«O Jornal Económico» («OJE») apresenta na edição de 7 de Dezembro, na rubrica «maisSaúde», um artigo de Luís Gouveia Andrade, médico, director-geral da InfoCiência, sobre os «Benefícios da marcha na doença de Alzheimer».
Recomenda-se a leitura do texto, bem assim como os comentários que suscitou aos bloguistas de «O Marchador» e que se publica no final.
OJE - 7 Dez.2010 (3.ª feira) |
ESTUDOS recentes sugerem que caminhar cerca de 8 Km por semana ajuda a abrandar a progressão da doença cognitiva observada em doentes idosos já com disfunção cognitiva ligeira no contexto da Doença de Alzheimer.
Mesmo nas pessoas saudáveis e com boa função cognitiva, a realização de actividade física ajuda a travar o declínio cognitivo.
Apenas nos Estados Unidos estima-se que existam 2,4 a 5,1 milhões de pessoas afectadas por Alzheimer com um declínio irreversível e devastador na memória e raciocínio.
Considerando que não existe ainda uma cura para esta doença, é importante procurar formas de aliviar a progressão da doença e dos seus sintomas.
A marcha de 8 Km por semana parece proteger a estrutura cerebral durante 10 anos em doentes com Alzheimer e perturbação cognitiva ligeira, sobretudo nas áreas cerebrais relacionadas com a memória e aprendizagem. Nos adeptos dessa marcha, a perda de memória foi também mais lenta durante cinco anos.
Este estudo envolveu 426 adultos ao longo de 20 anos e os resultados revelaram que, quanto maior o envolvimento em actividade física, maior o volume cerebral, sinal de menor taxa de morte de células cerebrais.
A actividade física tem um efeito protector semelhante nas capacidades cognitivas de adultos saudáveis, embora, para estes, a distância recomendada seja de 9,5 Km por semana.
Considerando que a doença de Alzheimer é uma doença devastadora para a qual não existe cura, saber que medidas simples como esta podem ajudar é uma excelente notícia.
Todos conhecemos os benefícios do exercício físico. Saber que a marcha aumenta a resistência do cérebro a esta doença e reduz a perda de memória ao longo do tempo reforça a importância do exercício físico nas nossas vidas.
E não esqueça: o exercício físico aumenta ainda o fluxo sanguíneo ao cérebro, melhora a função cardíaca, reduz o risco de obesidade, melhora a resistência à insulina, reduz o risco de diabetes e reduz a pressão arterial. E todos estes factores aumentam o risco de doença de Alzheimer.
Importa, naturalmente, não exagerar. Todo o exercício físico deve ser feito de forma moderada e, sobretudo, vigiada.
Um corpo saudável, bem exercitado, em boa forma, contribui de forma decisiva para que possa usufruir de todas as suas capacidades intelectuais.
Mente sã em corpo são. É um lugar-comum. Mas é bem verdade…
Fonte: Reunião da Sociedade Note Americana de Radiologia, 29 Nov. 2010
Prosa notável, já se vê. Bom, mas, na verdade, apetece dizer que todo o artigo é um equívoco. Ou, então, resultou de alguma noite mal dormida do colunista português, que, à falta de melhor para escrever, tratou de reproduzir as tontices alheias sem dar por nada.
Primeiro recomenda-se no artigo que se ande 8 ou 9,5 km por semana, conforme já se tenha a doença ou se seja saudável. Mas quem é que tem o descaramento de propor que se ande estas distâncias em sete dias? Pouco passa de um quilómetro por dia. Lá em casa, uma pessoa vai à casa de banho três ou quatro vezes por dia, mais três ou quatro à cozinha, mais duas ou três à mesa, junta-lhe duas idas ao telefone e mais duas a abrir a porta a quem bateu - ainda não saiu de casa e já despachou quase metade do quilómetro que lhe propuseram para o dia. Se depois for à farmácia, ou à mercearia, ou ao talho, ou ao médico, ou ao clube do bairro, lá fica o resto caminhado. Tudo sem nunca ter ouvido ninguém recomendar que se andasse aquele quilometrozito diário.
Depois, uma notável estimativa: «Apenas nos Estados Unidos estima-se que existam 2,4 a 5,1 milhões de pessoas afectadas por Alzheimer.» Espantoso, tanto rigor! Repare-se que não são 2,4 a 2,5 milhões. Nem sequer 2,4 a 3 milhões. Não! São «2,4 a 5,1 milhões». Ou seja, um intervalo entre um valor e mais do que o seu dobro. Qualquer coisa parecida com dizer que em Portugal há entre 9 milhões e 19 milhões de habitantes. Para quem fez aquela estimativa, se dois milhões e meio de doentes com alzheimer nos EUA não chegarem, junta-se três milhões que não faz mal. Mais milhão menos milhão, talvez dê certo. Que importância tem, quando se trata de doentes, se calhar muito velhos? Aquele país não é para velhos.
Por fim, a referência final à fonte: o artigo foi publicado originalmente pela Sociedade Norte Americana de Radiologia. De radiologia? Nada haverá contra os radiologistas, mas no meio de tanta anormalidade, parece que publicar um estudo sobre alzheimer numa revista de radiologia seja só mais um requinte de humor. Não pode ser outra coisa.
Afinal, que conclusão se pode tirar da leitura de tão douto artigo? Talvez esta: os marchadores portugueses podem ficar descansados, porque, com tanta marcha nos seus treinos, nem aos 200 anos vão ficar doentes. Pelo menos com alzheimer.