma? Por que razão ficou a marcha de fora? Terá sido lapso do autor do prospecto ou o projecto não contempla mesmo a marcha atlética?
Assim, perde-se uma excelente oportunidade para transmitir uma mensagem completa de variedade do atletismo a todas as crianças e a todos os jovens que adiram à ideia sportinguista.
Mas como pôde alguém no Sporting esquecer-se da marcha quando o clube acaba de recrutar para as suas «fileiras» dois dos mais destacados especialistas mundias da disciplina, João Vieira e Vera Santos? Isto no mesmo Sporting que, em 1988, por via de Hélder Oliveira, foi dos primeiros clubes portugueses a terem marchadores seus a participar nos Jogos Olímpicos, ao mesmo tempo que o Benfica (José Urbano) e depois apenas do Belenenses (José Pinto).
O esquecimento (vamos supor que disso se tratou) não é próprio de um clube com os pergaminhos do Sporting. Nem com a responsabilidade social desta venerada colectividade.
Resta agora esperar que, se alguém se apresentar na academia do Sporting para marchar, não será posto a andar... dali para fora.